As partituras de Almerinda Farias Gama (1899-1999), uma figura histórica na luta pelos direitos das mulheres negras no Brasil, foram encontradas nos arquivos da Escola Nacional de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A descoberta trouxe à luz um aspecto pouco conhecido da vida da sindicalista, sufragista e datilógrafa alagoana: sua atuação como compositora em gêneros como baião, samba e valsa.
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O achado foi conduzido pela jornalista e pesquisadora Cibele Tenório, da Universidade de Brasília (UnB), que está escrevendo um livro sobre Almerinda, com lançamento previsto para o próximo ano pela editora Todavia.
A música resgata a história
A pianista Renata Sica, encantada com a descoberta, gravou as composições, dando nova vida às obras de Almerinda. As partituras, disponibilizadas pelo Instituto do Piano Brasileiro (IPB), incluem temas que tratam de amor, lendas amazônicas (inspiradas no período em que Almerinda viveu em Belém) e canções de ninar.
Ao todo, foram localizadas partituras de 29 obras, sem datas identificadas, que oferecem um vislumbre das experiências e do imaginário da compositora. A repercussão da redescoberta sublinha o poder da música como ferramenta para resgatar histórias esquecidas e inspirar futuras gerações.
Uma vida de lutas e conquistas
Almerinda nasceu em Alagoas, apenas 11 anos após a abolição da escravatura, e superou barreiras impostas pela pobreza, o racismo e o machismo de sua época. Além de sua produção musical, Almerinda Farias Gama é lembrada por sua militância.
Foi uma voz ativa na luta pelo sufrágio feminino e pelos direitos trabalhistas. Como mulher negra no início do século XX, sua trajetória rompeu barreiras sociais e culturais e estabeleceu um legado tanto na arte quanto na política.
Kátia Santos, professora e pesquisadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ, observa que histórias como a de Almerinda são raras e revolucionárias. Muitas vezes, dentro das próprias famílias negras, a arte não é vista como prioridade, pois a necessidade de sobreviver é mais urgente.
Para Kátia, as conquistas de Almerinda, com sua música e sua luta, representam uma quebra de paradigmas, desafiando a marginalização histórica das mulheres negras na cultura brasileira.
Texto com informações da Agência Brasil.