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Sérgio Camargo, presidente da Palmares, tem histórico de perseguir e atacar colegas de trabalho

Alguns anos antes de presidir o órgão público no governo Bolsonaro, o jornalista trabalhou em uma grande empresa de comunicação e ficou lembrado por delatar colegas, brigar com editor e assediar subordinado

Texto: Juca Guimarães e Pedro Borges I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução/Twitter

Sérgio Camargo, presidente da Palmares, tem histórico de perseguir e atacar colegas de trabalho

26 de março de 2021

O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Sérgio Camargo, de 56 anos, é investigado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por assédio moral, que é a exposição de pessoas a situações constrangedoras, humilhantes e ofensivas. O MPT entrou com uma ação na Justiça do Trabalho para conseguir informações sobre a Palmares e alguns dos documentos obtidos estão sob sigilo judicial. O inquérito de investigação de assédio moral na Palmares é o de número 001741.2020.10.00/6-15.

No governo de Jair Bolsonaro desde novembro de 2019, Camargo é um nome de prestígio e poder dentro da pasta de Cultura, a qual está subordinada a fundação voltada à preservação e promoção da cultura afro-brasileira. Camargo não tem formação e experiência anterior em gestão pública. Ele é jornalista desde os 23 anos, idade que concluiu a graduação na PUC de São Paulo.

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Entre 1994 e 2000, trabalhou em cinco redações de veículos de comunicação na capital paulista. Aos 35 anos, entrou em um dos grandes grupos de comunicação do país, com sede também em São Paulo, onde ficou durante 14 anos, chegando a um cargo de chefia. Nesse período, encerrado em em 2014, quando ele tinha 50 anos, Camargo assediou moralmente, provocou a demissão de um colega e denunciou o chefe para depois ficar no lugar dele.

A agência Alma Preta ouviu jornalistas que trabalhavam diretamente ou tiveram algum contato com Camargo. Segundo os ex-colegas e subordinados, Sérgio era conhecido como “coração peludo”, pela falta de empatia e dureza como tratava os subordinados.

Convívio

Em uma madrugada de abril de 2012, quando Sérgio ocupava o cargo de sub-editor, ele discutiu com o editor e os dois quase saíram no tapa, assustando outros jornalistas que estavam na redação. Em voz alta, Camargo disse que estava cansado de carregar o departamento nas costas e que iria “resolver isso”.

O editor fez um relato da indisciplina de Camargo para a direção do grupo. O diretor-executivo na época conversou com os dois separadamente. Segundo alguns relatos, Sérgio aproveitou a reunião e fez a “caveira” do chefe, dizendo que ele não ajudava no trabalho.

O editor nega essas acusações e diz que se surpreendeu pela reação do subordinado. Segundo o ex-chefe, Camargo fazia apenas o trabalho dele e “nunca carregou o departamento nas costas”. Essas e outras histórias que circulam sobre o presidente da Fundação Palmares na época em que era jornalista, deixaram mágoas e decepções. “Eu o tratava bem. Até fui no enterro da mãe dele. Não fazia ideia que ele iria virar um fascista”, disse uma fonte.

Depois do ocorrido, Sérgio foi promovido para editor e o ex-editor foi transferido de função e demitido algum tempo depois. A discussão entre Camargo e o ex-chefe começou, segundo testemunhas, porque Camargo não concordou com algumas atribuições extras que tinha recebido.

Já no posto de chefe, houve uma ocasião em que Camargo disse na frente dos demais funcionários que os textos de um dos subordinados não era bom o suficiente e que ele não sabia escrever. O funcionário, que era jornalista há mais tempo que Sérgio, se sentiu humilhado e fez uma reclamação na ouvidoria do grupo.

“Ele pegava no pé por pequenos detalhes, erros simples e às vezes por coisas que nem estavam erradas. Cheguei a consultar professores de inglês que confirmaram isso. Era mesmo uma perseguição, sempre tentando me humilhar e me desestabilizar”, confidenciou.

Esse funcionário foi transferido para uma editoria de maior prestígio, uma das medidas que a chefia da empresa adotava na época quando havia casos de conflitos envolvendo editores.

