Se estivesse vivo, Bob Marley completaria 80 anos nesta quinta-feira (6). O cantor e compositor jamaicano revolucionou a música ao popularizar o reggae no cenário mundial e transformar o gênero em um veículo de mensagens de resistência, paz e igualdade social.
Suas músicas abordavam temas como a luta contra o racismo, a valorização do povo negro e a espiritualidade rastafári. Canções como “One Love“, “No Woman, No Cry” e “Redemption Song” seguem sendo lembradas como hinos de liberdade e irmandade mesmo quatro décadas após a morte do artista.
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Marley nasceu em 6 de fevereiro de 1945, na vila de Nine Mile, na Jamaica. Na década de 1960, iniciou sua carreira com a banda The Wailers ao lado de Peter Tosh e Bunny Wailer. Com a fusão do ska e do rocksteady, ele ajudou a moldar o reggae como é conhecido hoje. O sucesso mundial ocorreu na década de 1970, quando seu som passou a conquistar públicos na Europa e nos Estados Unidos.
A visita ao Brasil e o futebol com Chico Buarque e Moraes Moreira
Em março de 1980, Bob Marley veio ao Brasil para divulgar sua gravadora, a Ariola. A visita, que poderia ter sido barrada pela ditadura militar, aconteceu de forma discreta. No Rio de Janeiro, Marley demonstrou sua paixão pelo futebol, reunindo-se com grandes nomes da música e do esporte brasileiro.
Uma das cenas mais marcantes dessa passagem foi um jogo de futebol improvisado no campo do Politheama, time amador de Chico Buarque. Entre os participantes estavam Moraes Moreira, Paulo Cézar Caju e Toquinho. Segundo relatos, Marley se esforçava bastante em campo, mas seu desempenho dividiu opiniões. Enquanto alguns destacaram sua habilidade, outros brincaram que ele era “meio duro” jogando.
Além do futebol, Marley aproveitou a estadia para explorar o Rio. Foi ao Morro da Urca, participou de eventos musicais e experimentou a gastronomia brasileira. Entre suas preferências estavam o suco de frutas e o peixe cru, que lhe foi servido por amigos brasileiros.
Foto com a camisa do Santos
Outro momento inesquecível de sua visita foi o registro de Marley vestindo a camisa do Santos Futebol Clube. A imagem, feita pelo fotógrafo negro Walter Firmo, tornou-se histórica.
O encontro com o time paulista quase não aconteceu, pois o governo militar via com desconfiança qualquer aproximação com Marley, devido ao seu discurso antirracista e seu ativismo social. No entanto, a visita ao CT do Santos foi confirmada e o jamaicano posou orgulhoso com a camisa do clube.
A relação de Marley com o futebol era intensa. Ele considerava o esporte essencial para sua vida, tanto que levava bolas de futebol em suas turnês e jogava sempre que possível. Antes de sua morte, chegou a afirmar que, se não fosse músico, teria sido jogador profissional
A influência de Marley na música brasileira
A visita de Marley ao Brasil coincidiu com o momento em que o reggae começava a ganhar popularidade no país. O principal responsável por essa difusão foi Gilberto Gil, que incorporou o ritmo jamaicano em suas composições e ajudou a popularizá-lo entre o público brasileiro.
Gil sempre demonstrou profunda admiração pelo trabalho de Marley e chegou a afirmar que ele foi “um dos grandes intérpretes da consciência de exclusão e da desigualdade”. O cantor baiano também declarou que Marley foi o último artista a quem dedicou uma atenção especial e que até hoje suas músicas seguem entre as que mais gosta de ouvir.
Bob Marley era um dos grandes intérpretes dessa consciência de exclusão, da desigualdade. Foi o último artista a quem eu dediquei uma atenção profunda, específica e permanente. Hoje em dia, ainda é das coisas que eu mais gosto de escutar.
— Gilberto Gil (@gilbertogil) February 6, 2020
Com o passar dos anos, o reggae se consolidou como um dos gêneros mais apreciados no Brasil, especialmente no Maranhão, onde o ritmo se tornou uma identidade cultural do estado. Artistas como Edson Gomes, Cidade Negra e Tribo de Jah beberam da fonte de Marley e ajudaram a manter vivo o legado do reggae no país.
Bob Marley morreu em 11 de maio de 1981, com apenas 36 anos, mas continua a ser um dos artistas mais influentes da história da música. Seu legado vai além das canções e ressoa nos movimentos sociais que defendem a igualdade, a justiça e a valorização da cultura negra.