Comunidades quilombolas da região tocantina do Pará sofrem com interrupções constantes no fornecimento de energia elétrica por parte da empresa Equatorial Energia. Os moradores de comunidades como Baixinha, Porto Grande, Mangabeira, Uxizal e Nova América relatam que a baixa qualidade do serviço provoca a queima de eletrodomésticos, gera prejuízos para comerciantes e compromete o funcionamento de escolas e unidades de saúde.
Representados pela Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará, a Malungu, os quilombolas organizaram uma audiência pública na segunda-feira (25) na comunidade de França, localizada na cidade de Oeiras do Pará, às margens do Rio Tocantins, para debater soluções para os problemas.
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O encontro foi marcado pela ausência de representantes da empresa e de órgãos públicos, mesmo após o envio de inúmeros convites e ofícios. Diante do descaso, os quilombolas afirmam que vão intensificar suas mobilizações para exigir respeito e melhorias concretas no serviço, considerado essencial para a qualidade de vida e o desenvolvimento local.
Segundo os líderes comunitários, a precariedade dos transformadores e a falta de manutenção nas linhas de transmissão que atravessam o Rio Tocantins agravam ainda mais o problema. Embora haja uma subestação de energia no território do quilombo de Igarapé Preto, que abastece outras regiões com qualidade, os quilombolas continuam sofrendo com serviços deficientes e tarifas elevadas.
Reivindicações das comunidades
Os moradores reivindicam que a Equatorial Energia tome medidas urgentes para garantir um fornecimento de energia adequado e seguro. Entre as principais demandas estão a construção de uma subestação específica para atender as comunidades quilombolas ou a adaptação da já existente no quilombo de Igarapé Preto.
Também foi exigido a substituição de transformadores obsoletos por equipamentos mais potentes e a realização de manutenções preventivas e corretivas nas redes de energia dos ramais e do linhão que atravessa o Rio Tocantins. Outra solicitação é o rebaixamento de energia dentro dos territórios quilombolas, assegurando o acesso pleno à chamada energia pública.
Negligência da companhia elétrica impacta cotidiano da população
O descaso no atendimento tem causado impactos graves na vida das populações quilombolas, incluindo tragédias. Na localidade de Baixinha, falhas no retorno de energia já resultaram em acidentes fatais. Além disso, prejuízos financeiros frequentes afetam comerciantes e comprometem a segurança de equipamentos em escolas e unidades básicas de saúde.
Os quilombolas destacam que a negligência no fornecimento de energia viola direitos fundamentais garantidos pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que prevê o acesso digno a serviços essenciais para comunidades tradicionais.
Líderes comunitários, como Luzia Mendes Ferreira, Rui do Espírito Santo e Clodoaldo da Silva Costa destacaram que as comunidades não vão aceitar mais pagar altos valores por um serviço de baixa qualidade, que compromete o cotidiano e coloca vidas em risco. Segundo eles, é urgente que o Estado e a Equatorial Energia cumpram suas obrigações para com as comunidades quilombolas.
Procurada pela Alma Preta, a Equatorial Energia afirmou que encaminhou na quarta-feira (27) uma equipe até a comunidade de França, em Cametá, para conversar com líderes comunitários de diversas localidades da região do Baixo-Tocantins, com o intuito de entender e acolher as demandas dos representantes.
“A distribuidora fez um levantamento das solicitações, além de realizar a verificação técnica para viabilidade dos serviços, a fim de garantir que os pedidos relacionados às comunidades de Porto Grande, Mangabeira, Baixinha, Uxizal e Nova América sejam atendidos no menor tempo possível”, disse, em comunicado à reportagem.