Paris – A medalhista de ouro brasileira Beatriz Souza conversou com a Alma Preta, em Paris, às margens de uma coletiva da equipe de judô na Casa Brasil, na segunda-feira (5), no Parc de la Villette. Estreante em Jogos Olímpicos, a judoca de 26 anos venceu a israelense Raz Hershko na categoria acima de 78 kg, conquistando a primeira medalha dourada brasileira das Olimpíadas de 2024, na sexta-feira (2).
A vitória superou expectativas, uma vez que até então não só a adversária na final, como também a adversária na fase anterior, a francesa Romane Dicko, eram consideradas favoritas. Hershko e Dicko eram até então a primeira e a segunda colocadas do ranking mundial de judô, enquanto Souza era a quinta. Questionada sobre o favoritismo das adversárias, a brasileira mostrou confiança.
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“Eu vim muito preparada em busca da medalha. Eu queria, sim, ser campeã e vim com isso em mente. O fato de eu estar totalmente preparada para isso se deu porque eu vim para a guerra, vim para dar meu máximo”, disse a brasileira, que subiu no ranking mundial após a medalha de ouro e é agora a segunda colocada, atrás apenas da francesa Romane Dicko. Ambas são negras.
Inspiração para mulheres negras: ‘somos muito fortes’
Nessas Olimpíadas, as equipes brasileiras têm se destacado pelo desempenho de atletas negros. É o caso não só de Beatriz Souza, mas também de Rebeca Andrade, Rayssa Leal, Rafaela Silva, Ketleyn Quadros e outros nomes do Time Brasil. À Alma Preta, a medalhista de ouro do judô falou sobre como é ser uma atleta negra vitoriosa.
“Nós somos muito mais fortes do que a sociedade pensa, a gente não pode permitir que eles cresçam sobre nós, nós somos iguais, somos muito fortes, guerreiros. As nossas famílias mostram isso há muitos e muitos anos, então temos que manter a história de ser guerreiros, grandes e vitoriosos”, disse Souza, que também conquistou uma medalha de bronze com a equipe de judô em Paris.
A campeã olímpica disse que se sente feliz por ter se tornado inspiração para “pretos e pretas do mundo todo” e que espera estar abrindo portas para que todos venham junto.
“Acho incrível ser colocada como inspiração, eu também fui muito inspirada por mulheres maravilhosas. Espero poder inspirar todo mundo no geral, as crianças também, e que eles possam ver que é possível acreditar.”
A atleta citou entre suas próprias inspirações sua mãe, sua avó e as atletas de judô Maria Suellen Altheman e Edinanci Silva.
‘No judô, é uma vida por um dia’
Sob os holofotes após a vitória, a campeã olímpica esbanja sorrisos e lembra que a conquista é compartilhada com companheiros de clube, comissão técnica e com a torcida brasileira.
“Deu tudo certo, estou aqui vivendo um sonho. Está sendo incrível receber o carinho de todos. Todo mundo torceu, vibrou e se emocionou comigo ali. Acho importante receber isso e dizer o quanto eu sou grata pela torcida de cada um. A preparação para estar aqui não foi fácil, foram anos. No judô, a gente costuma falar que é uma vida por um dia”, disse a judoca.
‘Uma mente saudável é um corpo saudável’
A brasileira diz que a trajetória até os Jogos foi intensa e que a preocupação com sua saúde psicológica foi fundamental para que ela atingisse seu objetivo em Paris.
“Foi insano meu preparo”, diz rindo. “A parte mental foi fundamental. Se a gente estiver com a mente saudável e equilibrada, a gente consegue se manter positivo, se manter para cima. Uma mente saudável é um corpo saudável. A busca desse equilíbrio e me manter positiva foi o que me trouxe aqui preparada.”
‘Minha família é minha base’
Após a conquista da medalha de ouro, imagens de Souza emocionada durante chamada de vídeo com a família ainda ao lado do tatame tocaram o coração dos brasileiros. Nas redes sociais, a torcida de seu marido, Daniel Souza, também foi lembrada. A atleta exalta o papel dos familiares em sua vida.
“É incrível esse sentimento de que estou dando orgulho para eles. É sensacional. Minha família é meu orgulho, é minha base. São meus maiores fãs desde o início, desde o primeiro dia de treino. Quando eu nem sonhava em ser atleta, eles já acreditavam em mim. Então esse sentimento de que eu honrei o nome dos meus pais, da minha família, é o mais importante”.
‘Quero que o Brasil seja o país do esporte, não só do futebol’
Apesar de vitoriosa, a judoca lembra da importância do apoio aos atletas nos momentos das derrotas em suas carreiras, uma vez que o esporte não é apenas sobre a glória da vitória.
“Acho que falta empatia. O esporte requer muito respeito e empatia. Se a gente já soubesse antes que iria ganhar algo, não teria graça. Então, o esporte é assim, é inesperado. Por mais que as pessoas se preparem, às vezes é questão de dia, às vezes é questão de tempo, de preparo, de realizações.”
Nesse sentido, a atleta também conta que quer ver o crescimento do apoio ao esporte brasileiro e compartilha o sonho de ver um país reconhecido por isso.
“O Brasil ainda é conhecido como país do futebol, mas acho que quero que ele seja reconhecido como país do esporte. Não quero só o judô em alta, mas todas as outras modalidades. Temos muitos talentos, muitos nomes, muitos olímpicos. Quero que o esporte, em si, cresça. O futebol faz parte disso. Então se ele puder fazer algo para que o esporte cresça, eu super apoio. Eu venho buscando o crescimento do esporte”.