Aberto às diversas tendências da dança e da performance contemporâneas, o Visões Urbanas – Festival Internacional de Dança em Paisagens Urbanas chega à sua 16ª edição. Realizado pela Cia. Artesãos do Corpo, o evento acontece de 6 a 22 de junho, em nove espaços de São Paulo e com uma extensão em Campinas. As ações ocupam unidades do Sesc (Consolação e Santo Amaro), equipamentos culturais como a Biblioteca Mário de Andrade, o Arquivo Histórico Municipal, o Centro Cultural São Paulo, o Centro de Referência da Dança, além de áreas públicas como o Parque Trianon e o Vale do Anhangabaú.
Entre obras artísticas de companhias consolidadas e novos criadores, o festival apresenta cerca de 35 atividades gratuitas, que possibilitam a aproximação de artistas e comunidade. A estrutura do festival também privilegia uma intensa programação de oficinas, montagens voltadas para as infâncias na mostra “Urbaninhas”, coprodução de três obras inéditas de artistas periféricos e a mostra internacional de videodança InShadow, em parceria com a VoArte, de Lisboa, Portugal.
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Para iniciar a maratona de dança pela cidade, o espetáculo “CorpoConcreto”, da Cia. Base, de São Paulo, sobe, literalmente, ao prédio da Biblioteca Mário de Andrade no dia 6 de junho, sexta-feira, às 16h30. Na obra, o grupo paulista experimenta as possibilidades da dança fora do chão, o movimento suspenso usando a cenografia da cidade como fundo. O desafio da gravidade em prédios onde dançarinas possibilitam a descoberta de figuras e formas infindáveis de dançar, demonstra uma preocupação crítica com a mecanização da vida industrial nos grandes centros urbanos. Uma viagem sensorial entre a dança, o espaço urbano, o movimento e a arquitetura.
Espetáculos inéditos no Brasil
Criado pelos artistas e pesquisadores Ederson Lopes e Mirtes Calheiros, que assinam a curadoria, o festival tem como proposta usar a dança como forma de recuperar a rua, resgatar os espaços públicos, provocar e criar estranhamentos e ser um alívio ao cenário cinza e tumultuado da cidade. Segundo eles, a edição 2025 do festival traz em sua programação criações que habitam o chão, o céu, as paredes, os espaços intervalares e os espaços simbólicos e históricos da cidade.
“Os artistas compartilharão com o público suas inquietações, poesias e artes em forma de gestos, movimentos, manifestos e danças e questionarão sobre o real sentido do espaço público e sobre as formas da arte habitar e dialogar com a cidade e seus cidadãos. Quando movemos nossos corpos na cidade algo se modifica e transforma o entorno”, pontua Mirtes.
Com obras e artistas de São Paulo, Diadema e Belo Horizonte, além de Japão, Colômbia, Canadá, Portugal, Bélgica e Espanha, o festival traz em sua programação quatro espetáculos internacionais inéditos no Brasil. Dançarino da consagrada Cia. Sankai Juku, o coreógrafo e bailarino japonês Dai Matsuoka, apresenta a performance “De-tale”. Estreada na Kanagawa Arts Theater Exhibition 2017, a obra é um solo criado para misturar as emoções primitivas que os movimentos simples do corpo poderiam estimular com a intensidade da linguagem acumulada de butô.
Reconhecida como uma das dez melhores obras do ano em Portugal pelos p jornais Público e Expresso, “Ghost”, da Marrafa Dance Company (Portugal-Bélgica), é um solo de oito minutos de Luis Marafa em plena harmonia com a música de Bach. Em cena, um homem recém-nascido emerge, deixando para trás a escuridão do passado. Vestido com cores renovadas, ele personifica a transformação e o renascimento.
Também fazem suas estreias no Brasil as obras “Minguantes”, dos bailarinos espanhois Armando Martin e Ana Beatriz Pérez, da companhia La Guajira, que mergulha no universo temporal de dois indivíduos que envelhecem e “Flapping” (Colômbia-Canadá) dos artistas Margarita María Milagros e Juan Kiroga, inspirada na ação de voo de um pássaro a partir de diferentes padrões rítmicos de sapateado.
