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“Lúcida” retrata maternidade na periferia e vai ao Festival de Gramado

11 de agosto de 2016

Texto: Solon Neto / Edição de Imagem: Solon Neto

Casal de cineastas de Itaquaquecetuba-SP colocam curta com temática negra e periférica entre os finalistas; filme teve orçamento zero

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O 44º Festival de Cinema de Gramado terá entre seus finalistas o curta “Lúcida”, dirigido por Caroline Neves e Fábio Rodrigo. O filme dos cineastas paulistas está entre os 9 finalistas de uma seleção com quase 600 inscritos. Com orçamento zero e ativismo social, os cineastas que formam a produtora Ira Negra, são os únicos representantes negros e periféricos na seleção final do Festival, que ocorre entre 26 de agosto e 3 de setembro.

“Esse ano havia Jeferson De na curadoria de curtas e quando passamos, pensamos que uma referência nossa viu o filme e isso já era sensacional, nossa linguagem é muito diferente de tudo que está lá e era muito difícil, foram quase 600 curtas pra uma seleção de 9, batemos de frente com grandes produtoras e invadimos”, afirma Fábio Rodrigo.

O curta tem 16 minutos e mescla documentário e ficção ao contar a história de uma mãe que é abandonada pelo companheiro com um filho recém nascido. A história começa quando ela recebe a visita de sua amiga Jéssica, que aos poucos vai desvelando os problemas sentimentais e financeiros que vive mãe, interpretada pela própria Caroline Neves. Um drama típico das mães da periferia. Várias das cenas do bebê no filme são reais, gravadas com celular, e trocadas entre o casal de diretores enquanto o filho crescia.

Além de Gramado, considerado o festival de cinema mais importante da América Latina, o curta já rodou mostras em 6 estados diferentes, parte da força do movimento de cinema periférico em plena ascensão no Brasil, como apontam os cineastas. Preocupados em retratar a realidade brasileira, esses grupos vêm ganhando espaço em mostras e festivais.

“Nós acreditamos que há um movimento de cinema periférico em todo o país e que está tomando os espaços em festivais importantes de cinema. Uns coletivos, o pessoal da Ceilândia em Brasília com o Adirley Queiroz, a Astúcia filmes daqui de São Paulo, o Lentes Periféricas, o Cinecampinho, o Cinefavela, um pessoal preocupado em produzir e exibir pro povo das comunidades e discutir cinema, ver cinema com um olhar que não é o do centro, o da elite, isso é importante.”

 

O movimento de cineastas negros preocupados em retratar o racismo e a desigualdade social é antigo. Desde nomes consagrados como Zózimo Bulbul e Joel Zito Araújo a talentos recentes como os de Viviane Ferreira, Yasmin Thayná, Everlane Moraes, Taís Amordivino, Edileuza Penha, Thamires Vieira e Larissa Fulana de Tal. Em 2015, Alma Pretaentrevistou a cineasta baiana Larissa Fulana de Tal, que contou um pouco sobre seu celebrado “Cinzas”, e as ações de seu coletivo de cinema, o Tela Preta. A última produção do coletivo foi o filme “O Som do Silêncio”, de David Anyan.

Assim como os cineastas de Lúcida, muitos desses artistas e produtores têm dificuldades para realizar suas produções. O cinema é caro, o que torna o improviso uma opção muitas vezes necessária. Caroline e Fábio contam que o filme que vai ao Festival de Gramado foi feito sem nenhum financiamento externo e que usaram a criatividade para construir e utilizar muitos dos equipamentos necessários às filmagens.

“Não houve qualquer financiamento, foi ao estilo ‘Nós por nós’. Ele foi filmado com orçamento zero, iluminado com lâmpadas caseiras e equipamentos improvisados à base de materiais recicláveis, com uma câmera fotográfica e uma única lente, a do kit básico. Não esperamos um edital nem patrocínio, pensamos em mostrar o que podemos fazer com o mínimo que temos e quem sabe com essa visibilidade encontrar quem acredite no trabalho e apoie”.

Os atores do curta são todos convidados. Ambos os diretores atuam, além dos primos, Jéssica e Willian, e do filho de Caroline e Fábio, Vinicius. “[…] o grande astro é nosso filho Vinícius que hoje está com dois anos, mas começou a atuar com seis meses e é um ponto que chama atenção no curta”.

O grupo de amigos faz parte da produtora do casal, a “Ira Negra”, cujo slogan, “do gueto para o gueto”, sintetiza a temática de seus filmes. O projeto que o casal considera uma “ideologia” conta com a ajuda de amigos, além da equipe fixa que se completa com o produtor Renato Santos.

“A IRA NEGRA não é uma produtora, nem um coletivo ainda, é mais uma ideologia, um projeto pensado na intenção de fazer filmes na periferia e para as pessoas da periferia desde o início de 2015. Começamos a mobilizar gente que acredita no trabalho e que tá a fim de participar mas temos a ideia de expandir pra mais bairros, encontrar talentos, novos profissionais para colocar o jogo pra frente já que apoio financeiro não temos, mantemos a intenção de produzir e acreditamos que com o sucesso do primeiro curta mais pessoas vão se unir a luta.”

O novo curta da Ira Negra já foi filmado, e trará a temática do genocídio da população negra no Brasil.

Teaser Lúcida from Fabio Rodrigo on Vimeo.

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