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Abdias Nascimento é homenageado por exposição em São Paulo-SP

13 de novembro de 2016

Texto: Divulgação / Edição de imagem: Vinicius Martins

O escritor, artista visual, teatrólogo, político e poeta, além de um dos maiores ativistas dos direitos civis e humanos das populações negras, que deixou um legado de lutas pelo povo afrodescendente no Brasil, é o homenageado da 32ª edição da série Ocupação do Itaú Cultural; como nas anteriores, a exposição é acompanhada de programação em sinergia com os temas que ela propõe, e também de um site e de uma publicação disponibilizada aos visitantes

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Com abertura para o público no dia 17 de novembro – 16, para convidados – a 15 de janeiro de 2017, a trajetória do intelectual negro, figura fundamental da história de combate ao racismo no Brasil, é apresentada na Ocupação Abdias Nascimento, no Itaú Cultural. A exposição resgata momentos emblemáticos em sua história, sua participação em grupos artísticos como a Santa Hermandad Orquídea, a fundação de iniciativas artísticas de forte caráter político como o Teatro do Sentenciado, o Teatro Experimental do Negro e o Museu de Arte Negra, e de grupos de articulação política, social e de pesquisa como a Convenção Nacional do Negro, o Memorial Zumbi, o Movimento Negro Unificado e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros – Ipeafro. Estão também representados seus mandatos como Deputado e Senador.

A curadoria é do Itaú Cultural, do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, de Vinícius Simões, que também assina a cenografia, e de Elisa Larkin Nascimento, co-fundadora e diretora presidente do Ipeafro. No legado que Abdias (1914-2011) deixou para o país, as suas obras teóricas abordam questões relacionadas a lutas sociais, afirmação de identidades negras e defesa de seus direitos. Depois de intensa pesquisa a partir do acervo do Ipeafro, a curadoria reúne exposição de pinturas, documentos históricos, correspondências, discursos, entrevistas, depoimentos, manuscritos e fotografias. Todo o conjunto revela a intensa atividade e personalidade deste notável brasileiro, de quem não é possível separar o ativista, o artista e o intelectual.

Quatro eixos apresentam a Ocupação Abdias Nascimento: A Mulher da Banda de Fora, Teatro Dentro de Mim, As Borboletas de Franca e Sankofa. Eles demonstram esta íntima relação entre a produção artística e política do homenageado, evidenciando como ele trabalhou de maneira estética e discursiva com temas como combate ao racismo, pan-africanismo, diáspora africana, ancestralidade e tradições religiosas e signos de matriz africana”.

Patrimônio artístico e intelectual

Como lembra Elisa Larkin, aos 30 anos Abdias Nascimento já havia sido duas vezes preso político; viajado a América do Sul, a partir do Amazonas, com os poetas da Santa Hermandad Orquídea; passado um ano no Teatro del Pueblo de Buenos Aires; e criado dentro do Carandiru o Teatro do Sentenciado. Na prisão, ele escreveu o romance Zé Capetinha e o livro Submundo. Fez uma extensa atuação artística no Teatro Experimental do Negro (TEN), criado por ele, onde também organizou convenções e congressos para combater o racismo na academia e na política. Publicou o jornal Quilombo, que aprofundava o debate e a reflexão sobre arte negra, negritude e a questão racial, abrindo suas páginas a candidatos negros de todos os partidos.

Voltando ao Brasil, Abdias retomou o ativismo junto a uma nova geração do movimento negro e ajudou a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT), com Leonel Brizola.

Assumiu como deputado federal ao lado do indígena Mário Juruna, atuou como senador e secretário do governo do estado do Rio de Janeiro. Continuou pintando e publicou peça e poesias ao lado de obras como O Quilombismo, O Genocídio do Negro Brasileiro e Sitiado em Lagos.

Para dar uma ideia do patrimônio artístico e intelectual que ele deixou, só a sede do Ipeafro, no Rio de Janeiro, contém imagens, documentos, obras de arte e registros áudios-visuais produzidos e recebidos por Abdias Nascimento e pelas instituições que ele criou ao longo de sua vida ativa. O acervo que tem itens de 1926 até a atualidade, contém aproximadamente 15 mil imagens entre cromos, negativos, e ampliações fotográficas em cores e em preto e branco de diversos tamanhos; 25 metros lineares de documentos textuais; 800 peças museológicas entre prêmios, medalhas e obras de arte, como pinturas, desenhos, gravuras, esculturas em diversos tamanhos e materiais, incluindo aproximadamente 200 obras de Abdia e 400 obras de arte da coleção Museu de Arte Negra, da qual ele foi fundador e curador.

Publicação, site e programação

Uma publicação produzida pelo Itaú cultural faz parte da Ocupação Abdias Nascimento e será disponibilizada ao público. Nela, o leitor poderá se aprofundar no conhecimento da trajetória política e artística deste intelectual. Alguns dos textos falam do Abdias inteiro e de sua relevância para os dias de hoje. Quanto a isso, é possível dizer que as temáticas que ele pôs em evidência continuam, infelizmente, atuais. Para discutir o que mudou e o que persiste nesse cenário, foram convidados ativistas e grupos políticos que prosseguem o embate pela igualdade no Brasil contemporâneo e contam a sua experiência.

Os debates sobre o legado de Abdias têm ainda um espaço no site Ocupação –itaucultural.org.br/ocupação –, que reúne artigos sobre como ele compreendia a diáspora (a saída forçada do povo negro do continente africano) e as comunidades quilombolas do Brasil contemporâneo. Além disso, entrevistas com artistas e ativistas que foram marcados pelo trabalho do homenageado.

Uma extensa programação, no Itaú Cultural e que se estende a outras instituições, compõe a Ocupação Abdias Nascimento, começando um dia depois da abertura da mostra. Na Conferência Performática – Uma ação Cartográfica Dia Nacional da Consciência Negra, no dia 17, o Dj e pesquisador Eugênio Lima, curador e mediador da conferência performativa, convida o público a fazer uma reflexão sobre o pensamento de Abdias do Nascimento a partir do momento atual. A ação tem participação do professor e ativista Douglas Belchior e a atriz Roberta Estrela D’Alva.

A programação segue de novembro a janeiro, entre performances, leituras dramáticas de peças encenadas pelo TEN – do próprio Abdias e de outros autores – na Sala Itaú Cultural, no Auditório da Secretaria Municipal de Igualdade Racial (SMPIR) e nos CDRs de Cidade Tiradentes, Vila Maria e Jabaquara. Em dezembro integra a série Fim de Semana em Família, do Itaú Cultural, com uma oficina de Adinkras com o Coletivo Manifesto Crespo e a apresentação do espetáculo A Casa de Irene, com o Grupo Teatral Saga. No mesmo mês, é lançado o número 39 da série Cadernos Negros e uma reedição do livro O Genocídio do negro brasileiro, de Abdias Nascimento (veja a programação completa mais adiante).

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