Mais de 250 metros quadrados de vegetação em torno da lagoa de Abaeté já tinham sido destruídos pelo governo baiano, sem licença prévia
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Coletivo AbatéViva
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Um abaixo-assinado com mais de 10 mil assinaturas e um protesto dos povos de terreiros da Bahia conseguiram interromper uma obra realizada sem licença nas margens da Lagoa de Abaeté, em Itapuã, bairro de Salvador. O governo estadual desmatou uma área de 250 metros quadrados considerada como sagrada para as religiões de matriz africana. A localidade é um tradicional ponto turístico e histórico baiano.
Moradores do bairro e as principais lideranças dos terreiros no entorno da lagoa fizeram uma mobilização pela internet, um ato público no começo de junho e um abaixo-assinado que pedia a mudança do local de uma obra de saneamento básico.
“Não somos contra o progresso. Achamos importante a construção da plataforma elevatória de esgoto, porém não precisa ser tão próxima da lagoa e nem em nosso território sagrado”, diz a yalorixá mãe Jaciara, do Ilê Abassa Ogum.
No dia 5 de junho, uma inspeção da Secretaria Municipal de Urbanismo de Salvador interditou a obra por falta de licença para construção. O local desmatado está dentro de uma Área de Proteção Permanente (APP) e a empresa contratada pelo governo estadual para a obra foi multada.
“Não sabemos ainda se a obra será retomada. Isso nos preocupa bastante. O que queremos é a reparação da área destruída”, afirma Flávio Magalhães, do Ilê Abassa de Ogum e um dos organizadores da campanha #abaeteviva.
A lagoa do Abaeté é um patrimônio ambiental da região. Estudantes de escolas públicas de Itapuã têm aulas de preservação ambiental e sobre biodiversidade na lagoa. “É um patrimônio civilizatório milenar dos povos indígenas da região e dos povos africanos. Desenvolvi muitos trabalhos de educação inspirados na lagoa e ela é muito importante para as nossas gerações futuras”, recorda a educadora Nacimaria Luz.
O local também é conhecido pela prática de diversidade religiosa. Na lagoa acontecem rituais e cerimônias de batismo de grupos evangélicos, de umbanda e do candomblé.
O Alma Preta procurou a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e questionou sobre as licenças ambientais e de construção na lagoa do Abaeté. A reportagem também perguntou sobre a interdição da obra iniciada em área de proteção permanente (APP). Até a publicação deste texto, o órgão não respondeu à reportagem.