O assistente de serviços gerais Tulio de Jesus Silva, 24 anos, está preso desde o dia 18 de agosto de 2021, na carceragem da delegacia de Pintadas, no interior da Bahia. O rapaz é acusado de ter assassinado, com um cúmplice, a gerente de um bordel, mas sua família faz uma campanha há nove meses para denunciar uma série de irregularidades no caso.
Na noite de uma terça-feira, dia 17 de agosto, a vítima, conhecida como Morena, foi morta a tiros por duas pessoas que chegaram a pé até bordel chamado Beira Rio. Os suspeitos estavam com os rostos descobertos e mandaram os clientes e as funcionárias entregarem celulares e dinheiro, atiraram na gerente do bordel e depois fugiram a pé.
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Para a polícia, as testemunhas não conseguiram dar detalhes sobre as características dos suspeitos, indicaram apenas que um seria branco, usando um brinco e ou outro “moreno” mais velho.
No dia e horário do crime, Tulio estaria em outro bairro da cidade, segundo filmagens de câmeras de segurança de uma loja. No momento próximo o crime, o rapaz estaria indo em direção à sua casa, depois de ter encontrado com a namorada em uma praça. A imagem mostra Tulio sozinho e com roupas que não batem com a descrição dos suspeitos. Ele teria jantado com a mãe, o padastro e os irmãos
Tulio, segundo a família, ficou em casa o tempo todo até ser preso na manhã seguinte pela polícia, por volta das 10h.
Os policiais militares algemaram o jovem e o levaram até a delegacia. Antes disso, as testemunhas foram apresentadas a várias fotos dele que tinham sido retiradas das redes sociais. Na delegacia, ele foi apresentado como único suspeito e as testemunhas viram ele chegando algemado. Todas as funcionárias do bordel são de outras cidades da região e algumas estavam lá há menos de uma semana.
Tulio afirma que era perseguido pela polícia e que já tinha sido abordado várias vezes. Em uma dessas abordagens, ele teria sido levado para a delegacia sob suspeita de tráfico de drogas, mas o delegado o liberou. Por conta dessa perseguição e a falta de emprego, o rapaz tinha planos de se mudar para Feira de Santana.
Tulio estava em casa na hora do crime (Imagem: arquivo da família)
Por e-mail, os familiares de Tulio relataram que ele tinha ido ao bordel no domingo anterior ao crime para comprar cigarro, mas que não tinha nenhuma relação ou conflito com a gerente do local. O rapaz também já tinha feito programa com algumas das garotas da casa, quando a namorada dele não estava na cidade. No entanto, nenhuma das testemunhas trabalhavam na casa naquela época.
A reportagem procurou o governo da Bahia e a Secretaria de Segurança Pública do Estado para saber os procedimentos da prisão e da acusação feita contra Tulio. Também foram feitas perguntas sobre os pontos contraditórios que os familiares apontam. Não houve resposta para os questionamentos até a conclusão da matéria.
O Tribunal de Justiça da Bahia negou o pedido de habeas corpus feito pela Defensoria Pública para que o rapaz ficasse em liberdade durante a tramitação do processo.
“Não é admissível, em um Estado Democrático de Direito, a aplicação do famigerado princípio do in dubio pro societate, o qual submete o acusado ao constrangimento de um julgamento pelo Tribunal do Júri com base em mera dúvida. Nota-se que tal princípio se contradiz em seus próprios termos, uma vez que a sociedade não se beneficia quando uma pessoa é levada a julgamento sem provas”, diz um trecho das alegações finais do processo, feitas pelo defensor público Bruno Botelho de Souza Aguiar, da 2ª Defensoria Pública da comarca de Ipirá.
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