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Do flow da poesia para o Rap: Bell Puã estreia na música com “Dale”

Uma das principais representantes da poesia marginal brasileira, Bell Puã traça novos caminhos na carreira e apresenta novo single; versos que evocam referências como o Mangue Beat, o rapper Sabotage e o movimento Slam das Minas PE

Texto: Victor Lacerda I Edição: Lenne Ferreira I Imagens: Mateus Bernardo/Subverso Lab

Pernambucana Bell Puã estreia carreira musical com a obra audiovisual “Dale”; assista!

29 de junho de 2021

A poetisa marginal pernambucana Bell Puã abre espaço para almejada carreira musical com o lançamento do seu primeiro single, “Dale”, que dá o pontapé inicial de sua relação produzindo Rap. Dividindo o tempo entre a maternidade, os estudos e a arte, a cantora precisou se reinventar durante a pandemia e aproveitou para investir na multiplicidade do seu fazer artístico. A faixa chega acompanhada de um clipe roteirizado pela própria artista com o empoderamento do povo negro como eixo central de sua mais nova obra. 

Aos 28 anos, Bell Puã é uma das principais representantes da poesia marginal brasileira. Com mestrado em História e dois livros autorais lançados, a artista, que conquistou o 1º lugar do Campeonato Nacional de Poesia Falada SLAM BR 2017, leva para a música as referências que sempre marcaram seus versos recitados. 

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“Passei durante a minha carreira abordando a importância de nos empoderarmos enquanto pessoas negras. Seja na literatura ou na poesia falada, onde comecei, mas sempre numa perspectiva mais afrontosa e intensa, falando das mazelas, dificuldades e expondo elas para o mundo. Cria do slam, já bordei temas mais densos, como desigualdade e genocídio. Nesse trabalho com a música, quis tratar mais sobre autoestima, exaltando as vivências belas e maravilhosas que nós pretos queremos mostrar. Isso para um entendimento de que nossas referências transcendem as limitações que o racismo quer nos colocar. Nós somos múltiplos”, afirma em conversa com a Alma Preta Jornalismo

Produzida pelo produtor musical Magno Brito no estúdio Câmbio Sonoro, “Dale” tem produção executiva assinada pela “Bola 1 Produção”, que a artista integra ao lado dos produtores Edua Gomes e Rodrigo Ramos. O projeto, trabalhado desde o começo deste ano, traz a sonoridade do Trap e revela as referências que influenciaram a cantora ao longo de sua vida. 

“Minhas influências musicais paternas passam pela Bossa Nova, MPB, o Baião, enquanto que por parte da minha mãe carioca, aprendi a ouvir o Samba, Funk, Pagode e ícones Pops como Michael Jackson. Mas o Rap é a minha escola, é onde mais me sinto em casa na música. Sempre ouvindo sobre injustiças, deboches e afrontas com o povo preto que tanto gostaria de dizer. Escolhi, com o Rap, dizer também”, pontua a artista, que adotou “Maga” como pseudônimo e personagem do seu clipe, além de reforçar o valor místico das mulheres negras do nordeste do Brasil. 

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A artista, que adotou “Maga” como pseudônimo e personagem do seu clipe, reforça o valor místico das mulheres negras do nordeste do Brasil em novo trabalho

Sobre as referências usadas na obra audiovisual, a artista revela um mergulho no passado, trazendo elementos que remetem à infância e juventude para compor as cenas do novo trabalho. “O clipe de ‘Dale’ funde muitos mundos meus. Na produção, me conecto com minha criança e minha juventude, como a referência na parede ocupada por pôrsters de Red Hot, Britney Spears e Pocahontas. Fui inspirada por essas obras. Essa foi a minha juventude e a isso que tive acesso. Mesmo tendo referências brancas, nem por isso deixei de buscar referencias novas ao passar dos anos, tendo mulheres e homens negros para me inspirar ao passo do meu entendimento. Na vida adulta, completei esse pacote da melhor forma”, afirma. Nomes como o da americana Missy Elliot e dos brasileiros Cristal, Léo da Bodega, Hórus e Bione são referências atuais para a artista em sua nova fase. 

Questionada sobre a nova fase a ser lançada durante a pandemia, a artista afirma que o processo foi cauteloso para definição de todo cronograma agendado para este ano. “Fiquei com vários receios, ansiedades no começo, ao mesmo tempo entendendo, quero entrar no jogo, lançar minha carreira é preciso entender que o meu povo sempre viveu essas situações mais violentas e inusitadas e fizeram muita música linda durante esses processos. a nossa história é isso. pretendo focar na energia certa para fazer acontecer e que esse tempo de pandemia seja o mais breve possível”, afirma Puã.  

PROTAGONISMO NEGRO NA EQUIPE

A equipe envolvida em todo processo de produção do clipe é majoritariamente composta por pessoas negras. Para Bell, trabalhar com o time de profissionais conscientes do racismo estruturante da sociedade  foi uma forma de mostrar a força criativa do Nordeste. 

A falta de representatividade na mídia e o espaço conquistado pelas artistas negras estão entre os motes do clipe que foi todo ambientado no Litoral Sul do Estado. A maior parte das imagens foram filmadas no mangue da praia de Maracaípe e contou com direção de arte de Bell e do coletivo audiovisual SubversoLab, também responsáveis pela direção de fotografia e edição do clipe.

Com a estreia, Bell ainda constrói versos que evocam referências como o Mangue Beat, o rapper Sabotage e o movimento Slam das Minas PE, que é representado pelas poetas Patrícia Naia, Amanda Timóteo, Olga Universos e Cris Andrade.

O vídeo também conta com as participações especiais da cantora, performer e dançarina não-binária Crys Mun Há e de Dora Buarque. “Acabou sendo também uma forma de gritar o tamanho do absurdo que é um país conservador como o Brasil, através de projetos cruéis como a PL 540 de 2020, querer tratar pessoas LGBTQIA+ como “ameaças às crianças”, pontua.  

Moda sustentável foi outra pauta importante que acabou sendo tocada na produção graças à contribuição do brechó Cabrochas, que assina o figurino. Maria Gabrielly Dantas e Julia Mattos produziram tudo a baixo custo, a exemplo da roupa da “Maga”, feita de tecido tule. A maior parte dos acessórios foram feitos a partir de material reciclado.

PRÓXIMOS PASSOS

“Eu e minha equipe já temos uma música engatilhada, que pretendemos lançar no próximo semestre, se tornando o segundo single. Mais sereno e em outro tom, o trabalho vai falar de questões que me afligem e me incomodam no rap nacional, como o machismo presente na cena. Sentimentos meus expostos sobre a temática em ritmo de trap”, revela durante entrevista. 

Com planejamento já pensado para o próximo ano, a pernambucana revela que não vai parar de produzir dentro do universo musical e tem projetos em mente que, em breve, serão executados. “Acredito que um EP e um disco serão os próximos passos a longo prazo. A gente espera que o ano que vem seja o tempo de começar a produzir, mas sem datas”, finaliza.

Assista ao clipe de “Dale”:

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