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Artistas negros denunciam uso indevido de seus trabalhos em desfile da Portela

Escola teria utilizado elementos artísticos de obras brasileiras em suas alegorias sem a autorização dos autores
A imagem mostra uma estátua de Iemanjá em uma das alegorias da escola Portela. Artistas negros denunciam a escola por uso de seus trabalhos sem permissão.

Foto: Reprodução

14 de fevereiro de 2024

Dois artistas visuais negros denunciaram nas redes sociais o uso indevido de seus trabalhos no desfile da escola de samba Portela. Segundo relatos, a agremiação carioca teria incorporado elementos artísticos das obras de Emerson Rocha e Tiago Sant’Ana sem aviso prévio e sem a autorização dos autores.

A Portela foi a segunda escola a passar pela Marquês de Sapucaí no Grupo Especial do Carnaval 2024 na noite de segunda-feira (11) e apresentou o enredo “Um Defeito de Cor”, baseado no livro de Ana Maria Gonçalves, que retrata a vida de Luísa Mahin, mãe de Luiz Gama e figura e de grande representatividade no Brasil.

Em uma das alas da escola, intitulada “Santidade Menina Jeje”, foram utilizadas pinturas de Emerson Rocha para compor os figurinos das fantasias. O artista visual publicou nas redes que soube da incorporação através de terceiros e que, até então, não havia sido comunicado pela agremiação acerca da permissão do uso da arte e sobre os trâmites de direito autoral.

“Um tempo depois, entra em contato comigo um dos carnavalescos da escola, me dizendo aquilo que descobri através de outras pessoas: minha arte estava sim sendo usada em uma fantasia e poderia ser usada em uma alegoria (…) tudo isso rolou como um comunicado mesmo, do tipo ‘to usando teu trampo aí, só pra avisar mesmo'”, revelou o artista.

Emerson ainda compartilhou capturas de tela da conversa com o carnavalesco, onde teriam prometido duas camisas para que o autor das pinturas desfilasse com a escola, no entanto, nenhuma outra informação foi repassada durante meses. Após diversos questionamentos sem respostas, a escola enviou um convite no dia do desfile. Emerson afirmou que recebeu a proposta em cima da hora e não pôde comparecer. “Fiquei extremamente chateado com a escola, com os carnavalescos e com a forma que fui tratado”, desabafou em uma das postagens.

O artista parabenizou a escola pelo “lindo desfile” e disseque se lembraria do episódio com um dos dias em que se sentiu mais desrespeitado como um artista preto, contemporâneo e independente. 

Segunda alegoria da escola com pinturas do artista visual Emerson Rocha (Foto: Reprodução)

Nesta quarta-feira (14), o artista visual Tiago Sant’Ana compartilhou nas redes registros do processo de composição de sua obra “Fluxo e refluxo (barco de açúcar)”, trabalho que, segundo o autor, a Portela teria adaptado em uma de suas alegorias sem mencionar o autor.

“Ao assistir ao desfile também homônimo da Portela anteontem não pude deixar de observar, com surpresa, num dos tripés da escola de samba, uma composição escultórica semelhante ao meu trabalho (conforme imagem no carrossel do post). Não há nenhum registro formal por parte da escola de se tratar de uma citação/referência/inspiração à minha obra”, disse em uma publicação recente.

O autor ainda afirma que o projeto foi uma das suas primeiras exposições no Museu de Arte do Rio, mesmo local onde foram expostos os figurinos da Portela e, ainda assim, não houve menções do seu trabalho nem mesmo no livro Abre Alas da escola.

“A missão de uma pessoa artista perpassa muitas vezes também pelo ato de registrar e salvaguardar memórias. Se você não dá nome as coisas, darão por você”, finalizou em sua postagem.

Carnavalesco responde denúncias

O figurinista e projetista André Rodrigues, um dos carnavalescos responsáveis pelo desenvolvimento do enredo da escola neste ano, respondeu em suas redes a denúncia de Emerson Rocha. Na postagem, Rodrigues afirma que houve falha de comunicação.

“Enviamos um pedido de desculpa e uma mensagem procurando de que maneira ele se sentiria mais confortável para afagar esse desencontro. Esperamos voltar nas campeãs para que ele e outros agentes importantes para o desfile possam se divertir e gozar deste momento”, publicou.

André também revelou que pretende compartilhar um projeto com todas as referências, inclusive demonstrar como funciona o processamento de informações para se transformar em imagem de carnaval.

  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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