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O time vencedor do Brasil tem a Alma Preta

Pela primeira vez na história da mídia negra independente, um veículo periférico montou uma estrutura para a cobertura dos jogos olímpicos
Os profissionais da Alma Preta, Vinícius Martins, Elaine Silva, Solon Neto e Iacy Correa, posam diante da Torre Eiffel.

Foto: Alma Preta

11 de agosto de 2024

A mulher brasileira, especialmente a mulher preta, sai consagrada de Paris como a cara do time vencedor do Brasil. Rebeca Andrade se tornou a maior medalhista brasileira de todos os tempos. Beatriz Souza volta para Iriri, sua cidade natal, com duas medalhas no peito, uma de ouro e outra de bronze. Ana Patrícia, que fez dupla com Duda no vôlei, ganhou o ouro e se vingou dos ataques de ódio depois da derrota nos jogos de Tóquio. Todas essas histórias vencedoras foram contadas de perto pela Alma Preta.

Pela primeira vez na história da mídia negra independente, um veículo vindo da periferia montou uma estrutura de gente grande para a cobertura de uma edição de jogos olímpicos. Um time de quatro correspondentes viajou para a cidade sede dos jogos e cobriu ao vivo os principais eventos esportivos. Além do Esporte, a audiência da Alma Preta pode conhecer um pouco mais de perto a realidade de Paris e seus arredores.

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Enquanto a cidade-luz fervilhava com centenas de competições esportivas e recebia turistas do mundo inteiro, em Montreiul, uma casa na Zona Leste de Paris, o clima também era quente, mas pela intensidade das discussões de temas e assuntos que seriam mostrados nas diversas plataformas da Alma Preta. A casa foi a sede do portal durante os jogos. Foi de lá que a equipe comandada pela Elaine Silva mandava os textos, vídeos e fotos produzidos nos jogos. Solon Neto e Vinicius Martins, credenciados pelo COB, conheceram de perto lugares históricos.

Na Praça da Concórdia, onde cabeças rolaram durante a Revolução Francesa, Rayssa Leal ganhava a primeira medalha do Brasil nos jogos. As manobras de Rayssa no skate encantaram o mundo e os juízes. Quando ela deu sua primeira entrevista, Solon Neto estava lá. Perguntada sobre a força da mulher negra, “nós somos diferentes”.

Em Saint Denis, no Stade de France, Vinicius Martins acompanhou as principais competições do atletismo. No estádio, que ficou famoso pelo piripaque do Ronaldo Fenômeno, na final onde o Brasil perdeu a Copa do Mundo de 1998 para a França, Vinicius Martins viu e registrou com suas lentes, o bronze conquistado pelo Alison dos Santos, o Piu.

No dia seguinte ao ouro no judô, Beatriz Souza conversou em separado com Solon Neto e Elaine Silva. “Espero estar abrindo portas”, disse a judoca falando sobre o racismo, saúde ambiental e pelo maior investimento no Esporte. A mineira Ana Patrícia desabafou depois da conquista do ouro no vôlei de praia. E mais uma vez Solon Neto estava lá.

E não foram só os atletas desta edição dos jogos que tiveram suas histórias contadas na Alma Preta. Formiga e Michael Jackson, ex-atletas do futebol feminino deram as caras na Casa Brasil, onde brasileiros se reuniam em Paris para assistir às competições nos telões. As duas falaram sobre o preconceito que sofreram enquanto mulheres e negras num esporte que no Brasil até bem pouco tempo só homens podiam praticar.

Falando em futebol, as meninas do Brasil deram show. Chegaram numa final imprevista por todos os especialistas em desempenho do Time Brasil. Ficaram com a prata. Poderia ser ouro, mas foi uma despedida digna para o time de Marta e companhia. E nas arquibancadas do Parque dos Príncipes, testemunhando tudo isso, a Alma Preta se fez presente. Elaine Silva viu tudo ao vivo.

Elaine Silva estava presente também em um dos grandes momentos do Brasil nestes jogos. Ela e Iacy Correia, a quarta integrante do time Alma Preta, viram a final do salto. Rebeca ganhou a medalha de prata, só perdendo para a multicampeã Simone Biles. E no Instagram da Alma Preta os quase 700 mil seguidores puderam acompanhar quase ao vivo os saltos de Rebeca e Simone através dos stories postados pela Iacy Correia.

Para o time Alma Preta, a França não era novidade para Iacy Correia. Há seis anos vivendo em Marselha, oito horas ao Sul de Paris, Iacy Correia era a única que falava francês. E suas habilidades na língua materna de Aimé Césaire foram fundamentais em algumas entrevistas com pessoas humildes e moradoras da periferia. Iacy Correia contou também em primeira pessoa como é ser imigrante na França. Nas sombras da Torre Eiffel está uma Paris real, onde os desafios para quem vem de fora são muitos.  

Solon Neto e Vinicius Martins muitas vezes deixaram as competições de lado para ter um outro olhar de Paris. Circularam por vários bairros da periferia e conheceram uma Paris longe de integrar o circuito Elizabeh Arden. Viram de perto como vivem negros, filhos e netos de africanos de países colonizados pelos franceses. Além deles, árabes, asiáticos e muitos brasileiros que habitam as periferias do lado externo da Boulervard Periphérique de Paris.

A cobertura dos jogos olímpicos pela Alma Preta vai além da realização de um sonho de seus criadores. A Alma Preta nasceu em 2015. Foi desenhada em reuniões de uma república universitária entre o Pedro Borges, um dos fundadores, ao lado de Solon Neto, Vinicius Martins, e Vinicius Araújo. Hoje possui uma sede na Zona Leste de São Paulo, tem uma equipe de mais de 30 colaboradores e se destaca como um dos principais veículos de mídia independente no Brasil.

No mundo onde a Internet virou de cabeça pra baixo o modelo de negócios da comunicação, os jornais independentes foram uma rede importante de democratização da informação. Projetos como esse da Alma Preta mostram como é possível e importante coberturas desta natureza. Sonhar é possível e necessário. Para viabilizar a cobertura Paris 2024, a Alma Preta contou com a ajuda da Diversacom, agência de comunicação especializada em sustentabilidade e do grupo Textual Comunicação.

A turma da Alma Preta embarca de volta ao Brasil com muitas memórias na bagagem. Os momentos inesquecíveis que viveram ficaram eternizados em suas mentes. O encontro em São Paulo com Carol Moreno, Nataly Simões, Gabriel Santana, Victor Moura e todos os colegas de equipe será diferente. Um currículo de jogos olímpicos na bagagem não é para qualquer um. E com certeza não vão parar por aqui. Já já tem os jogos paraolímpicos. Que venham novos jogos, copas, festivais. Onde quer que seja o evento uma coisa é certa. Lá estará uma equipe da Alma Preta.

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  • Marcelo Moreira

    Marcelo Moreira é jornalista e sócio-diretor da DiversaCom. Foi repórter do jornal O Dia, Jornal do Brasil e diretor de Jornalismo na TV Globo. Cobriu as Copas do Mundo de 1998, na França; 2006, na Alemanha; 2010 na África do Sul e 2014, no Brasil. E também os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio, em 2016

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