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Com oito tiros, policiais militares matam entregador de 23 anos no interior de São Paulo

Os disparos acertaram Alan Diego nas costas após uma abordagem na cidade de Franca; governo diz investigar o caso e que os policiais do 15º batalhão foram afastados

Texto: Juca Guimarães | Edição: Nataly Simões | Imagem: Acervo Pessoal

Alan Diego morto por policiais

15 de fevereiro de 2021

Alan Diego completaria 24 anos de vida no próximo dia 20 de março, mas pouco mais de um mês antes do aniversário foi morto por policiais militares. O crime ocorreu no dia 2 de fevereiro, por volta das 21h, após uma abordagem na Vila São Sebastião, na cidade de Franca, no interior de São Paulo.

Os dois policiais militares do 15º batalhão disparam 18 vezes e oito tiros acertaram as costas do rapaz que trabalhava em uma barbearia especializada em estética afro. A morte do jovem gerou vários protestos organizados por amigos e pelo Movimento Negro. Segundo militantes, as manifestações foram reprimidas com violência e bombas.

“Alan não é só número e estatística. Alan é vida, tem família, tem história, tem contribuição com a sociedade. Sua vida é importante, mas sua voz foi calada”, diz um trecho da nota assinada pela Comdecon Franca, Coletivo Afrontar, Coletivo As Pretas Franca, Grupo de Trabalho e Estudos Luana Barbosa e Nupe Franca, Casa do Hip Hop de Franca , Entidades Negra Católica Brasileira e da América do Sul e Educafro.

De acordo com a versão da PM e que foi apresentada nos depoimentos para a elaboração do boletim de ocorrência, o jovem teria corrido no momento da abordagem e sacado uma arma. Testemunhas que optaram por não se identificar, por questões de seguranças, têm outra versão do caso.

“A viatura chegou e abordou ele, ele saiu correndo em direção à rodovia, começaram a dar tiros nele. Nisso ele caiu no chão e os policiais foram até ele e pediram para levantar a camisa. O Alan disse: ‘Perdi, senhor, perdi’. Aí os policiais mandaram ele virar de costas e dispararam um tanto de tiro”, conta uma testemunha. Segundo as pessoas que viram o crime, o rapaz estava usando o wifi da padaria e não estava armado. Alan Diego trabalhava como entregador em uma empresa de serviços gerais há um ano, tinha registro em carteira e uma filha de três anos e um enteado de um ano. Os amigos e familiares desconfiam da versão na qual ele teria sacado uma arma e atirado na polícia.

“Não podemos aceitar qualquer política ou conduta de extermínio dos cidadãos e cidadãs, principalmente a juventude pobre e negra. A todes conclamamos a união para que nosso grito seja ouvido! Por Alan, por nossas filhas e filhos, nossas família, por nossas irmãs e irmãos, parem, não aguentamos mais morrer!”, diz o trecho final da nota elaborada por amigos em conjunto do movimento negro.

‘Excludente de ilicitude vai custar muitas vidas negras’

A letalidade policial, sobretudo contra a juventude negra em todo o país, pode aumentar por conta dos avanços de projetos de lei apoiados pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) para o fortalecimento da interpretação do excludente de ilicitude, do artigo 23 do Código Penal. A medida se trata de uma espécie de “licença para matar” para agentes de segurança pública e militares. É o que explica o pesquisador Dennis Pacheco, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

“A ampliação do excludente de ilicitude abre caminho para aumentar o uso da força letal tanto pelas polícias quanto pelo exército.A gente está correndo a passos largos em direção ao aumento da frequência de cenas comuns de execução de jovens negros por policiais. Isso vai custar muitas vidas negras, como foi o caso do Alan”, disse Pacheco.

Outro lado

Segundo a assessoria da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), a morte de Alan Diego é investigada pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Franca, que instaurou inquérito policial. Em nota à agência Alma Preta, a pasta destacou que “a equipe policial realiza diligências para esclarecer a ocorrência. As armas envolvidas na ação foram apreendidas e encaminhadas à perícia”.

Os policiais militares que estavam na abordagem e atiram 18 vezes no entregador serão investigados também em um inquérito interno (IPM). Ainda segundo a nota, “os agentes envolvidos permanecem em funções administrativas até a conclusão do inquérito”.

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