O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinou um financiamento no valor de R$ 10 milhões para o fortalecimento do território da Pequena África, localizada na região central da cidade do Rio de Janeiro.
A região abriga o sítio arqueológico Cais do Valongo, considerado patrimônio cultural mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) desde 2017. O local foi o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas durante o período escravagista, tendo recebido aproximadamente 1 milhão de cativos em 40 anos.
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O contrato foi celebrado por meio da iniciativa “Viva Pequena África”, em parceria com o Ministério da Igualdade Racial (MIR), que selecionou um consórcio para atuar em ações de preservação e valorização da memória e herança africana. Também será desenvolvida uma rede de instituições deste e outros territórios que representem a ancestralidade africana no Brasil, para futuras ações.
O grupo vencedor do edital é formado pela organização não-governamental Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), junto a startup de afroturistmo PretaHub e a Diáspora.Black, empresa que desenvolve atividades voltadas à inclusão de empreendedores negros no mercado.
De acordo com o BNDES, outros R$ 10 milhões serão injetados a partir de captação junto a doadores, somando um total de R$ 20 milhões em investimentos para a área.
O consórcio atuará em cinco eixos, com cerca de R$ 11 milhões para projetos baseados na identidade cultural e criatividade, e R$ 2 milhões para a realização da Mostra Cultural Viva Pequena África e a criação do Selo Viva Pequena África. Outros R$ 500 mil serão destinados à realização do Seminário Internacional Viva Pequena África, que debaterá a valorização, proteção e difusão do patrimônio cultural.
Com um aporte de R$ 548 mil, o quarto eixo focará na sistematização de tecnologias sociais desenvolvidas pela comunidade, criação de memórias e novas narrativas de empoderamento social. Por último, o quinto eixo de trabalho contará com R$ 1,7 milhões para o mapeamento dos territórios de memória afro-brasileira e investimentos em projetos de desenvolvimento local.
Segundo a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, a seleção do consórcio vencedor utilizou requisitos inéditos de equidade racial e envolveu a escuta ativa de instituições e atores já atuantes no local.
“Esse processo foi crucial nas nossas decisões. Em muitas intervenções, mesmo quando voltadas ao resgate histórico e valorização do espaço urbano, o resultado foi a exclusão e a gentrificação, com o encarecimento do custo de vida, expulsão dos antigos moradores e aprofundamento da segregação socioespacial. Exatamente porque não se buscou a participação, o empoderamento dos coletivos ali presentes. Isso é exatamente o que nós queremos evitar”, declarou Campello durante o evento de assinatura do contrato.