Movimento lembrou pessoas mortas ou agredidas pela polícia no Brasil e reuniu cerca de 7 mil pessoas
Texto / Pedro Borges e Guilherme Soares Dias | Edição / Guilherme Soares Dias | Imagem / Pedro Borges
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“Vidas Negras Importam”, lembravam faixas pretas, com dizeres brancos, empunhados por centenass de pessoas que foram para as ruas em São Paulo neste domingo (7). “Eu não posso respirar”, frase que o motorista e segurança George Floyd pronunciou antes de ser morto, foi repetida por uma multidão que se ajoelhou no Largo da Batata, em Pinheiros, por nove minutos – tempo em que Floyd ficou imobilizado por um policial nos Estados Unidos.
Pelo menos dez mil pessoas foram para as ruas da zona oeste paulistana, segundo a estimativa das torcidas organizadas de futebol. Além da morte de Floyd, os manifestantes lembraram de pessoas negras mortas no Brasil nos últimos anos. Entre elas, Amarildo Souza, Marielle Franco, Claudia da Silva Ferreira e Luana Barbosa. “Nenhuma vida importa, enquanto as vidas negras não importarem”, diziam os manifestantes. Nomes de crianças mortas recentemente, como João Pedro, Miguel e Ágatha, faziam parte de cartazes também. Gritos que já viraram comuns em outras manifestações foram repedidos, como “Racistas, fascistas: não passarão”.
Um boneco com a faixa de presidente foi dependurado de ponta cabeça em uma árvore, simbolizando a destituição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Alguns cartazes questionavam “branco, você é realmente antirracista?”. No megafone, manifestantes que representavam o coletivo de movimentos negros lembravam que não é fácil estar na rua e que a luta antirracista ocorre há muito anos. Dados do genocídio da população negra e de mortos pela polícia foram ressaltados. “Não nos deram direito ao isolamento”, ressaltaram. As manifestantes reforçaram ainda que “poucas ações foram tomadas para diminuir a letalidade entre a população negra. O que fizeram pelos 35 milhões de pessoas sem água”, questionaram, emendando: “Se a morte é certa, o revide também”.
Em tempos de pandemia, o ato contou com a brigada de saúde do Movimento do Trabalhadores Sem Teto (MTST), que distribuiu máscaras, folhetos com informações para proteção de saúde, álcool em gel e tentava garantir o distanciamento social dos manifestantes. “Queremos garantir a saúde e o bem-estar dos manifestantes”, afirmou Caio Ramos, médico da Brigada de Saúde, que contava com cerca de dez pessoas, sendo cinco médicos.
Manifestantes
O Largo da Batata foi tomado por pessoas que foram protestar contra a brutalidade policial, muitas vestindo preto e empunhando cartazes. Mariana Rodrigues, modelo e promotora de eventos, afirmou que foi na manifestação por conta de todas as vidas negras que são ceifadas diariamente. “Sou uma mulher negra, que é a parte da população que mais sofre no Brasil. Estamos aqui, em meio a uma pandemia, por estarmos em momento de guerra política no país”, afirma. Cerca de 4 mil policiais foram destacados para acompanhar a manifestação. Mariana lembrou que essa presença massiva da polícia era esperada. “Eles fazem abordagens e agressões contra o povo preto diariamente. Isso não é uma guerra. É uma manifestação”, afirmou.
Entre os participantes do ato, estavam o Movimento dos Entregadores Antifascismo. “Nós lutamos para que os aplicativos de entrega forneçam café da manhã, almoço e janta. Já temos 300 mil assinaturas. Mas hoje todos os movimentos estão aqui para garantir a democracia. Temos que gritar para continuar podendo lutar pelas demais pautas”, afirma Paulo Lima, conhecido como Galo, que integra o Movimento Entregadores Antifascismo.
Emerson Osasco, do movimento Somos Democracia da torcida organizada Gaviões da Fiel, lembra que foi as ruas para defender a democracia e a luta das pessoas negras. “Vivemos um momento sombrio. Todas as torcidas precisam se unir em torno da liberdade. Temos que ir para rua, por isso, estamos aqui. Amanhã pode ser tarde. A questão racial hoje é a pauta mais importante tanto no Brasil quanto no mundo”, considera. Danilo Pássaro, que também faz parte do movimento Somos Democracia, lembra que no domingo passado, os manifestantes “arrancaram o grito que estava entalado na garganta dos brasileiros” e que hoje os atos se espalharam por cidades de 14 estados e ganharam mais adesões.
As mães de Osasco estiveram presentes e lembraram crianças mortas pela violência policial. Já a assistente social Flavia Lopes levou o filho Arthur, de 6 anos, afirmou que mesmo com os riscos considerou importante protestar contra as mortes das pessoas negras. “Principalmente a do menino Mateus, de Recife. Por isso, trouxe meu filho”, ressaltou. Muitos jovens negros estavam presentes. Entre eles, Simone Nascimento, do Movimento Negro Unificado (MNU), lembrou que o ato ocorre por conta da normatização das mortes das vidas negras. “Por conta disso nunca teve democracia de fato. É preciso que a sociedade combata essa doença. Estão a matando juventude em casa, não vamos conseguir derrubar o governo Bolsonaro sem garantir melhor condições para as pessoas negras”, afirma a jovem.
O ato que começou às 14h e terminou por volta das 16h de forma pacífica. (Fotos: Julia Dolce e Annelize Tozetto)
*Colaborou Juca Guimarães