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Movimento negro do Piauí denuncia embraquecimento de Esperança Garcia em espetáculo teatral

Escolha da ex-BBB Gyselle Soares para interpretar a primeira mulher advogada do Piauí gerou repercussão nas redes socais e protesto na noite de estreia; atriz declarou ser de ‘de todas as cores’ 

Texto: Redação I Edição: Lenne Ferreira I Imagem: Reprodução/Instagram

Movimento Negro do Piauí denuncia embraquecimento de Esperança Garcia em espetáculo teatral

13 de outubro de 2021

O movimento negro do Piauí denuncia representação branca de um dos maiores símbolos da história negra do país, a primeira advogada do estado, Esperança Garcia. Ação critica os realizadores do espetáculo “Uma escrava chama Esperança”, que convidaram a ex-BBB e atriz Gyselle Soares para protagonizar a história da advogada. Com estreia realizada na última terça-feira (12), a peça foi marcada por protestos que expuseram a tentativa de embranquecimento da história negra e uma manifestação em frente ao principal teatro da capital, o Theatro 4 de Setembro.

Para líderes e representantes da luta antirracista no estado, a escolha de Gyselle surge como uma tentativa de apropriação da história do povo negro em virtude de lucro e não condiz com a trajetória da advogada desde a escolha errônea do termo “escrava” no título do espetáculo, como nos diálogos apresentados. Frases como “escravizei-me quando não descobri meu real valor”, “escravizei-me quando aceitei que não tinha o direito de aprender a ler”, “escravizei-me quando desistir de amar no meio de tanta dor” e “a minha alma tem cor?” são proferidas pela atriz durante a apresentação. 

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Gyselle não se manifestou nas redes socais sobre o assunto, mas, em entrevista ao G1, afirmou que, para ela, pele não tem cor, afirmando não entender a problemática sobre sua atuação no espetáculo. 

“Eu me considero todas as cores, sem cor, um ser humano com coração que pode sentir tudo, de todo mundo. Estamos no mundo, somos todos iguais, nossa pele não tem cor, nosso coração não tem cor, não podemos nos definir assim”, afirmou ao portal.

Em entrevista à emissora local TV Clube, o diretor do espetáculo, o também ator Valdsom Braga, afirmou que a atriz não pode ser discriminada por sua atuação e afirmou ter tentado entrar em contato com lideranças do movimento negro local, mas que não obteve retorno, o que não foi confirmado pelos militantes. 

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Valdsom – que também já havia sido denunciado por apropriação ao retratar a história da artista símbolo do feminismo, a artista Frida Khalo – ainda complementou sua posição declarando à emissora que “para a arte negro, branco, ruivos, amarelos, indígenas ou outras definições podem lutar pela inclusão de direitos humanos”. 

Representando a classe teatral, a Trupe de Mulheres Esperança Garcia, coletivo que atua na democratização do acesso ao teatro e ao direito da mulher, declarou ser contra a veiculação do espetáculo. Em nota publicada no Instagram do grupo, declarou que “somos suscetíveis ao erro, no entanto, quando esse erro está sendo apontado em massa por pessoas pretas, que sofrem na pele, na alma a opressão, percebemos que não reverberou do lado de lá”. 

Uma nova data de apresentação ainda não foi confirmada por Valdsom e Gyselle. Lderanças do movimento antirracista local pedem que o Theatro 4 de Setembro reavalie a vinculação do espetáculo à grade de programação da casa. 

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