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Relembre personalidades negras que partiram em 2021

Ano foi marcado pelo falecimento de figuras  negras importantes nas artes, na política e na luta antirracista

Imagem mostra personalidades negras que morreram em 2021.

Foto: Imagem: Reprodução/Redes sociais

28 de dezembro de 2021

Ao longo de 2021 faleceram diversas personalidades negras de grande relevância para a história da diáspora africana e dos afrodescendentes.  Para as religiões de matriz africana a morte é uma passagem da alma para um plano onde se fortalece a conexão com a ancestralidade. A ausência das pessoas queridas e admiradas traz tristeza, no entanto, o legado deixado por elas é uma contribuição importante para as gerações futuras.

“A morte é o único rito de passagem certo para todas as pessoas. Afim de um futuro certo ancestral firmamos nosso legado no Ayé (terra) para que sejamos lembrados por nossos feitos ao voltarmos para o Òòrùn”, diz a ialorixá Omilade, do terreiro Ègbé N’la Yemoja, da Zona Sul de São Paulo.

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A Alma Preta Jornalismo fez um levantamento das personalidades negras que faleceram em 2021. Relembre:

 Janeiro

No dia 7 de janeiro morreu o cantor Genival Lacerda, aos 89 anos. Ele ficou famoso pelos discos de forró e letras de duplo sentido. Nasceu na Paraíba em 1931 e se mudou para Recife, em Pernambuco, em 1956. O primeiro grande sucesso nacional foi “Severina Xique-Xique”, de 1975, que apesar da censura do regime militar teve a letra liberada mesmo com o verso “ele tá de olho é na butique dela”. Durante sete décadas de carreira, gravou 220 músicas em 70 álbuns e foi concunhado de Jackson do Pandeiro.

No mesmo dia morreu também a atriz Marion Ramsey, aaos 73 anos. Entre 1984 e 1989 interpretou a policial Laverne Hooks nos seis filmes da franquia “Loucademia de Polícia”. Os filmes foram um grande sucesso de público e marcaram uma nova era na comédia besteirol americana. Antes da comédia, Marion foi atriz na Broadway, em Nova Iorque, e atuou na peça “Eubie!”, em 1978.

marion 1Marion Ramsey | Foto: Divulgação

O ator Deezer D morreu em 8 de janeiro, aos 55 anos. Ele se chamava Dearon Thompson e interpretou o personagem Malik McGrath, um dos enfermeiros da série “Plantão Médico”. Entre 1994 e 2009, o ator participou de mais de 200 episódios da série. Deezer D. nasceu em Los Angeles, na Califórnia, e tambem foi rapper. Ele gravou os álbuns: “Delayed, But Not Denied” (2008) e “Livin’ Up in a Down World” (1997).

Ademar Furtacor, cantor e tecladista, morreu no dia 11 de janeiro, aos 62 anos. Foi líder da banda baiana de axé music Furtacor com quem gravou os sucessos: “Frenezi”,  “Negra Dourada”, “Demônio Colorido”. “Sol”, “Ilha”, “Estupidez Primata” e “Eu Amo Amar Você” . Nos anos de 1980, Ademar foi um dos compositores populares e arranjador de maior sucesso do Carnaval de Salvador.

Em 28 de janeiro, a atriz Cecily Tyson morreu aos 96 anos. Nasceu nos EUA e foi modelo e atriz. Sua carreira no cinema e no teatro foi marcada por interpretações de mulheres negras fortes como: Harriet Tubman, Coretta Scott King e Miss Jane Pittman. Em 2019, ganhou um Oscar honorário em celebração à sua obra. Ao lado da atriz Viola Davis, ela atuou na série “How to get away with murder”. Cecile Tyson esteve no elenco dos filmes “Lágrimas de Esperança” (1972), “Histórias cruzadas” (2011) e “A melhor escolha” (2017).

Fevereiro

O ativista e cantor Rafael Dias morreu em 9 de fevereiro, aos 36 anos. Ele nasceu no bairro Alto Vera Cruz, na zona Leste e Belo Horizonte, Minas Gerais, e era voluntário em uma ONG no bairro, que frequentou quando era criança para aprender capoeira e música. Em 2014, o cantor participou do projeto “Playing For Change”, que reuniu músicos de vários continentes, e em 2015 participou do programa “The Voice Brasil”, onde se destacou.

