Até novembro de 2021, houve um aumento de 30% nos assassinatos em conflitos no campo comparado com todo o ano de 2020. O Maranhão lidera nos números registrados, com nove mortes no total e, além disso, todas vítimas quilombolas do período eram do estado. Outros dados importantes é que 77% das mortes ocorreram na Amazônia Legal e o número de sem-terras assassinados triplicou no período.
As informações são parciais e foram registradas no levantamento ‘Violência contra a Ocupação e a Posse’, apresentado pelo Centro de Documentação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Dom Tomás Balduino (Cedoc/CPT). O período analisado refere-se de janeiro a agosto deste ano, com exceção das categorias de assassinatos e de mortes em consequência de conflitos no campo, que dizem respeito às violências contra a pessoa e que foram apresentadas considerando as ocorrências até este momento.
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Das 26 vítimas assassinadas em conflitos no campo, foram registrados no levantamento oito indígenas, seis sem-terras, três posseiros, três quilombolas, dois assentados, dois pequenos proprietários e duas quebradeiras de coco babaçu.
A pesquisa também revela que todos os seis sem-terras assassinados no período analisado foram mortos na Amazônia, dentre os quais, cindo eram de Rondônia. Três deles foram assassinados em um massacre no dia 13 de agosto pelo Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da PM de Rondônia e pela Força de Segurança Nacional, no Acampamento Ademar Ferreira, em Nova Mutum, distrito de Porto Velho. Todos eram integrantes da Liga dos Camponeses Pobres.
Também em comparação com 2020, houve um aumento de 14% no número de intimidações, de 50% no número de agressões, de 200% nas ameaças de prisão e de 1.100% nas humilhações. Além disso, o número de mortes em consequência de conflitos no campo disparou com um aumento de 1.044%. Foram 103 mortes até o momento em 2021 comparadas com as 9 mortes de todo o ano de 2020.
Dessas 103 mortes em consequência de conflitos registradas, 101 foram de indígenas yanomamis, sendo que, pelo menos, 45 eram crianças. Os territórios indígenas foram vítimas de diversas invasões de garimpeiros, o que, além dos assassinatos, também resultou em agressões, ameaças ao território, contaminação da água, desmatamento e propagação de doenças, como a Covid-19.
“Vimos crianças sendo sugadas por dragas e morrendo afogadas ao fugirem dos tiros disparados pelos criminosos. A falta de políticas públicas de saúde e alimentação expôs o alto índice de desnutrição que acomete as crianças yanomamis, muitas vezes, mortalmente, e também expôs como doenças, a exemplo de malária, leishmaniose e pneumonia, ainda matam esses indígenas em nosso país”, destaca trecho da publicação da CPT.
O levantamento também registra que, nos primeiros 8 meses deste ano, foram 418 territórios que sofreram violência contra a ocupação e a posse, sendo que 28% são indígenas, 23% são quilombolas, 14% são territórios de posseiros e 13% são de sem-terras. Nesses territórios, a destruição de casas aumentou em 94%, a destruição de pertences em 104%, a expulsão em 153%, a grilagem em 113%, a pistolagem em 118% e o impedimento de acesso às áreas de uso coletivo aumentou em 1.057%, ultrapassando todo o registrado em 2020.
Entre as categorias que mais causaram essas violências estão os fazendeiros (23%), os empresários (18%), o Governo Federal (14%) e os grileiros (13%).
Além disso, segundo os dados parciais, houve um aumento de 558,57% no número de famílias em ocupações e retomadas em 2021, o que corresponde ao dobro do número registrado durante 2020.
“Isso mostra que mesmo com o receio de contaminação pela Covid-19, essas famílias precisaram resistir para manter-se vivas e nos territórios tradicionalmente ocupados. A ofensiva contra os povos do campo, das águas e das florestas não entrou em quarentena”, pontua trecho da publicação da CPT.
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