Pluralidade
Com temas urgentes e atuais, as obras presentes na programação trazem para o espaço urbano debates sobre a invisibilização de corpos, a política e o diálogo com outras linguagens artísticas, como a performance e as artes visuais. É o caso de “Duo para 2 Perdidos”, da Cia Dual (SP), que aborda a relação entre dois mundos corporais distintos em choque e diálogo a partir de suas singularidades. Baseado no universo do texto teatral “Dois Perdidos Numa Noite Suja”, de Plínio Marcos, o espetáculo com Hélio Feitosa e Ivan Bernardelli lança olhares para um vocabulário corporal que evidencia contrastes.
A representação das mulheres nas artes cênicas e nos bastidores emerge como uma força crítica e criativa que desafia estruturas patriarcais, dá voz às experiências femininas e promove a equidade de gênero. No espetáculo “In(tensões)”, da Cia. Palácio das Artes, de Belo Horizonte (MG), o elenco masculino atua sob a direção do elenco feminino revisitando as obras de repertório da companhia. A partir dessa configuração, a obra se reinventa e se adapta aos espaços de apresentações.
Já “Ato”, da Cia Fragmento de Dança (SP) e direção de Vanessa Macedo, é inspirado na forma como as pessoas se organizam em atos e manifestações políticas. Os gestos são os disparadores de uma construção que se complexifica na insistência, na repetição, no ritmo e nos corpos que se organizam como se fossem um quadro vivo.
Inspirados pela série de fotos “Esculturas do Inconsciente”, do fotógrafo Tatewaki Nio, que capturam paisagens suspensas no tempo, aparentemente desocupadas, repletas de sombras, de sobras, de texturas atemporais e de inacabamentos, a Cia. Artesãos do Corpo apresenta “Estranhos seres nebulosos e ilusórios”.
Incentivo para jovens artistas periféricos
O Visões Urbanas abre espaço para que artistas, que desenvolvem suas pesquisas em espaços e territórios fora do centro, compartilhem suas potências criativas e trajetórias singulares por meio de coproduções. A ideia é abrir o diálogo, à escuta e ao reconhecimento de narrativas que muitas vezes são invisibilizadas.
Em 2025, o festival selecionou três espetáculos, que fazem suas aberturas de processos criativos. O solo de Lucimeire Monteiro “Ìrìn Àjò – Corpo em Travessia”, investiga os atravessamentos entre corpo, cidade e espiritualidade afro-brasileira, partindo da metáfora da jornada como movimento ancestral, rito e decisão.
Sonhado pelas investigações de Erico Santos, “Caboclinho” é um trabalho que pulsa ao ritmo das infâncias encantadas. O processo de pesquisa, inspirado nos caboclinhos da Jurema Sagrada, é guiado pela história de um caboclinho que nasce na mata, se perde na fumaça do concreto e reencontra sua força ancestral ao lembrar quem é.
Já “Dudu”, do Revide – Núcleo de Dança e Performance, é um solo da artista Ana Musidora sobre a metamorfose, o processo de enraizamento da semente de jatobá.
Dança para crianças
A 16ª edição do festival também traz quatro espetáculos dentro da mostra “Urbaninhas”. A “Zzzzzzonas de Ação”, da Plataforma Panelinhas (SP), é uma dança-instalação, um diálogo entre composição coreográfica e improvisação, que faz a praia visitar a cidade por alguns instantes.
Espetáculo de dança do Núcleo Pé de Zamba (SP), para crianças e seus acompanhantes, “Cor-Ação” se inspira na beleza e na alegria causadas pela presença das cores nas manifestações culturais brasileiras. Com música ao vivo autoral, o espetáculo mergulha nas qualidades e funções que as cores podem ter sobre as pessoas e sobre suas vidas.
A importância do respeito, da amizade e da solidariedade norteia a montagem “Vamos!”, da Cia de Danças de Diadema (SP). Enquanto “Jacking Baile: Performance” é uma iniciativa da companhia Nós D’água de Dança (SP), que propõe uma imersão na cultura House por meio da dança e da música. A performance valoriza a ancestralidade negra e convida o público a participar ativamente, compartilhando a pista com dançarinos e músicos em uma experiência coletiva e vibrante.
Confira a programação completa e mais informações na página do festival no Instagram.