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Segurança clandestino de mercado atira e mata jovem um dia após ele completar 23 anos

Investigadores encontraram a cena do crime manipulada; Polícia diz que segue em apuração do caso

Texto: Pedro Borges | Foto: Acervo Pessoal

Imagem mostra o jovem que foi baleado e morto pelo segurança clandestino. Ele está com uma camisa preta e sorri.

Imagem mostra o jovem que foi baleado e morto pelo segurança clandestino. Ele está com uma camisa preta e sorri.

— Foto: Acervo Pessoal

8 de agosto de 2023

Um dia depois de completar 23 anos, Jonatas Lima estava no supermercado Nagumo, na zona leste de São Paulo, quando foi baleado por Fábio Santos, ex-bombeiro e segurança do local. Jonatas Lima foi enviado para o Hospital Santa Marcelina, em Itaquera, mas não resistiu aos ferimentos e morreu às 10h45 de 23 de junho, cinco dias após dar entrada na unidade de saúde.

Tania Rodrigues, mãe do jovem, se recorda do dia anterior ao fato, quando o filho comemorou 23 anos. “No dia 18, ele apareceu na minha casa às 5h30. Ele veio aqui, conversou comigo. Falei para ele do horário e para comemorarmos mais tarde. Eu tinha preparado um bolinho para ele, mas ele não voltou”, lamenta.

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O boletim de ocorrência, feito no dia 19 de junho, registrou o caso como lesão corporal e fraude processual. De acordo com o relato dos agentes de segurança pública, houve mudança na cena do crime, o que se tornou um empecilho para a perícia reconstituir o fato.

Fábio Santos, o autor do disparo na cabeça de Jonatas Lima, foi um bombeiro e trabalhava há três meses para o supermercado Nagumo. De acordo com informações apuradas pela Alma Preta Jornalismo, Fábio chegou a fazer o curso de especialização da Polícia Federal para atuar como segurança privado, mas não o atualizou. Ele, portanto, não tinha autorização para trabalhar na área.

No depoimento dado à polícia, Fábio Santos afirmou que os jovens no banheiro do mercado usavam drogas e que os dois tentaram tomar a arma de fogo do segurança. “Se ele estivesse usando droga dentro do banheiro, como ele disse, ele poderia ter acionado uma viatura, mas ele decidiu entrar e fazer isso”, conta a mãe da vítima. A perícia feita pela Polícia Civil não localizou presença de entorpecentes no local.

jonatasacervopessoalJonatas Lima tinha acabado de completar 23 anos quando foi baleado e morto por segurança do supermercado Nagumo, na zona leste de São Paulo. | Foto: Acervo pessoal

Dono de mercado diz que não sabia que segurança estava armado

O dono do mercado, José Cavalcante Júnior, também afirmou não saber que Fábio Santos estava armado, porque não era uma demanda para a execução do trabalho. O ex-bombeiro relatou, no Boletim de Ocorrência, que o porte de arma foi um dos questionamentos feitos para conseguir o emprego.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que “o caso citado é investigado por meio de inquérito policial instaurado no 22° Distrito Policial, que realiza diligências para esclarecer os fatos. Testemunhas foram ouvidas e laudos estão em elaboração para compor as investigações. Mais detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial”.

Tania Rodrigues lembra que o filho passou dias entubado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Os órgãos do jovem foram doados. “Lá, abriram meu filho, eles viram que dentro do corpo do meu filho estava tudo bonitinho”, diz a mãe. O atestado de óbito apontou para “traumatismo crânio-encefálico”, por “agente perfurador contundente”.

Projétil desapareceu da cena do crime

A ocorrência ocorreu na Avenida Oliveira Freire, 1198, parque paulistano, às 15h50 da tarde, foi comunicada para a polícia às 18h13, e foi registrada no 63º Distrito Policial da Vila Jacuí. O segurança diz que chamou o Corpo de Bombeiros para a vítima e também se retirou do local, sob a justificativa de que a região é perigosa, por ser um ponto de venda de drogas.

O rapaz que estava com Jonatas Lima, ainda sem identificação, é peça chave para compreensão da história. Ele estava com a vítima no banheiro do mercado no momento do tiro. Tania Rodrigues não reconheceu o rapaz pelas imagens, diz que era mais velho do que o filho, por volta de 30 anos, e que não fazia parte do ciclo de amizades de Jonatas.

As imagens de segurança do local não foram cedidas, o dono alegou que só tem acesso às imagens em tempo real, e a empresa de segurança não respondeu aos pedidos da polícia até o dia 20.

Há também uma acusação de fraude processual porque a cena do crime foi alterada. Os peritos encontraram um projétil perto da poça de sangue, e depois no dia seguinte o delegado não encontrou o projétil na cena do crime.

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