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Povos de terreiro sofrem com invisibilidade durante calamidade no RS

Presidente do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul (CPTERGS) relata que cerca de 650 terreiros foram diretamente afetados pelas chuvas
A foto mostra pessoas em uma cerimônia de Candomblé.

Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

31 de maio de 2024

O Rio Grande do Sul é o estado com a maior concentração de terreiros de religiões afro no Brasil. Um levantamento do Ministério da Igualdade Racial (MIR) aponta que aproximadamente 1,3 mil comunidades tradicionais de matriz africana e de terreiro estão localizadas na região.

Apesar dos povos de terreiro apresentarem uma densa comunidade no estado, essa população tem enfrentado fortes desafios para se reerguer depois das enchentes que atingiram os municípios gaúchos. Um mapeamento realizado pelo Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul (CPTERGS) indica que cerca de 650 terreiros tiveram perdas totais. O levantamento é superficial, o que abre a possibilidade de mais pessoas estarem nessas condições.

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O babalorixá Diba de Iyemonja, presidente do conselho e coordenador nacional da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras, explica que a maioria dos terreiros está nas regiões periféricas de Porto Alegre e na região metropolitana do estado, áreas que foram severamente afetadas. “Nestes bairros não se dorme sem ouvir, lá no fundo, o som dos nossos tambores”, comenta, em entrevista à Alma Preta.

O nível de água ainda não diminuiu totalmente nos locais afetados, situação que tem piorado com as recentes chuvas. Segundo o babalorixá, falta água, luz e certezas sobre políticas de reconstrução.

Ele conta que a organização interna tem sido a principal rede de apoio para as pessoas dessas comunidades. Demandas como agasalhos, água potável, roupas de cama, colchões e materiais de higiene só foram possibilitadas através da mobilização social e do apoio de mandatos populares de deputados.

“Nosso povo de terreiro e povo preto está enfrentando dificuldades de acessar alimentos e agasalhos nos abrigos, por estes serem de outras denominações religiosas e fundamentalistas”, explica o líder religioso.

De acordo com o sacerdote, o único suporte governamental foi o acesso a cestas básicas, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). “Continuamos na invisibilidade e subterraneidade política e social como sempre estivemos, embora nossa resistência seja vanguarda para o Brasil”.

O governo federal chegou a criar um comitê de crise para lidar com a situação, mas nem o conselho, nem representantes da sociedade civil foram chamados para compor as discussões. O levantamento dos terreiros atingidos pelas enchentes foi realizado pelo próprio CPTERGS. 

Mesmo diante dos persistentes efeitos das chuvas e do esquecimento do poder público, os terreiros têm servido como espaços de acolhimento para os desabrigados, além de cozinhas solidárias e ponto de coletas de doações.

“Somos povo de luta, que luta! Por sermos minoria precisamos ser fortes para os enfrentamentos, e esta força vem de nossa ancestralidade que nos nutre e alimenta. Seguiremos tentando, pois quem tem Ori, não abaixa a cabeça”, finaliza o babalorixá.

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  • Verônica Serpa

    Graduanda de Jornalismo pela UNESP e caiçara do litoral norte de SP. Acredito na comunicação como forma de emancipação para populações tradicionais e marginalizadas. Apaixonada por fotografia, gastronomia e hip-hop.

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