O reggae transcende a definição de um gênero musical e se consolida como um levante de crítica social contra o racismo, preconceito, além de também promover a liberdade, o respeito e a valorização cultural da população negra. No Brasil, o dia do Reggae já é comemorado nacionalmente no dia 11 de maio, data que marca a morte de um dos maiores ícones do gênero, Bob Marley. Agora, um projeto de lei pretende formalizar essa mesma data para ser comemorada no território da Bahia.
De autoria do deputado Ubirajara da Silva, conhecido como Bira Corôa (PT), o projeto estadual busca “ressaltar os valores culturais, artísticos e musicais da maioria da população baiana, a população negra, que tem no Reggae seu grito contra a opressão”, destaca o parlamentar.
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O cenário musical do ritmo na Bahia, inclusive, teve difusão a partir dos anos 80, lançando importantes nomes como o de Edson Gomes, considerado uma das principais vozes da ‘reggae music’ baiana e que é reverenciado em todo país. Nas canções, o artista protesta contra as opressões sofridas pelo povo negro e faz denúncias contra a Babilônia, ou seja, o sistema capitalista marcado pelas desigualdades sociais e raciais. Ainda hoje, as letras políticas de Edson Gomes atravessam gerações e reverberam a imagem de um Brasil que rejeita a identidade negra no país. “Somos alvo da incoerência / Vítimas da prepotência / Dos racistas, dos racistas, dos racistas / Quero meu direito de crescer na vida, quero sim / Quero meu direito de vencer na vida”, canta Edson Gomes em “Meus Direitos” (1995)
Apesar da amplitude de Edson Gomes, ainda hoje, o artista tem participações pontuais nos roteiros de eventos culturais da Bahia. A principal proposta do projeto, que vem sendo discutido desde 2015 com associações culturais do ritmo na Bahia, é fortalecer o gênero e pautar políticas de participação no cenário musical da Bahia. No entanto, artistas locais ainda lutam para que o reggae seja reconhecido como um ritmo influente na Bahia, assim como é o axé music.
Cantor de reggae há 15 anos e cria da região do Subúrbio de Salvador, Mavi (@mavioriginal), como é conhecido, acredita que a ampliação do ritmo colabora para fomentar tantos artistas e produtores invisibilizados dentro desse cenário musical.
“Propor que a música reggae seja esse símbolo baiano é algo indispensável porque a gente precisa avançar nesse sentido de que a música reggae, por ser tão importante para a cultura baiana, deve ser mais difundido no sentido de estar nas escolas, em mais shows, em praças públicas, em investimento em produção artística, produção de CD, de audiovisual, que pode fortalecer toda uma cadeia e gerar um mercado que tem inúmeros profissionais que vivem disso e precisam desse fortalecimento”, pontua Mavi.
A falta de visibilidade do gênero musical também é criticada pelos artistas, que veem o racismo como principal vetor da falta de valorização do nicho, como ressalta Victor, vocalista da banda soteropolitana Mukambu (@mukambuoficial) e mais conhecido como Texugo.
“Na verdade, toda e qualquer expressão cultural de origem preta passa por esse processo. O mais revoltante é que, se falando de Salvador, já deveria ser a meca do reggae fora da Jamaica pelo tanto que foi produzido e fomentado nas décadas de 80 e 90, juntamente com as ascensões dos blocos afros. Entretanto, passou por momento de invisibilidade e restrições. Todo o centro da cidade vibrava música reggae, todo o Pelourinho cantava reggae, toda manifestação de cunho social tinha o reggae como trilha sonora”, afirma.
Como alternativa, Texugo pontua algumas ações que podem colaborar no cenário do reggae local, como: criação de Centros de estudo (formação acadêmica e griô da história do reggae no estado); Museu do reggae (estruturas físicas que trazem símbolos e história para registrar o legado do gênero); Circuito turístico dos tradicionais “Bar do Reggae”, muito comuns em comunidade diversas; Fomento da musicalidade nos diversos pontos culturais; e mais festivais de música reggae.
“São iniciativas que fortalecem o nosso segmento. A lei será um marco que pode fortalecer toda cadeia produtiva com eventos, ações pontuais, podendo levar a cultura reggae para as escolas”, completa Mavi.