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Planejamento: Ferramenta ancestral e essencial para a população negra

Especialista explica que desde a formação de quilombos, pessoas negras são especialistas em organização e só precisam ter acesso à informação

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Rawpixel/Nappy

planejamento

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— Rawpixel / Nappy

1 de março de 2021

Para estudar, trabalhar, tirar férias ou até mesmo para dar conta das tarefas diárias, ter planejamento e organização pode fazer a diferença entre aspiração e realização. Elaborar um plano, estabelecer etapas e estratégias para alcançar determinados resultados pode parecer complicado para quem tem poucos recursos e muitos problemas, mas não é bem assim. É o que explica Rebeca Rosa, que ensina pessoas negras a fazer planejamento pessoal e organização.

“Sabemos que por causa de milhões de questões raciais, históricas e políticas as famílias pretas constantemente vivem em precariedade financeira, por isso cria-se a imagem falsa de que ter uma vida organizada não cabe a nós, mas se lermos nossa história veremos que isso é uma grande mentira. Na verdade, historicamente, nós somos um povo muito bem organizado e articulado. A diáspora interrompeu esse processo e cabe a nós reconstruí-lo”, afirma Rebeca.

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Nas redes sociais, a profissional fala que para fazer um planejamento, ao contrário do que se possa pensar, não é preciso ter grandes recursos e equipamentos, basta um papel, um lápis e ter vontade. Ela indica usar alguma ferramenta para se lembrar todos os dias que só você pode bater suas próprias metas. Além disso, planejamento é também autoconhecimento e “uma maneira de gerenciar tudo que você tem para fazer e o que você sonha em ter/ser da maneira mais leve possível”.

Rebeca recebeu dos pais a preocupação com horários e organização. No ensino médio ela percebeu o estranhamento dos colegas, pois conseguia fazer as atividades, tirar boas notas e ter vida social. “Sendo que dentro de casa esse é era o ‘normal’, eu e minha irmã gêmea sempre fomos disciplinadas a sermos organizadas com nossos horários e deveres. Essa contradição começou a me deixar intrigada e fez com eu começasse a pesquisar livros, artigos e cursos sobre o tema”, relata.

Em 2019 ela começou a produzir conteúdo a respeito de organização estudantil, como hobbie, e em 2020 passou a enxergar o planejamento pessoal como um possível trabalho remunerado. Em agosto, lançou o primeiro e-book “Manual de como ser uma deusa organizada”, e no fim do ano começou a ministrar consultoria e mentoria de organização pessoal, mesma época em que lançou o workshop ”Planeje seu ano”, que já teve duas turmas.

A mudança do hobbie para trabalho acompanhou uma tendência: o crescimento nos números de perfis de pessoas que buscam se organizar e também que oferecem os serviços, nas redes sociais. No entanto, pouco parecem contemplar a realidade de pessoas negras do Brasil, por isso a intenção de Rebeca é se voltar para esse público, reforçando que organização é uma ferramenta ancestral e essencial para ascender individualmente e enquanto povo.

“Infelizmente vivemos em uma sociedade em que a lógica do capital e do racismo nos atravessa em absolutamente tudo e o universo da organização não poderia ficar de fora. Não existem livros famosos de pessoas negras falando sobre organização ou planejamento pessoal. Não existem perfis grandes de pessoas negras falando sobre organização pessoal. Não existem grandes referências negras no universo da organização pessoal. E isso faz com que mais uma vez as pessoas pretas se sintam excluídas desse mundo. É como se organizar-se fosse um privilégio apenas de quem é branco e tem dinheiro. Então, automaticamente nosso povo muitas vezes nem cogita se organizar”, explica.

Outra ideia errada que ela busca desfazer é a de que não é necessário voltar todo o seu tempo para o trabalho e estudo. É preciso buscar tempo para autocuidado, para descanso, ainda mais em tempos de pandemia, mas todas essas informações precisam ser acessíveis. “Como historiadora em formação eu sempre reforço que organização é uma ferramenta ancestral usada pelos nossos há séculos. Um exemplo disso é a formação dos quilombos no território brasileiro desde 1590, como meio de promover a libertação dos africanos escravizados. Organização é coisa de gente preta. Só precisamos ter acesso a informação para conseguirmos usá-la”, pontua Rebeca.

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