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População negra vai precisar de políticas públicas e oportunidades de trabalho para superar pandemia

Educação financeira e aprimoramento profissional são medidas que auxiliam na recuperação econômica causada pelo desemprego, mas não serão o bastante caso a desigualdade social se perpetue

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução/Depositphotos

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12 de julho de 2021

“O Brasil pós-pandemia para a população negra e periférica deve contornar três frentes: a educação, que escancarou a desigualdade no ensino híbrido; a saúde, que inclui além de condições de bem viver pessoal, a situação do ambiente que a população negra reside; e o trabalho, que garante o sustento das famílias mais pobres”, é o que afirma o professor e Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Thiago Amparo, que oferece o curso “O Valor da Inclusão” gratuitamente.

Além disso, o campo do trabalho, de acordo com o professor, é o que mais demanda atenção no momento e é o que vai determinar as condições de vida digna para a população de menor renda fora de um contexto pandêmico. Segundo ele, um dos aspectos que pode auxiliar em um futuro pós-pandemia é a adoção de políticas antirracistas nas empresas, com a participação dos colaboradores negros de maneira ativa no debate.

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“A pandemia não pode ser desculpa para não discutir o racismo e é essencial que as empresas reconheçam as desigualdades e se mostrem aptas para flexibilizar os esquemas de trabalho pensando no recorte racial, de gênero e social”, avalia o especialista.

Amparo salienta ainda que a dificuldade de mães solo – que representam 11,5 milhões de brasileiras de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – foi maior ao terem que conciliar a dupla jornada de trabalho. O professor destaca que flexibilizar o home office para essas mulheres é essencial para que haja igualdade racial, já 61% dessas mães são negras, segundo o instituto.

Negros são mais impactados

Vítima do trabalho informal, a população negra é a que mais sofre o impacto da pandemia quando observado o âmbito do trabalho, segundo o Mestre em Economia da PUC, Marcos Henrique do Espírito Santo.

“Durante os três mandatos petistas [Lula e Dilma] foi possível observar o aumento da formalidade do trabalho para essa população, bem como o aumento no valor do salário mínimo. Daí veio o golpe, em 2016, e de lá para cá, esse grupo voltou à informalidade no mercado de trabalho e às dificuldades de organização financeira”, destaca o economista.

Para Marcos Henrique, medidas de educação financeira, bem como inclusão no mercado de trabalho, são alternativas para uma melhor colocação da população mais pobre em um mundo pós-pandemia. O economista ressalta que saber gastar o dinheiro e aplicá-lo – não em investimentos, como acontece com os mais ricos, mas em compras inteligentes – é uma forma de garantir a sobrevivência das pessoas de baixa renda.

Ainda de acordo com o economista, as projeções econômicas para esse grupo em um contexto pós-pandemia não são favoráveis, devido às ações do governo federal voltadas ao benefício de quem tem mais. “Dada essa agenda radical do neoliberalismo, as condições de vida dessa população tendem a se deteriorar cada vez mais, principalmente no que diz respeito à precarização dos serviços públicos”, salienta.

Perspectivas de futuro 

Thiago Amparo destaca que a contratação de funcionários negros para posições de destaque no mundo corporativo pode atenuar as desigualdades no campo do trabalho em um Brasil pós-pandemia. Além disso, o especialista pondera que faltam políticas públicas para essas pessoas, o que dificulta mais o acesso à fontes de aprimoramento profissional.

“Pensar no que pode garantir renda e emprego para a população mais pobre é investir em políticas públicas, redes solidárias, recursos básicos e renda compatível. Para quem já tem emprego, a sugestão é que fortaleça a rede de contatos e discuta a desigualdade no ambiente de trabalho. Infelizmente, investir em educação é difícil, apesar de extremamente necessário, mas não há recursos para além da sobrevivência atuamente”, avalia o professor.

Amparo salienta que o investimento em educação e aprimoramento profissional deve ser uma prioridade para que aqueles que possuem dificuldades financeiras possam obter destaque no mercado de trabalho. O professor ministra o curso “Muito além das cotas: a diversidade como estratégia para inovação”, voltado a quem busca compreender aspectos do racismo estrutural e deseja aplicar ações afirmativas para mudança social.

Já o economista Marcos Henrique finaliza reforçando a educação financeira enquanto ferramenta de transformação e sobrevivência desta parcela dos brasileiros. Ele recomenda que a população de baixa renda pense e invista em cursos de economia e finanças voltados justamente para o recorte social, até para entender como o racismo estrutural opera nesse âmbito e perceber o quanto a economia atual não é democrática.

“Você vai ouvir dos neoliberais que os pobres não sabem usar o dinheiro, mas ninguém leva em consideração que às vezes esse grupo não tem nem esgoto tratado, quanto mais alguém que o ensine. Infelizmente, o desemprego vai persistir, pois é a última variável a ser modificada em uma crise”, conclui.

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