Março

Março começou com a morte do músico Bunny Wailer, no dia 2, aos 73 anos. Foi fundador do grupo The Wailers, com Peter Tosh e Bob Marley, em 1963. Era amigo de infância do Bob Marley, na Jamaica, e contribuiu para a popularização mundial do reggae. Bunny começou a carreira solo em 1976 e ganhou o Grammy de melhor álbum de reggae três vezes nos anos 1990, com “Time Will Tell: A Tribute to Bob Marley” (1991), “Crucial! Roots Classics” (1995) e “Hall of Fame: A Tribute to Bob Marley’s 50th Anniversary” (1997).

O jogador de futebol Gilmar Fubá morreu em 15 de março, aos 45 anos. Gilmar jogou como volante no Corinthians entre 1996 e 2000, atuando em 131 partidas, e foi campeão mundial pelo clube em 2000. Nascido na zona leste de São Paulo, depois do Corinthians ele jogou na Alemanha e na Coreia do Sul. O apelido Fubá é porquê sua família era muito pobre e as crianças eram alimentadas com mingau de fubá.

O ator Edson Montenegro morreu no dia 20 de março, aos 63 anos. Formado em Artes Cênicas pela Escola de Arte Dramática, o Eca da USP, participou de produções como a minissérie e a adaptação teatral de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, as novelas “Cúmplices de um Resgate”, “Apocalipse”, “Antonio Alves Taxista” e “Xica da Silva”. No cinema, ele interpretou o papel do pai do personagem Buscapé, protagonista do filme “Cidade de Deus”, em 2002, dirigido por Fernando Meirelles e pela Katia Lund.

Já o também ator João Acaibe morreu no dia 31 de março, aos 76 anos. Ele começou a carreira como locutor. Nos anos de 1970 e 1980 foi protagonista nas peças “Barrela” e “Jesus Homem”, do dramaturgo Plínio Marcos. Acaiabe atuou em novelas, filmes e programas infantis. No “Bambalalão”, da TV Cultura, ficou conhecido por contar histórias para crianças. Em 1986, estrelou o curta-metragem “O dia em que Dorival encarou a guarda”, dirigido por Jorge Furtado e José Pedro Goulart, que lhe rendeu o prêmio de melhor ator e o Kikito, prêmio máximo do Festival de Gramado. Fez mais de 20 filmes, com destaque para “Eles Não Usam Black-tie” (1981) e “Casa de Areia” (2005).

joao acaiabe 4João Acaiabe | Foto: Reprodução

Abril

Um dos maiores cantores do Brasil, Agnaldo Timóteo morreu no dia 3 de abril no Rio de Janeiro, aos 84 anos. Ficou famoso pelos discos de canções românticas. Começou a carreira nos anos de 1960, foi vereador em São Paulo e no Rio de Janeiro, também foi deputado federal por São Paulo. Em 2017 foi lançado o filme “Eu, pecador”, do diretor Nelson Hoineff, sobre sua vida, obra, amores, decepções e glórias.

Dias depois, Ismael Ivo, bailarino e coreógrafo, morreu em 8 de abril, aos 66 anos. Ismael nasceu na zona Leste de São Paulo e em 1983 iniciou a carreira internacional. Foram mais de 30 anos na Europa e nos EUA. Em 2017, assumiu a direção do Balé da Cidade de São Paulo. Ele foi fundador do festival de dança contemporânea ImPulsTanz, em Viena. Ismael foi condecorado com a Ordem do Mérito Cultural, em 2010.

O rapper DMX morreu em 9 de abril, nos EUA, aos 55 anos. DMX foi um dos nomes mais importantes da geração de rappers dos anos 90 e influenciou diversos artistas. Também ficou conhecido por colaborar com Jay-Z e LL Cool J. O rapper escrevia letras sobre violência e denúncias de racismo. Seus maiores sucessos foram: “Get me a dog” (1998), “Party Up (Up in Here)” (2000) e “Money, Power & Respect”, com The Lox e Lil’ Kim (1998). Ele também foi ator em três filmes de ação do diretor polonês Andrzej Bartkowiak: “Romeu tem que morrer” (2000), “Rede de Corrupção” (2001) e “Contra o tempo” (2003).

O mestre Tito, capoeirista e músico, morreu em 22 de abril, com 63 anos. José Antônio Tito foi referência no movimento black soul de Belo Horizonte, Minas Gerais. Criou o grupo Brother Soul em 1983, inspirado na música de James Brown. Nas décadas seguintes, ele fez experiências musicais juntando a cultura negra americana com as tradições afro-brasileiras. Mestre Tito dava aulas de capoeira e era voluntário em diversos projetos sociais para crianças carentes na capital mineira.

