“Chegamos Sozinhos em Casa é uma obra una, dividida em duas partes que, juntas, formam um mapa no qual podemos observar por quais lugares passamos para chegar até aqui”. Essa é uma das definições possíveis para o segundo disco da banda Tuyo – trio formado por Lio Soares, Lay Soares e Machado –, que dividiu o próprio processo de “adultecimento” em um álbum de dois volumes. Enquanto o primeiro, lançado em maio, traçou as transformações territoriais que inspiraram expectativas nos integrantes, o segundo se aprofunda nos sentimentos que atravessam a vida adulta independente do lugar.
A inevitabilidade do fracasso, do fim de relações e da saudade que algumas rupturas deixam são alguns dos elementos que servem de combustível para as oito faixas de “Chegamos Sozinhos em Casa vol. 02”. Com patrocínio de Natura Musical, o disco já está nas plataformas de streaming, e traz parcerias com Lenine, Drik Barbosa e Jonathan Ferr. O DJ e produtor musical RDD (Rafa Dias, do ÀTTØØXXÁ) está presente na faixa “Do Lado De Dentro”, disponível com um videoclipe no canal oficial da Tuyo no YouTube.
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Encarregada de iniciar o disco, “Do Lado De Dentro” traz versos que exaltam a possibilidade de uma pessoa se encontrar na outra (romanticamente ou não) e de se conectar sem filtros sociais. A sensação de intimidade se traduz no registro audiovisual – com direção de Lio e Marcão. “A gente, atualmente, até comemora algumas coisas, mas sempre debaixo da sombra de que algo difícil está acontecendo. No clipe, a gente mostra que dá pra comemorar e dançar, mesmo que seja só com o ombrinho e dentro de casa”, comenta Lio.
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O clima intimista não se limita à primeira música. Ele é, inclusive, um dos elementos que costura a relação entre todas as composições. “Se o EP Pra Doer (2017) e o disco Pra Curar (2018) já aproximaram a gente de quem ouve Tuyo e acompanha a nossa trajetória, Chegamos Sozinhos Em Casa leva isso a outro nível por ser ainda mais íntimo”, destaca Lio ao falar das músicas, que versam sobre assuntos densos. É o caso de “Saudade Impura”, faixa escrita por Machado sobre a falta que sente do irmão que perdeu há quatro anos.
As temáticas que abordam a sensibilidade dos três artistas se desdobram por outras canções. Em “Fracasso”, o trio fala sobre a necessidade de se responsabilizar pelas coisas que dão errado na vida. Para isso, contam com vocais do cantor pernambucano Lenine. “Sinto que essa música conversa com os trabalhos dele, com o jeito que ele fala verdades densas, mas de um jeito muito bonito e carinhoso”, observa Lay.
O repertório de “Chegamos Sozinhos Em Casa vol. 02” também tem seus respiros, um deles com a participação da rapper Drik Barbosa, na música “Tem Dias”. Carregada de afeto, a canção mostra que o fim de relacionamento não é sinônimo de deletar momentos vividos. “É um final feliz pra uma história que podia terminar de forma triste. A gente tem aquela ideia de ficar junto pra sempre, mas, às vezes, esse prazo diminui”, explica Lio.
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As dualidades contidas nas relações – até mesmo na conexão consigo – ganham ainda mais espaço em “Turvo”. “Ela fala sobre a contradição de só nos percebermos quando temos os outros pra comparar”, define Lay. Sentimentos contrastantes também permeiam a canção “Hoje Eu Quero Chorar”.
O trio encerra o álbum de forma sucinta, com a experimental “Pouco Espaço”. Em colaboração com o pianista carioca Jonathan Ferr e Shuna, da dupla YOÙN, todos dividindo a produção, o grupo destrincha as possibilidades sonoras de uma única frase: “pouco espaço, pouco tempo, sem tempo irmão”. As reflexões percorridas no disco se encerram, assim, como um apelo para “normalizar a ideia de que as pessoas adultas também têm os seus momentos de desequilíbrio”, conclui o trio.