Paris – Nesta sexta-feira (26), a Alma Preta acompanhou as movimentações no entorno do rio Sena, em Paris, enquanto ocorria a cerimônia de abertura das Olimpíadas 2024. A equipe testemunhou as barreiras policiais, o esforço de fãs de diversos países para tentar participar da abertura — mesmo sem ingressos — e a festa de milhares de pessoas ao lado do Louvre e dos Jardins das Tulherias, onde a pira olímpica foi acesa.
Durante uma caminhada de cerca de quatro quilômetros que teve início da região da Place de la Bastille, no canal de Saint Martin, e terminou no Louvre, a equipe se deparou com inúmeros policiais e formações de barreiras. Por todo o trajeto, longas fileiras de grades, guarda montada e forças especiais com armas automáticas à mostra davam o tom de um forte esquema de segurança que, para além das ameaças de terrorismo, controlava a entrada dos pagantes ao evento e dos moradores da região.
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A inovadora cerimônia ao ar livre, que entreteve uma audiência global com imagens espetaculares, deixou muitas pessoas de fora em Paris. Ao longo de todo o trajeto percorrido pela Alma Preta, diversos pontos com vista para telões internos da cerimônia reuniam fãs que se espremiam debaixo de guarda-chuvas para tentar acompanhar de alguma forma o evento.
Um deles foi o brasileiro Hugo Leonardo, chef de cozinha que mora em Paris há 12 anos, que assistiu à abertura na região da Place du Châtelet — monumento construído há mais de dois séculos para homenagear as campanhas napoleônicas.
“O preço não foi muito acessível para a gente aqui, mas ainda consegui comprar entradas para o futebol feminino”, contou o chef à Alma Preta, acrescentando que os ingressos acabaram rápido demais. Segundo publicou o The New York Times, o ingresso mais barato da cerimônia a uma semana dos Jogos custava 500 euros (cerca de R$ 3.074).
O recifense estava acompanhado de outros brasileiros que também vivem na capital francesa. Mesmo animados, os brasileiros demonstraram frustração por não poderem ir além das barreiras policiais. Um deles disse acreditar que, apesar do evento ao ar livre, a festa não tinha caráter popular.
Apesar disso, Hugo se mostrou feliz com a experiência: “Acompanhei as Olimpíadas muitos anos pela televisão e, hoje, tive a oportunidade de não ver lá [no rio Sena], mas uma rua antes. A chuva atrapalhou um pouco”.
De fato, ao longo das cerca de quatro horas de cerimônia de abertura, a chuva foi pano de fundo constante. Mesmo com vários períodos de intensidade, a água não impediu fãs de se aglomerarem. Nas barreiras e nos bares, estrangeiros gritavam ao ver nas telas e telões as delegações de seus países de origem. A certa altura houve até momentos de vaias quando, por exemplo, a delegação de Israel surgiu no telão. O país enfrenta protestos por sua participação da competição enquanto perpetua um massacre na Faixa de Gaza.
Vitor Neves, agente de saúde e professor de 36 anos, é um dos que enfrentou a chuva para acompanhar a cerimônia do lado de fora. Vindo de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, ele está viajando pela Europa com o namorado francês e um grupo de brasileiros. Essa é a segunda experiência olímpica dele — a primeira foi na Rio-2016.
Neves era uma das centenas de pessoas que tentavam enxergar pelas frestas das grades os telões instalados ao lado do Hôtel de Ville, que abriga o governo municipal de Paris desde 1357. Apesar das telas funcionando, o acesso ao público estava fechado no local.
“[O que me traz aqui] é a felicidade de ver tanta gente de tantos lugares do mundo. É uma oportunidade única de ver a humanidade dando certo, porque a parte ruim da humanidade nós vemos em vários lugares: na guerra, na intolerância, de vários jeitos, mas aqui é uma oportunidade de ver que é possível, que deu certo”, disse o brasileiro otimista.
Festa no Louvre
Apesar do número de barreiras ao longo de todo o trajeto, no entorno do Museu do Louvre e dos Jardins das Tulherias, o acesso estava menos rigoroso. Ali, milhares de pessoas com acesso gratuito se aglomeravam à beira do Sena com vários telões, banheiros e serviços.
Diferente do resto das aglomerações presenciadas pela Alma Preta nas entradas montadas para ao evento às margens do Sena, a maioria das pessoas no local era de franceses. Houve vaias a Macron, aclamação a Zidane e entusiasmo generalizado com as imagens da delegação francesa nos telões.
Acontece que, às margens do Sena, nas plataformas altas, locais de acesso gratuito foram liberados para aqueles que não conseguiram acesso aos ingressos pagos. As autoridades francesas e diversas entidades envolvidas na organização dos Jogos Olímpicos prometeram distribuir cerca de 222 mil ingressos, conforme a agência Reuters. Os cerca de 100 mil pagantes do evento ocuparam diversas arquibancadas nas plataformas baixas e nas pontes ao longo dos seis quilômetros de percurso da cerimônia.
Sarr Bassirou, senegalês e motorista de caminhão, foi um dos que conseguiram acessar as plataformas altas. Ao lado da esposa e da filha, Bassirou acompanhou a cerimônia ao lado dos Jardins das Tulherias, em frente ao Museu do Louvre.
O senegalês, que já viveu na Espanha, disse estar animado para acompanhar o país durante as competições e demonstrou satisfação por assistir à solenidade. Bassirou falou à Alma Preta a apenas alguns minutos da passagem da tocha olímpica no local. A pira olímpica foi acesa a poucos metros dali.
“A cidade está maravilhosa. Está chovendo, mas não importa, nós queremos estar aqui.”