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Após três anos fechado, Muncab reabre em Salvador com exposição ‘Um Defeito de Cor’

Exposição é baseada no livro da escritora mineira Ana Maria Gonçalves e reúne mais de 300 obras de diferentes artistas; mostra fica disponível até 2024
Imagem mostra quadros em preto e branco de exposição em Salvador. Há pessoas negras segurando cartazes com dizeres como "Reparação Já".

Foto: Dindara Paz/Alma Preta

7 de novembro de 2023

Localizado no Centro Histórico de Salvador (BA), o Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) reabriu as portas na segunda-feira (6) com a exposição “Um Defeito de Cor”. A mostra fica disponível até março de 2024 e a entrada será gratuita até o dia 13 de novembro. Após o período, os ingressos irão custar entre R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira).

Inaugurado em 2009, o Muncab foi projetado para ser um centro de preservação, difusão e disseminação da cultura afro-diaspórica nas Américas e foi idealizado pelo poeta José Carlos Capinan, o artista plástico Emanoel Araújo, os historiadores Ubiratan Castro e Jaime Sodré, além do advogado e filho de Marighella, Carlos Augusto Marighella.

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O local estava fechado desde 2020 e a reabertura foi viabilizada por investimentos e aportes intermediados pela Prefeitura de Salvador com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), co-realizadora da mostra, e o Museu de Arte do Rio (MAR). A meta, segundo a Prefeitura de Salvador, é tornar o espaço o maior museu afrodiaspórico da América Latina.

Com direção das artistas e produtoras negras Cíntia Maria e Jamile Coelho, o Muncab também irá contar com um complexo de outros dois prédios onde irão funcionar um museu escola e um espaço de ampliação do museu. O projeto ainda está em fase de planejamento e não há previsão para ser lançado.

“Por muito tempo aqui em Salvador existia um museu que ficou conhecido como Nina Rodrigues em que as pessoas visitavam e tinha a criminalização da cultura afro-brasileira, então o Muncab vem também como uma forma de reparação. A exposição ‘Um defeito de cor’ faz uma análise crítica das contribuições da população afro-brasileira, que mostra a diversidade e a riqueza que é a nossa produção artística e acho que isso é muito especial”, comenta a diretora Cíntia Maria em entrevista à Alma Preta.

Além de contar com acervo permanente com obras de nomes como Mestre Didi e Yedamaria, o museu também disponibiliza um aplicativo de realidade aumentada em três idiomas e promove o Projeto Erês, voltado para contação de histórias de mitologias africanas para crianças do Ensino Fundamental.

“Uma coisa que sempre me incomodou muito foi essa questão da gente não se ver representado em diferentes espaços e muitas vezes, mesmo nos museus, a gente acaba tendo uma representação estereotipada, racista, e o Muncab chega contrapondo tudo isso pensando nas exposições afrocentradas. Nada de nós sem nós”, destaca Cíntia Maria.

A história por trás da exposição

Considerada a exposição do ano em 2022, “Um Defeito de Cor” é baseado no livro da escritora mineira Ana Maria Gonçalves e conta a história de Kehinde, uma africana escravizada que viaja da África para o Brasil em busca do filho ao mesmo tempo em que se insere nas lutas e conquistas históricas travadas pela população negra no país no período do Império, de 1882 a 1889.

Em entrevista à reportagem, a escritora Ana Maria Gonçalves explica que a exposição é composta a partir da leitura das mais de 100 artistas que dialogam com o livro.

“A sensação que eu tenho é que a história está voltando para casa […] Eu digo que ela [a exposição] não está contando a história do livro, ela está contando a história que está no livro mas cada artista fez ao seu modo. Eu acho que é importante a gente se apropriar da própria história, processar e colocar isso para fora de um determinado jeito”, afirma.

Ao todo, a exposição conta com mais de 370 obras, como as esculturas do artista plástico baiano Mestre Didi, fotografias do nigeriano Iké Udé, gravuras da baiana Yedamaria, fotografias de Pierre Verger e pinturas e ilustrações do argentino Carybé.

No período em que esteve no Museu de Arte do Rio (MAR), entre setembro de 2022 e agosto de 2023, a mostra recebeu cerca de 165 mil visitantes. Para a escritora, a exposição chama atenção do público por levar a representatividade e a narrativa da população negra para os espaços culturais.

“Geralmente são espaços em que o público negro não se sente muito à vontade exatamente porque nunca se viu representado ali dentro. Eu espero que aqui em Salvador ela seja recebida com essa mesma curiosidade e espelhamento que o público que visitou a exposição lá no Rio teve”, completa Ana Maria Gonçalves.

A curadoria da mostra é assinada pela própria escritora Ana Maria Gonçalves, pelo curador-chefe da exposição Marcelo Campos, e pela gerente de curadoria do Museu de Arte do Rio (MAR), Amanda Bonan. A exposição fica disponível no Muncab até 3 de março de 2024.

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  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

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