O artista paulistano trouxe em seu último EP, “Garoa”, uma mensagem de esperança e encerra o ciclo com estreia de documentário que conta a história de referências negras para o cantor e compositor
Texto: Roberta Camargo | Edição: Lenne Ferreira | Imagem: Sérgio Fernandes
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Jota.pê já brilhou no palco do The Voice Brasil em 2017 e segue brilhando na vida. Em entrevista exclusivo para a Agência Alma Preta, ele conta que, por vir de família repleta de artistas, sempre esteve nesse meio: “Meu avô tocava chorinho, minha avó cantava na igreja, meu tio foi maestro… Então sempre que tinha festa de família, era sempre um show”, conta o compositor, que produz sua arte para respirar e ainda quer “ser fôlego”.
Em seu último EP musical, intitulado “Garoa”, Jota.pê fala sobre respirar fundo em momentos difíceis e demonstra anseios e desejos para o público na composição do single que dá o nome ao seu último trabalho solo antes da nova fase ao lado da cantora Bruna Black. Toda a produção musical de Jota.pê está disponível nas plataformas digitais e no YouTube, espaço que vai hospedar o mini.doc com os personagens da faixa-título do EP que estreia amanhã (29). O projeto conta a história da escritora e performer Tula Pilar, que faleceu no ano passado, da atleta Ana Luiza Garces, da mãe de santo Jurema Para Assu, e do chefe de cozinha Val Luna, que participaram do clipe “Garoa”, lançando em 2020.
Imagem: DaHouse
Mesmo com a influência do ambiente e com a música no “sangue” da família, viver de música foi uma missão difícil para o artista. Jota.pê relembra que durante muito tempo trabalhou em diferentes áreas, sempre tentando não ser músico. A pressão externa, que também se tornou interna, sobre gerar renda com seu trabalho como cantor era um empecilho para alavancar sua carreira.
“Eu decidi me jogar nessa parada e tentar viver de música e fui aprendendo como funcionava, como não funcionava”, explica. Aos 18 anos, depois de conhecer um baterista que conseguia se manter financeiramente por meio da música, Jota.pê decidiu investir na carreira e aprender com tudo o que aconteceu a partir dali. “Eu resolvi gravar um disco, mas eu por muito tempo neguei tudo isso”.
Numa conversa sobre sonhos, desafios e inspirações, o músico contou a Alma Preta quais devem ser os próximos passos de sua carreira e relembrou momentos que inteferiram na caminhada até aqui.
Agência Alma Preta: Como foi o processo de criação desse último ep?
Jota.pê: Eu construí a música baseado num documentário que eu assisti “Human”. Fiquei assistindo, chorando e escrevendo. Quando a gente fez o clipe e tudo mais, pensamos que seria justo contar sobre essas pessoas. Relacionando trechos da música com o que eles estavam falando ali. Eu tô muito feliz por ter finalizado esse trampo, mesmo com tudo que tá acontecendo, eu fui muito feliz profissionalmente.
Como você sente o fôlego que desejava transmitir pela música chegando ao público?
Ainda que eu esteja falando de coisas sérias, achei que o afoxé tinha tudo a ver. Fiz tudo pensadinho para passar essa mensagem do jeito que eu achei que funcionaria. É massa, porque eu lembro que terminei o clipe e fui mostrar pra galera do estúdio e os três choraram. Eu acho que o clipe tem muito mais sentido quando a gente abre com as pessoas falando um pouco delas. Muita gente entendeu a mensagem, quis saber mais sobre a história das pessoas. Achei lindo que ninguém cobrou que eu aparecesse mais, só minha mãe!
Imagem: Sérgio Fernandes
Como foi gerida a deia de produzir o EP junto com um mini.doc?
Eu comecei a pensar que eu precisava fazer alguma outra coisa que me desse dinheiro, conversei com o Lucas (produtor) e comecei a trabalhar na Dahouse (espaço para gravação de áudios de publicidade, que realizou a gravação do EP) e a empresa abraçou meu trampo. Começou a rolar mais shows, mais dinheiro, surgiu o documentário falando sobre as pessoas. Tudo foi se somando ao meu trampo. Com a ajuda dessa galera, as coisas foram se tornando possíveis.
Como foi regravar a canção “Zero” da Liniker?
Nas lives, a galera sempre pedia para cantar Liniker e eu ficava em pânico. Eu fiquei morrendo de medo, porque, pra mim, a Liniker é uma das maiores artistas da cena atual. Postei nos stories eu treinando, ela viu e me respondeu. Ela me mandou uma mensagem dizendo que tava lindo. Foi muito especial para mim, ainda mais por ter sido essa música.
Como foi o período de pandemia para a sua carreira?
O último show que eu fiz antes de fechar tudo foi no Aparelha Luzia, aquele show foi muito especial. A primeira vez em SP, cantando pra tanta gente, pra tanta gente preta, todo mundo cantando junto…
Quem te inspira?
No dia-a-dia, no corre, eu tenho a sorte de ter muita gente que também é artista independente que eu posso chamar no WhatsApp e trocar uma ideia, sabe? E entre as pessoas que mais me inspiram está a Nina oliveira, Anna Tréa, Kabé Pinheiro e Marcelo Mariano… A Yasmin Olí que é minha namorada, os caras do 5 a seco.
O que esperar dessa nova fase? Desde o lançamento do EP até o atual projeto ÀVUÀ, em parceria com Bruna Black?
Eu estou muito feliz de finalizar o EP, colocar o doc no mundo, de ver as pessoas ouvindo e sentindo esse fôlego que eu quero passar. Então, eu tô tranquilo de poder seguir. A Bruna é amiga de milianos, então eu tô fazendo esses lançamentos para focar no início dessa carreira com o duo. A gente teve referências próximas na música, tô muito feliz e muito ansioso. Eu falo até que cantar com ela é muito massa e não dá nem vontade de cantar sozinho.