Maio

O cantor e compositor Cassiano morreu no dia 7 de maio, aos 77 anos. Considerado um dos principais nomes da soul music brasileira, Cassiano é o autor de “Primavera”, um clássico na voz de Tim Maia, além de “A Lua e Eu” e “Eu Amo Você”. Em 1977, a sua música “Coleção” ganhou repercussão nacional ao entrar na trilha sonora da novela “Locomotivas”, da TV Globo. Cassiano era paraibano e se mudou para o Rio de Janeiro nos anos de 1960. No começo da carreira, era fã de bossa nova.

Já no fim de maio, o sambista Nelson Sargento morreu no dia 27, no Rio de Janeiro, aos 96 anos. Um dos grandes compositores da escola Estação Primeira de Mangueira, escreveu as canções: “Agoniza, mas não morre”, “Cântico à natureza”, “Encanto da paisagem”. Outras músicas dele foram “Falso Amor Sincero”, “Século do Samba”, “Acabou meu Sossego” e “Primavera” (que foi samba-enredo da Mangueira em 1955). Em 2015, foi lançada a biografia “Nelson Sargento, o sambista da mais alta patente”, dos autores André Diniz e Diogo Cunha.

nelson sargento 1Nelson Sargento | Foto: Reprodução

O fotógrafo Januário Garcia morreu no dia 30 de maio, aos 77 anos. Januário era um grande fotógrafo e entusiasta da cultura afro-brasileira. Ele trabalhou nos jornais “O Dia”, “O Globo” e “Jornal do Brasil”. Foi autor de capas de discos da Leci Brandão, Chico Buarque e Tom Jobim. Garcia participou de livros como “25 anos do Movimento Negro”, “Diásporas africanas na América do Sul” e “História dos quilombos do estado do Rio de Janeiro”.

Junho

Em junho o Brasil perdeu a educadora Cleane Gomes, que faleceu aos 39 anos no dia . Ela nasceu no Grajaú, na zona Sul de São Paulo, e dava aulas no CapsArts (Centro de Arte e Promoção Social do Grajaú) e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Jardim Sipramar. Cleane era filha da educadora e filósofa Maria Vilani, era ligada a diversas modalidades artistas, artesã, compositora, fez artes cênicas, circo e poesias, além de ser uma professora muito preocupada com o desenvolvimento humano e crítico dos alunos. Em setembro, seu irmão, o rapper Criolo, lançou a música-manifesto “Cleane”.

Julho

O músico Rick Batera morreu no dia 5 de julho, com 58 anos. O baterista era muito popular no samba e também no pagode. Fazia parte da banda do cantor Belo, mas, anteriormente, tinha tocado em diversos grupos e acompanhado grandes nomes do samba em gravações e shows. Ricardo Eli Baldino, seu nome de batismo, tinha uma assinatura própria na bateria, desenvolvida em anos de estudo de diversos ritmos musicais.

Agosto

O produtor Lee ‘Scratch’ Perry morreu no dia 28 de agosto, na Jamaica. Ele é considerado o produtor pioneiro de reggae e dub, além de ter desenvolvido técnicas de estúdio que deram forma para o rap e para a música pop feita no mundo a partir dos anos de 1980. Perry trabalhou com Bob Marley e os Rolling Stones.

Setembro

O ator afro-americano Michael K. Williams morreu aos 54 anos no dia 6 de setembro. Ele participou da série “The Wire” interpretando o personagem Omar Little. O ator atuou nos filmes “12 anos de Escravidão”, lançado em 2014 e com grande sucesso mundial. No mesmo ano, esteve no elenco do filme “Vicio Inerente”. Em 2021, ele estava na série “Lovecraft Country” como o personagem Montrose Freeman.

Aos 90 anos, a atriz Marina Miranda morreu no dia 20 de setembro. A atriz trabalhou em programas como “A Escolinha do Professor Raimundo”, onde interpretou a Dona Charanga, e “Balança, Mas Não Cai”. Em 1977, fez a novela “Dona Xepa” ao lado de Yara Cortes e Nívea Maria. Participou também de minisséries como “Tenda dos Milagres”, em 1985, e nos anos 1990 fez “O Dono do Mundo”.

