Uma das obras-primas da literatura brasileira, “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, ganhou uma nova e ousada adaptação no formato de musical, em cartaz no Teatro Estúdio, em São Paulo, para uma curta temporada com sessões às segundas, terças e quartas.
A realização independente é fruto da parceria entre A Casa Que Fala e a Tomate Produções, sob a direção do renomado e premiado Zé Henrique de Paula, que traz uma visão inovadora e sensível para a obra. As letras, músicas e direção musical são assinadas por Guilherme Gila, o texto adaptado ganha os contornos do ator e escritor Davi Novaes e a direção de movimento é de Zuba Janaína.
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O projeto de “Dom Casmurro” foi gestado ao longo de três anos, em um processo colaborativo que buscou não apenas adaptar, mas também reinterpretar a história de Bentinho, Capitu e Escobar através de uma nova linguagem. Guilherme Gila e Davi Novaes, identificaram um “gap” no mercado de musicais brasileiros, onde muitas produções se concentram em biografias, enquanto Gila sonhava em trazer as obras literárias nacionais para o palco.
“Percebi que muitos musicais que amamos no exterior são adaptações da literatura, e assim decidi focar em nossos clássicos. ‘Dom Casmurro’ logo se destacou como uma escolha perfeita”, explica ele.
A ideia para o musical surgiu em 2021, durante a pandemia, em um contexto onde o teatro precisou se reinventar. Os dois criadores se encontravam toda segunda-feira para alinhar ideias e compartilhar o que havia sido escrito.
“Era um verdadeiro laboratório criativo onde um texto poderia se transformar em música e vice-versa. Quando o Zé entrou no projeto, novas camadas de interpretação surgiram, trazendo uma visão fresca e contemporânea para a narrativa”, detalha Gila.
Adaptar uma obra tão rica e complexa como “Dom Casmurro” apresenta desafios significativos. Davi enfatiza a importância de manter a essência machadiana enquanto oferece uma nova perspectiva. “Tentei me ater ao livro o máximo possível, mas também busquei criar uma narrativa que dialogasse com o público atual. Na nossa versão, Bentinho, o narrador, é uma fonte não confiável, o que gera ambiguidade e permite que exploremos diferentes camadas da história”, explica Novaes.
Para contar essa história rica em nuances emocionais, o elenco foi cuidadosamente selecionado. Luci Salutes assume o papel de Capitu, a enigmática protagonista com seu olhar “de cigana”, que provoca paixões e dúvidas em Bentinho. Rodrigo Mercadante interpreta Bentinho, o narrador consumido por ciúmes e inseguranças, enquanto Cleomácio Inácio encarna Escobar, o melhor amigo cuja relação com Capitu gera conflitos.
Larissa Carneiro assume a forma de Prima Justina, a figura leal que contrasta com os dilemas dos protagonistas, e de Sancha, amiga de Capitu e esposa de Escobar. Fábio Enriquez assume o papel de José Dias, o curioso agregado da família, e Nábia Villela traz à vida Dona Glória, a mãe influente que molda as decisões de Bentinho.
Por fim, Eduardo Leão interpreta Tio Cosme, o parente sábio que oferece cautela em meio ao turbilhão emocional da trama. Juntos, esse talentoso elenco promete uma interpretação rica e profunda dos conflitos da narrativa clássica.
Um dos aspectos mais inovadores da adaptação é a escolha musical. Gila e Novaes optaram por uma trilha que vai do rock à MPB, refletindo as emoções e conflitos dos personagens. Para a fase em que Bentinho se rebela contra a decisão da mãe de se tornar padre, o rock and roll foi escolhido como símbolo de rebeldia.
“Buscamos construir um cancioneiro que não só acompanha a narrativa, mas que também amplifica as emoções que Machado de Assis evoca em seus escritos”, afirma Gila, que também está ao piano e na regência da banda composta por, Samir Alves (violino), Felipe Parisi (violoncelo) e Daniel Alfaro (percussão).
Além da música e do texto, a produção conta com uma equipe técnica talentosa, incluindo Fran Barros no desenho de luz e Cauê Palumbo no desenho de som, que trabalham em conjunto para criar uma atmosfera única. O figurino é de Ùga agÚ e o visagismo é de Jo Sant Anna. A cenografia é de responsabilidade de Zé Henrique de Paula, que se inspira nas nuances da obra para criar um cenário que dialogue com a narrativa. O diretor em jornada dupla conta com a assistência de direção de Mafê Alcântara.
O musical não é apenas uma adaptação; é uma celebração da obra de Machado de Assis e da riqueza da literatura brasileira. O espetáculo promete levar o público a uma jornada emocionante e envolvente, onde a história de Bentinho e Capitu é contada de uma maneira vibrante e contemporânea.
Serviço
“Dom Casmurro – Musical inspirado na obra de Machado de Assis”
Quando: temporada até 27 de novembro
Sessões: segundas às 20h | terças às 20h | quartas às 20h (exceto 6/11)
Onde: Teatro Estúdio | Rua Conselheiro Nébias, 891 – Campos Elíseos – São Paulo/SP
Classificação livre e duração de 120 minutos
Ingressos no Sympla