Pesquisar
Close this search box.

Ditadura militar: análise das ossadas de Perus termina após 32 anos

Pelo menos 40 desaparecidos políticos teriam sido enterrados no local; alguns corpos apresentam sinais de que foram executados pelo grupo conhecido como 'Esquadrão da Morte'

 

Pessoas fazem passeio turístico no local onde foram achadas as ossadas em Perus

Foto: Imagem I Karen Siqueira

14 de fevereiro de 2022

Após 32 anos, os trabalhos de identificação das ossadas encontradas na vala comum do cemitério Dom Bosco, em Perus, em São Paulo, chegam ao fim em abril. A vala foi descoberta no início de setembro de 1990 e os corpos seriam de pessoas perseguidas pela ditadura militar (1964 a 1985), presos políticos e vítimas da violência policial nas décadas de 70 e 80. Ao todo são 1.049 ossadas.

Desde que foi criado, em 2014, O CAAF (Centro de Antropologia e Arqueologia Forense) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) tem realizado o trabalho de identificação das ossadas, segundo um acordo de cooperação assinado pela Unifesp, o Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos e a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Em junho, o CAAF terá que desocupar a sua sede, que fica no bairro da Vila Mariana, na zona Sul, porque o prédio foi vendido. As famílias dos desaparecidos na ditadura querem uma garantia de que as ossadas sejam levadas para um local adequado e que as análises de identificação sejam retomadas.

“Mas pra além dos presos políticos, nós discutimos o genocídio da juventude preta na época da ditadura e depois também através dessas ossadas. Porque muitos corpos, segundo a análise do CAAF, tem marca de execução de cima para baixo, movimento de defesa, com tiro na mão, o que pode indicar que foram vítimas de ‘esquadrões da morte’, grupos de policiais corruptos que aterrorizavam as periferias”, explica Camila Cardoso, da Agência Queixadas, especializada em turismo periférico e preservação da história do bairro de Perus.

O ex-deputado estadual Adriano Diogo, que foi perseguido, preso e torturado durante o regime militar, alerta para o prejuízo gerado por uma eventual interrupção dos trabalhos do CAAF.

“É o único laboratório no Brasil que faz este tipo de investigação de antropologia forense, tanto relacionado a crimes do passado como também mortes em tempos recentes, inclusive para localizar as pessoas desaparecidas”, pontua o ex-deputado estadual.

Adriano pondera que daqui a alguns anos, o próximo crime de violência do Estado na mira de investigação pode ser a atuação do governo durante a pandemia do Covid-19. “Como teve uma sub-notificação na ordem de 30%, porque as pessoas foram enterradas até sem a ‘causa mortis’, apenas com indicações vagas de moléstia infecciosa ou problemas respiratórios, muitas famílias vão pedir que seja feita a investigação para saber se houve erro no boletim de óbito. Esse tipo de investigação é feito num centro como o CAAF”, esclarece o ex-parlamentar, responsável pelo projeto de lei que determina a investigação das ossadas.

Em resposta à Alma Preta Jornalismo, a prefeitura de São Paulo informou que haverá uma reunião na próxima sexta-feira (18), com todos os representantes das entidades e grupos envolvidos com as investigações das ossadas de Perus, na sede do TRF-3 (Tribunal Regional Federal) para acertar o destino do material. De acordo com a prefeitura, em março deve ser divulgado alguns resultados do relatório dessas investigações forenses nas ossadas.

A Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo informou que o acordo firmado na Justiça Federal prevê ainda a construção de um memorial em homenagem aos mortos pela ditadura. Por sua vez, a Unifesp disse que tem um projeto de construção de um laboratório de Identificação Humana.

Leia Mais

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano