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De peixeiro a presidente do Vai-Vai, conheça a história de Seu Chiclé

O podcast "Memórias de Batuque", parceria entre a Alma Preta e o Brasil de Fato, resgata histórias de pessoas que marcaram o Carnaval de São Paulo
Imagem em preto e branco mostra Seu Chiclé. Um idoso negro e vestido com roupa social, suspensório e boina.

Foto: Acervo Vai-Vai

23 de fevereiro de 2024

Quem acompanha os desfiles de escolas de samba de São Paulo com toda a sua riqueza cultural e respeito popular não imagina as perseguições enfrentadas pelos seus componentes nos primeiros anos do Carnaval de São Paulo. A maior campeã do festejo paulistano, o Vai-Vai, foi liderada por 20 anos por Seu Chiclé, que sentiu na pele a repressão policial. 

José Jambo Filho nasceu em 1933, em Santos, litoral paulista, filho de José Jambo e Áurea Cabral. Aos 12 anos saiu da cidade natal para morar com parentes no interior do estado, em Ribeirão Pires. Dois anos depois foi para São Paulo, período que recebeu o apelido de Chiclé pois era o amigo “chiclete”, aquele colega que vivia colado no grupo de amigos e ficou conhecido assim até o fim da vida. 

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No quarto episódio do podcast “Memórias de Batuque”, as jornalistas Camila Rodrigues e Luana Ibelli apresentam a história de Seu Chiclé. Tudo isso registrado em uma entrevista exclusiva antes do falecimento da figura admirada no Carnaval, em 25 de março de 2007, aos 73 anos.

“Aconteceu muita coisa naquela época, porque o samba… o samba é… quem é… A autoridade olhava eles como um bando de marginal. Ela não olhava como uma entidade cultural. Hoje é olhado como uma entidade cultural, mas antes não. Então, o que acontecia? Dependendo do local, dependendo do dia, dependendo do ensaio… normalmente, a polícia dissolvia os ensaios”, relatou Chiclé, em entrevista disponível no episódio.

Em São Paulo, Chiclé passou dois anos num colégio interno, em Santana, na Zona Norte da cidade, onde aprendeu a tocar saxofone e clarinete. Foi ali que o seu talento para a música aflorou. Por volta dos 18 anos trabalhou como cavalariço no Jockey Club de São Paulo, seu primeiro contato com uma escola de samba. Em seguida passou pela Brasil Moreno e pela Lavapés, a mais antiga agremiação da cidade e que formou grandes nomes como Carlão do Peruche, fundador da Unidos do Peruche, e Inocêncio Mulata, que refundou a Camisa Verde e Branco.

Mas o que transformou o Vai-Vai numa grande agremiação carnavalesca foi a influência de Chiclé e, para isso, o seu trabalho como peixeiro foi essencial.

“O Seu Chiclé era peixeiro. Ele trabalhou no Mercado Municipal de São Paulo e era peixeiro, e uma das primeiras formas de fazer a sociabilidade ali da Vai-Vai, das rodas de samba, era o peixe que se oferecia para os sambistas”, conta Claudia Alexandre, sambista, jornalista e radialista.

A simpatia de Seu Chiclé, que o tornou conhecido no bairro, no meio carnavalesco e no Mercado Municipal, atraía o público para a escola de samba. “É tão interessante que é o Seu Chiclé que consegue o contato com a prefeitura para esse terreno que a escola ficou até agora, nos anos 2000. Então, o que a gente vê é que ele era um grande homem, relações públicas do nome da escola de samba Vai-Vai”, lembra a sambista.

Hoje parece ser incomum imaginar um peixeiro presidente de escola de samba, mas os tempos eram outros e esse fator, unido da simplicidade do sambista, foi definitivo para a construção da imagem de escola popular que o Vai-Vai carrega até hoje.

O Podcast

O “Memórias de Batuque – a história viva e negra do samba paulistano” é uma produção da Alma Preta em parceria com o Brasil de Fato

A iniciativa tem o objetivo de fortalecer a memória sobre o carnaval e revisitar episódios importantes para a construção da festa.

Nesta primeira temporada, são lembradas histórias de pessoas fundamentais para o samba paulistano, como Carlão do Peruche, Maria Helena Embaixatriz, Seu Ideval e Seu Chiclé. 

Os episódios estão disponíveis nos principais tocadores de podcast.

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  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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