Uma vez, em março de 2013, Camargo disse para os colegas que iria mandar um e-mail para a chefia do jornal delatando um jornalista de uma outra editoria que ele flagrou em uma mentira. O funcionário tinha ido em um show de rock quando deveria estar de plantão. Sérgio soube e contou para os outros jornalistas da redação que iria denunciar o funcionário, mesmo não tendo nenhuma relação de trabalho ou hierarquia. O jornalista alvo da delação de Camargo foi demitido dias depois.

Camargo e este funcionário já tinham trabalhado juntos por muitos anos e discutido duas vezes. Numa delas porque o jornalista tinha feito alterações para melhorar um texto do Sérgio, mas não o avisou. O ex-colega de trabalho acredita que aparentemente ele “guardou rancor e esperou uma oportunidade para se vingar”.

Assédio moral na Fundação Palmares

As denúncias de assédio moral não são recentes na Fundação Cultural Palmares. Desde os primeiros contatos com funcionários e ex-funcionários da instituição, a agência Alma Preta recebe relatos de assédio por parte do presidente do órgão. Um ex-diretor conta que Camargo não perdia uma chance de fazer terror psicológico durante os diálogos. “Estão querendo enfiar o dedo no meu **, essa esquerda suja”, teria dito Sérgio durante uma reunião.

Os funcionários, com medo de serem acusados de “esquerdistas”, relatam recriar redes sociais, deixar de seguir pessoas e mudar o comportamento no ambiente virtual para não serem perseguidos pelo presidente do órgão.

Uma ex-funcionária da Palmares conta que Sérgio “tem prazer em agredir as pessoas. É uma coisa que ele faz questão de demonstrar”. Segundo a profissional, os trabalhadores já evitaram inclusive usar roupa vermelha, cor ligada a movimentos de esquerda, para não serem repreendidos pelo chefe.

No começo de junho de 2020, quando houve o vazamento de um áudio de Sérgio Camargo, com ataques ao movimento negro e às religiões de matriz africana, a direção do órgão passou em todas as salas para pressionar os funcionários a dizer quem havia feito a gravação e repassado para a imprensa. Segundo os relatos, houve uma pressão sobre os trabalhadores para entregar os companheiros.

A situação, contudo, não foi uma novidade. Os diretores da Palmares ficam de olho nos funcionários para identificar posicionamentos ou comportamentos de “esquerdistas”. Os profissionais dão conta de que dentro da fundação há um estado de desconforto e perseguição.

No final do ano passado, de acordo com funcionários que estavam na instituição, uma trabalhadora foi humilhada publicamente após Sérgio ter postado uma informação errada nas redes sociais dele sobre um material que ainda nem tinha sido divulgado nas redes oficiais do órgão público. Ela e um colega foram demitidos e expulsos do prédio na frente de outros funcionários, sem nem tempo de se despedir. Camargo disse que eles não seriam capazes de fazer um “trabalho escolar de quinta série”.

Os trabalhadores relatam ainda que Sérgio Camargo tem o costume de interromper mulheres durante as reuniões e se utiliza de colocações machistas. A situação mais delicada é a dos trabalhadores terceirizados, que têm um vínculo frágil com a instituição. Por isso, são os profissionais que mais tomam cuidado para não serem repreendidos pela chefia.

Segundo os trabalhadores, esse clima prejudica a dinâmica na fundação, a execução e o desenvolvimento de projetos. Os funcionários ficam mais preocupados com as possíveis perseguições do que com a finalização das tarefas.

Outro lado

A Alma Preta entrou em contato com Sérgio Camargo para repercutir as informações coletadas com ex-colegas e ex-chefes do jornalista. O presidente da Fundação Palmares interrompeu a ligação sem nem querer ouvir o tema da reportagem logo após saber que se tratava do contato de um repórter. “Você tem que se identificar e falar qual o assunto”, “escreva, escreva”, disse. Ele cortou a conversa com um “passar bem”.

Em seguida, ao ser questionado no WhatsApp sobre sua versão dos fatos, Camargo afirmou que “não responde a calúnias, exceto na Justiça”. “Passar bem e não me encha o saco! Diferente de você, eu trabalho”, escreveu. Poucos minutos depois, enviou outra mensagem ao repórter em que disse: “Você não é jornalista, é um militante e uma desonra para a profissão!”.

A reportagem também tentou contatar Sérgio Camargo por e-mail, mas não obteve resposta.

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