Recomendo para quem quer, mais do que saciar a fome, ter uma experiência gastronômica sensorial
Texto / Thalyta Martina
Foto / Divulgação
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
O “Projeto Saberes e Sabores”, coordenado pelo Chef Marcelo Reis, natural de Itabuna, na Bahia, é um restaurante localizado na Vila Industrial, em Campinas, interior de São Paulo. Ele visa a preservação da cultura negra do nosso estado e promove a cultura gastronômica afro-brasileira e africana com seu cardápio variado, além de abrigar discussões por meio de saraus, encontros, cursos ou oficinas.
Como mulher negra nessa sociedade que tenta anular a nossa raça e tudo relacionado a ela, é importante conhecer lugares que tenham esse viés. Juntando a isso, a vontade de saborear mais vezes pratos que eu comia na infância em viagens de visita à minha família paterna em Itamaraju, na Bahia, fez-me visitar o restaurante indicado por um amigo que já conhecia o Chef Marcelo e os pratos. Fui cheia de expectativas.
O espaço tem quadros, histórias, livros, pés de maracujá e bebidas expostos. O visitante tem a opção de sentar na área externa e observar o céu por meio das coloridas xitas que servem como cobertura em dias quentes, ou sentar dentro da casa, mais perto do chef, em uma das salas com quadros da cultura negra, tanto do nosso país, quanto do continente africano.
O chef que cozinha na Rua Garça, número 43, é da Bahia e teve o primeiro contato com a cozinha com a avó, aos 13 anos. Sendo ela uma pessoa religiosa, é impossível que o Chef, também religioso, pense na comida fora dessa lógica, e é aí que entra o respeito pelo ritual de cozinhar o acarajé, por exemplo.
Acompanhei Marcelo ao Mercado Municipal de Campinas, vi o processo de escolha dos ingredientes e a relação de fidelidade com os fornecedores. O tomate tinha que ser verde para não soltar muita água, o camarão precisava ter o corpo e não só a cabeça para não ficar mesquinho, a ponta do quiabo tinha que quebrar para garantir qualidade e o feijão também era específico, o fradinho.
Um pouco mais tarde, no mesmo dia do passeio ao Mercado Municipal, voltei ao espaço pra jantar e fui recebida pelo chef que carregava um turbante vermelho. Ele estava preparando a massa do acarajé, e eu pedi pra ver de perto. Tinha que bater a massa para fermentar, por a cebola no dendê e ter um cuidado especial na hora da montagem do prato.
Sentei e pouco tempo depois veio o acarajé com vatapá, caruru, tomate, camarão, cebola, pimenta: uma mistura farta e saborosa que eu comi devagar. Pareceu um pedaço da Bahia, o que fez minhas expectativas serem supridas. Voltei mais vezes e continuo indicando. Recomendo para quem quer, mais do que saciar a fome, ter uma experiência gastronômica sensorial, a qual pode ser bem explicada pelo chefe durante a refeição.
Além do acarajé, o cardápio tem também o bolinho de feijoada, bobó de camarão, ximxim de galinha, moqueca, caruru, feijoada, bolinho de moqueca, entre outras delícias da cozinha afro-brasileira e africana.
Maiores informações:
Projeto Saberes e Sabores
Rua Garça,43 – Vila Industrial, Campinas/SP
Página no Facebook