O curta-metragem “Corpo Negro”, lançado em abril, no Rio de Janeiro, traz um retrato cru da realidade enfrentada por pacientes negros nos serviços de saúde brasileiros. A produção, exibida no Cinema Estação do Shopping da Gávea, foi acompanhada de debate que discutiu os desafios do racismo estrutural na medicina.
O filme acompanha a jornada de um homem negro que enfrenta sucessivos episódios de negligência e desatenção durante seu tratamento médico. Cenas que mostram consultas apressadas, diagnósticos imprecisos e a dificuldade em conseguir exames especializados refletem dados de pesquisas recentes. Entre os fatos apresentados no curta, destaca-se que as consultas com pacientes brancos costumam ser significativamente mais longas e detalhadas.
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Dados científicos comprovam a ficção
A ficção apresentada no curta encontra respaldo em diversos estudos científicos. Pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) de 2018 revelou que mulheres negras têm duas vezes mais chances de receber diagnóstico tardio de câncer de mama em comparação com mulheres brancas.
Outro estudo, realizado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e Instituto Çaré em 2023, analisou 66,4% das internações por erro médico entre 2010 e 2021, constatando que pacientes negros enfrentam risco até 585% maior de hospitalização por falhas no atendimento, dependendo da região do país.
Mediversidade: educação como antídoto
Paralelamente ao lançamento do filme, foi apresentado o projeto Mediversidade, iniciativa do Instituto Yduqs que propõe mudanças estruturais na formação médica.
O programa inclui cursos de letramento étnico-racial para docentes e profissionais, ampliação de vagas afirmativas para professores, revisão curricular com enfoque antirracista e a introdução de manequins negros nas aulas práticas. A medida mais impactante prevê bolsas integrais para estudantes pretos e pardos.
A exibição do curta foi seguida por uma mesa redonda que reuniu especialistas em saúde pública, ativistas do movimento negro e profissionais da área médica. O debate destacou a importância de iniciativas como o “Corpo Negro” para dar visibilidade a um problema historicamente negligenciado.
Texto com informações da Agência Brasil.