No dia 21 de setembro a ialorixá Mãe Xaqui morreu aos 92 anos. Ela fazia parte do terreiro de candomblé Tumbanssé, no bairro de Pero Vaz, tombado como patrimônio histórico de Salvador, Bahia. Era a mais velha ialorixá representante da nação de Angola. Mãe Xaqui foi fundamental para a preservação das tradições ancestrais das religiões de matriz africana.

Mãe Xaqui | Foto: ReproduçãoMãe Xaqui | Foto: Reprodução

Outubro

O passista Jhonata Henrique morreu no dia 3 de outubro, aos 22 anos. Aos 9 anos ele começou a frequentar os sambas e se encantou pelo Carnaval. Em 2015, foi homenageado com a música “Malandro de Ouro”, da Nenê de Vila Matilde, na zona Leste de São Paulo. Em 2019, recebeu o título de Passista de Ouro pela União das Escolas de Samba Paulistana (UESP). Jhonata participou do primeiro reality de samba, o Carnaval Wall, em 2021, que reuniu 14 personalidades do carnaval de São Paulo.

O diplomata e general Collin Powell, ex-secretário de Estado dos EUA, morreu aos 84 anos no dia 18 de outubro. Powell foi conselheiro de Segurança Nacional na Administração de Ronald Reagan, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas de George H.W. Bush e secretário de Estado de George W. Bush. Ele também era veterano da guerra do Vietnã. Em 2003, ele fez um discurso na ONU afirmando que o Iraque tinha armas de destruição em massa, o que levou à invasão do Iraque, porém, nunca foi confirmada a existência dessas armas.

No dia 27 de outubro, o compositor e maestro Letieres Leite morreu aos 61 anos. Ele era arranjador, compositor, instrumentista e estava à frente do Instituto Rumpilezz, mesmo nome da orquestra que criou em 2006. Além de reger a orquestra, o artista era o responsável por todo o conceito – figurinos, ambientação – passando pelas composições e arranjos de sopro e percussão. Letieres estudou no Konservatorium Franz Schubert, em Viena, na Áustria, onde morou por seis anos. De volta ao Brasil, montou uma escola chamada Academia de Música da Bahia, onde começou a desenvolver pesquisas.

Novembro

O sambista Mestre Dadinho morreu no dia 7 de novembro, aos 78 anos. Ele era um dos símbolos da escola Camisa Verde e Branco e figura histórica do samba paulista. Nascido em agosto de 1943, foi muito importante para a fundação e o desenvolvimento da escola e do samba. No Camisa, Dadinho tocou na bateria, foi passista e membro da Velha Guarda.

O compositor Paulinho Camafeu morreu no dia 29 de novembro, aos 73 anos. Foi autor de inúmeros hinos do Axé Music, como “Ilê Aiyê”, “Afoxé Badauê” e “Menina do Cateretê”. Ao lado de Luiz Caldas, ele escreveu a música “Fricote’”, que é considerada um dos primeiros sucessos da axé music, em 1985.

Dezembro

O compositor e sambista Monarco morreu no dia 11 de dezembro, aos 88 anos. Se chamava Hildemar Diniz, foi presidente de honra da escola de samba Portela, no Rio de Janeiro. Gravou o primeiro LP em 1976, porém, chegou na ala de compositores da escola em 1950, quando tinha apenas 17 anos. São dele: “Coração em Desalinho”, “Glória do Samba”, “O Quitandeiro”, “Lenço”, “Vai Vadiar”, “Tudo Menos Amor” e “Passado de Glória”. O segundo disco, “Terreiro”, foi lançado em 1980.

A ativista e escritora bell hooks morreu no dia 15 de dezembro, aos 69 anos. Ela foi uma das mais importantes autoras antirracistas americanas. Seu nome era Gloria Jean Watkins e nasceu na cidade de Hopkinsville, no estado do Kentucky. Desde 1978, escreveu mais de 40 livros que foram traduzidos e lidos em diversos países. A obra de bell hooks, pseudônimo escrito em letra minúscula, é fundamental nos debates sobre racismo, gênero, cultura e política.

bell hooks 3bell hooks I Foto: Reprodução

O arcebispo sul-africano Desmond Tutu morreu aos 90 anos no dia 26 de dezembro. Foi um dos grandes opositores do regime racista imposto pelo governo da África do Sul por cerca de 40 anos, de 1948 a 1991. A sua luta contra o apartheid teve projeção mundial. Em 1984, foi vencedor do prêmio Nobel da Paz.

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