Símbolo da luta antirracista, colocado em aproximadamente 30 semáforos de pedestres da capital paulista como ação da Consciência Negra, já foi usado em ocasiões como as Olímpiadas do México, em 1968
Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Divulgação
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No mês de novembro, em que é comemorada a Consciência Negra, cerca de 30 semáforos de pedestres da cidade de São Paulo ganharam símbolos de punhos cerrados, que lembram a luta antirracista. Na última semana, a instalação ganhou repercussão após ser alvo de críticas do candidato a prefeito Celso Russomanno (Republicanos).
O punho cerrado foi usado em diferentes momentos históricos, como nas Olimpíadas do México de 1968, quando Tommie Smith e John Carlos, atletas negros, protestaram silenciosamente no pódio contra a discriminação racial, no auge da luta pelos direitos civis nos Estados UInidos. O símbolo também já foi usado em movimentos na Nigéria e no Black Lives Matter, nos EUA, onde foi símbolo do Panteras Negras, partido revolucionário fundado por Bobby Seale e Huey Newton em outubro de 1966.
A capital paulista já teve semáforos com símbolos como Adoniran Barbosa, no Bixiga; Theatro Municipal, no centro; Masp, na Paulista; e luminárias horientais, na Liberdade. Os semáforos com punho cerrado foram instalados na Liberdade, onde o apagamento histórico fez com que o bairro ficasse conhecido apenas como japonês, apesar de ter nascido como negro; na Praça da República, onde há concentração de novos migrantes africanos; e na Avenida Paulista, a mais importante da cidade.
A iniciativa foi liderada por profissionais negros da Secretaria Municipal de Cultura, chefiada pelo coordenador geral da Jornada do Patrimônio, Higor Advenssude, e deveria ter feito parte da ação “Vozes contra o racismo”, que contou com projeções em monumentos e grafites que contavam a história de personagens negros da cidade. “Foi um desdobramento dessa ação e é importante marcar visualmente a cidade com esses símbolos antirracistas”, destaca o coordenador.
A ação foi criticada por Russomanno, que apontou em suas redes sociais que se tratava de vandalismo. Depois, o candidato tentou se justificar e disse que não havia entendido que era uma ação em homenagem à consciência negra. “Eu fui criado por uma mãe de leite negra. Eu sou uma pessoa que não vejo diferença entre os negros e os brancos. Tenho grandes amigos que são negros. E tive namorada, inclusive. Eu não tenho problema nenhum com isso. Agora, a prefeitura é que não pode fazer uma campanha e não dizer para população o que é que ela está fazendo e colocar o punho cerrado nos semáforos, o que contraria inclusive a legislação de trânsito, eles vão responder inclusive por crime de improbidade”, afirmou Russommanno, na semana passada.
Apesar de a Prefeitura de São Paulo já adotar estilização em outros locais e o mesmo também ocorrer em cidades como Belo Horizonte e Curitiba, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) afirma que a personalização não conta com “nenhum respaldo na legislação de trânsito vigente”. O órgão vinculado ao governo federal acrescenta que o uso de sinalização “experimental” teria de ser autorizado previamente pelo Conselho Nacional de Trânsito, o Contran.