Nesta quarta-feira (1º), o Grêmio Recreativo Cultural e Social Escola de Samba Vai-Vai completa 95 anos de existência. Fundada em 1930 e conhecida como a “Escola do Povo”, a agremiação nasceu como um cordão carnavalesco no coração do Bixiga, um território negro que abrigava populações marginalizadas no início do século XX.
Com raízes na diáspora africana, a escola transformou o samba em uma plataforma para exaltar a cultura negra e denunciar as desigualdades sociais. Em seus desfiles, temas como o afrofuturismo e homenagens a figuras negras históricas reforçam seu papel como um verdadeiro quilombo cultural na cidade.
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Das ruas do Bixiga ao topo do Carnaval
O Vai-Vai foi formado por jovens frequentadores de festas e rodas de samba do bairro. O nome surgiu de uma brincadeira irônica em relação ao time local Cai-Cai, e suas cores, preto e branco, simbolizam elegância e pertencimento. Desde os primeiros passos, o Vai-Vai se destacou, vencendo concursos ainda na década de 1930.
Transformado em escola de samba em 1972, o Vai-Vai se tornou uma potência no Carnaval paulistano, acumulando 15 títulos no Grupo Especial, o maior número conquistado por uma agremiação em São Paulo. Suas conquistas incluem desfiles inesquecíveis, como o enredo “Orun-Ayê. O eterno amanhecer” (1982) e “Amado Jorge, a história de uma raça brasileira” (1988), que exaltaram a ancestralidade africana e as figuras negras históricas.
A escola é conhecida pela força de sua bateria e pela capacidade de emocionar multidões com desfiles grandiosos que misturam crítica social, cultura afro-brasileira e samba no pé.
Entre os grandes nomes que marcaram a história da agremiação estão Thobias do Vai-Vai, icônico intérprete, e o mestre de bateria Tadeu, que ajudaram a escola a conquistar fama nacional. Ao longo das décadas, a escola também se destacou por inovações na bateria e desfiles grandiosos, mantendo-se como referência de qualidade no carnaval paulistano.
A emblemática bateria “Pegada de Macaco” é reconhecida pelo público pelo seu ritmo e inovação, conduzindo desfiles que marcaram época, como o emocionante tributo ao maestro João Carlos Martins em 2011, que rendeu mais um título à agremiação.
Desafios e reinvenção ao longo dos anos
Além do Carnaval, a escola também exerce um papel de encontro cultural. Com eventos e projetos sociais, como oficinas de percussão e dança, a escola promove inclusão e formação artística.
Nos últimos anos, a escola se destacou com enredos que dialogam com temas atuais, como o afrofuturismo e o impacto cultural do hip-hop, buscando se conectar às novas gerações sem perder suas raízes. Em 2024, por exemplo, o enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano” celebrou os 40 anos do hip-hop no Brasil.
Uma das alas que passou pela avenida durante o desfile foi a “Sobrevivendo no Inferno”, nome de álbum dos Racionais MCs, com alegorias em referência à violência policial. Desde então, a escola e os integrantes se tornaram alvos de repressão de militares.
Semanas após o desfile que denunciou em uma de suas alas a truculência da instituição, a Alma Preta teve acesso a relatos de integrantes da escola de samba revelando hostilidade em abordagens de policiais. Segundo mensagens de WhatsApp, componentes uniformizados teriam tido camisetas rasgadas pelos agentes de segurança.
Vai-Vai pronta para sacudir o Anhembi
Em setembro de 2024 a escola revelou qual seria o enredo de seu desfile neste ano: “O Xamã Devorado y A Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem”. Desenvolvido pelo carnavalesco Sidney França, o tema explorará a conexão entre o ator e diretor José Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso, e o bairro do Bixiga, onde a escola foi fundada.
O Vai-Vai será a última escola a desfilar no sábado, 1º de março, fechando o grupo especial, na esperança de estender o recorde de títulos como campeã do Carnaval de São Paulo.