A escolha do nome do jornalista Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Cultural Palmares (FCP), nomeado ainda em 2019, foi questionada por representantes da ONU (Organizações das Nações Unidas) em documento enviado ao governo Bolsonaro.
A informação foi revelada pelo UOL, que teve acesso ao documento e à resposta do governo brasileiro. Na carta, os relatores da ONU apontam problemas éticos e de capacidade técnica de Camargo em relação aos objetivos e à gestão do órgão público, que tem o papel de promover a cultura e o patrimônio afro-brasileiros.
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“Declarações racistas também foram publicadas no site da fundação. Além disso, sob a liderança do Sr. Camargo, foram feitas algumas mudanças estruturais na fundação que podem prejudicar a tomada de decisão transparente e participativa dentro da instituição”, diz um trecho da reportagem sobre o conteúdo da carta.
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Os relatores lembraram na correspondência que o jornalista encerrou as atividades de sete órgãos colegiados de interlocução da Fundação com a sociedade, em um gesto de centralização de poder.
“Como resultado dessas mudanças, algumas comunidades afro-brasileiras têm perdido o acesso a espaços de diálogo sobre decisões e elaboração de políticas dentro da Fundação. Além disso, o Sr. Camargo tem defendido a eliminação de uma medida de ação afirmativa legalmente estabelecida em 2012, que promove o acesso ao ensino superior por afro-brasileiros visando reduzir a lacuna de seu acesso ao mercado de trabalho”, revelou a reportagem.
Em resposta à ONU, o governo brasileiro informou, em 18 de março, que Sérgio Camargo foi nomeado para um cargo de “confiança”. A resposta destacou que as informações recebidas pelos relatores foram passadas por pessoas que não querem Sérgio Camargo no cargo.
A carta, que questiona a capacidade e as intenções de Camargo, foi enviada no dia 18 de janeiro deste ano e assinada por Tendayi Achiume, Dominique Day (chefe do Grupo de Trabalho de pessoas de Descendência Africana) e Irene Khan (relatora da ONU para a liberdade de expressão).
A Alma Preta procurou a Fundação Cultural Palmares e questionou o posicionamento do órgão frente à troca de correspondências entre o governo brasileiro e a ONU sobre a nomeação de Sérgio Camargo. O órgão não se posicionou.