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Paralimpíadas: muito mais que esporte para pessoas com deficiência

O paralimpismo está longe de ser “um esporte de coitados” ou de “sofredores”. Muito longe. É esporte na mais pura essência
Júlio César Agripino comemora vitória nos 5000m nos Jogos Paralímpicos de Paris

Foto: Wander Roberto/CPB

1 de setembro de 2024

Houve um tempo, e até bem recentemente, que o paralimpismo era visto como o movimento que reunia  as modalidades adaptadas a pessoas que tinham uma espécie de válvula de escape para seus problemas e deficiências. Nada mais errado. Tal interpretação, aparentemente simpática aos deficientes, na verdade só impedia ou dificultava a que se compreendesse o esporte paralímpico em toda sua grandeza.   

O paralimpismo está longe de ser “um esporte de coitados” ou de “sofredores”. Muito longe. É esporte na mais pura essência, porque inclui a competitividade, a busca por resultados, regras aceitas internacionalmente, o fascínio, o suor, o sorriso da vitória, a lágrima do insucesso, tanto quanto as modalidades praticadas por pessoas ditas normais.

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Enquanto milhões de pessoas se abatem diante de dificuldades as mais variadas, os atletas paralímpicos são especialistas em transformar em motivação coisas que levariam esses mesmos milhões de pessoas à loucura ou à depressão.

Para se trabalhar com o esporte paralímpico, é cada vez mais essencial a especialização. Se um professor de educação física escolar ou um treinador de time profissional ou de divisão de base tem de conhecer não apenas sua modalidade, mas também precisa ter noções de psicologia e técnicas motivacionais, o mesmo se dá com os treinadores de modalidades paralímpicas. É preciso saber trabalhar com pdeficientes, o que, por muitas vezes, não se aprende nas faculdades. Só na prática. 

Atento a esta questão, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) lançou, no início de 2010, a Academia Paralímpica Brasileira (APB), que visa a desenvolver e a produzir conhecimento científico específico. Em 2012, a APB passou a ser constituída por duas linhas de ação básicas: “Educação e Formação” e “Ciência e Tecnologia. Na primeira, o objetivo é o de formar e capacitar profissionais para se dedicarem às modalidades paralímpicas, como gestão esportiva; comunicação e marketing; classificação funcional; arbitragem; treinamento; saúde; atletas-guias, entre outras áreas. Já o setor “Ciência e Tecnologia” coordena, elabora e executa programas e projetos relativos a esses esportes.

A APB está aberta às consultas por parte de instituições de ensino da área de educação física e de outras pessoas interessadas no tema.  A APB promove de tempos em tempos cursos em três módulos, visando a capacitar técnicos e professores de educação física que desejem treinar atletas paralímpicos, da base ao alto rendimento. O fundamento de cada esporte é o mesmo, mas o treinador paralímpico tem de saber adaptá-lo à realidade da pessoa com deficiência. 

No primeiro módulo, é passado ao aluno tudo sobre as patologias e a classificação funcional. No segundo, o tema é treinamento esportivo, e no terceiro,  o alto rendimento, preparando quem quer trabalhar efetivamente com atletas de alto nível e de seleção brasileira. Além disso, o CPB tem acompanhado de perto as Olimpíadas Escolares, em que é possível pescar jovens talentos. 

No que se refere à infraestrutura para treinamento e preparação, a base é o Centro Paralímpico Brasileiro, no Parque Estadual Fontes do Ipiranga, em São Paulo. Um CT de referência que não existe no esporte olímpico ou convencional do Brasil, o Centro Paralímpico Brasileiro tem alojamentos para 282 atletas e mais instalações para treinos de atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, natação, esgrima em cadeira de rodas, futebol de 5, futebol de 7, golbol, halterofilismo, judô, rúgbi, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, triatlo e vôlei paralímpico (vôlei sentado). Trata-se da quarta instalação do mundo capaz de receber mais de 11 modalidades num mesmo local.     

Texto originalmente publicado no livro “Esporte paralímpico: tornar possível o impossível” (2017), de Cláudio Nogueira.

  • Jornalista Cláudio Nogueira

    Claudio Nogueira, de 59 anos, é jornalista desde 1986, tendo trabalhado no Jornalismo Esportivo desde 1993. Cobriu as Olimpíadas de 2004, 2008, 2012 e 2016, as Paralimpíadas de 2016, a Copa do Mundo de 2014, dois Mundiais de Basquete, cinco edições dos Jogos Pan-Americanos e vários GPs de F-1, F-Indy e Motovelocidade. Autor de diversos livros, como Futebol Brasil Memória, Os Dez Mais do Vasco, Dez Toques sobre Jornalismo e Esporte – Usina de sonhos e de bilhões.

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