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Paulistano que recebe um salário mínimo precisa trabalhar 138 horas para pagar cesta básica

Preços dos 13 itens básicos para alimentar uma pessoa subiu de R$ 465,81 para R$ 692,27, entre 2019 e 2021 

mulheres escolhem alimentos dentro de supermercado

Foto: Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil

14 de dezembro de 2021

A maior cidade do país e centro financeiro do Brasil vive, por conta da alta no preço da cesta básica, um cenário de fome e insegurança alimentar nas periferias, onde está boa parte da sua população negra. A situação está diretamente ligada ao aumento substancial do preço dos alimentos. O valor da cesta básica na cidade aumentou de R$ 465, 81 para R$ 692,27, entre novembro de 2019 e novembro de 2021, uma alta de 35,1%.

No mesmo período, os indicadores oficiais de inflação do Brasil, segundo o Banco Central, tiveram um aumento bem menor: o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 16,1%, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) foi de 17,3%.

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O IPCA mede a variação do custo de vida das famílias com renda de um a 40 salários mínimos. Já o INPC mede a evolução dos preços de vários setores da economia.

Na pesquisa do valor da cesta básica são comparados mensalmente os preços de 13 produtos em quantidade considerada ideal para uma pessoa viver um mês. Os produtos são: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão francês, café em pó, açúcar, óleo e manteiga, que o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) confere todos os meses em diversas cidades do Brasil.

Segundo o Mapa da Desigualdade 2021, da Rede Nossa São Paulo, dos dez bairros paulistanos que mais aparecem com os piores índices de educação, saúde, habitação e mobilidade urbana, sete estão localizados na periferia da cidade: Iguatemi, Parelheiros, Jardim Ângela, Brasilândia, Marsilac, Perus e Lajeado.

“Com o aumento da inflação houve uma priorização nas exportações de commodities, que também fazem parte dos produtos da cesta básica, como açúcar, arroz, café, e feijão. Essa prioridade na exportação dos produtos, fez com que o preço interno deles subisse tanto”, aponta Paulo Henrique Araújo, internacionalista, executivo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e presidente da Fraternidade Segunda Ordem.

Ainda segundo o Mapa da Desigualdade 2021, as periferias da cidade concentram as menores taxas de ofertas de emprego formal. Enquanto a renda média no emprego formal na cidade é de R$ 4.267 por mês. No bairro de Cidade Líder, na zona Leste, é de R$ 1.990, onde 38,8% da população é preta ou parda. No Jardim Ângela, onde 60% da população é negra, a média de renda é de R$ 2.450.

Com uma alta de quase 19 pontos percentuais acima da inflação, a compra de alimentos para o paulistano virou um grande problema no orçamento doméstico. Segundo o Dieese, em novembro de 2019, no final do primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro, era necessário trabalhar 102 horas e 41 minutos por mês para conseguir comprar uma cesta básica para alimentar uma única pessoa, levando em conta o salário mínimo.

Agora que o presidente anunciou o interesse em concorrer à reeleição, na disputa de 2022, o trabalhador que ganha um salário mínimo precisa de 138 horas e 27 minutos para conseguir comprar uma cesta básica. É como se o mês de trabalho tivesse aumentado em quatro dias e meio, só para compensar o aumento do custo dos alimentos básicos.

Em 2020, o Banco de Alimentos da cidade de São Paulo recebeu 2,1 mil toneladas de alimentos doados. No ano anterior, foi 338 toneladas. Por meio dos programas municipais de segurança alimentar, da secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, foram entregues cerca de 46 mil cestas básicas, por conta da doação de empresas do setor privado. A prefeitura também mantém um programa especial de Combate ao Desperdício de Alimentos nas feiras livres da cidade que conseguiu cerca de 160 toneladas de frutas, verduras e legumes, em 2020, que foram repassadas para a população em vulnerabilidade alimentar por meio das ações do Banco de Alimentos.

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