Paris – A ginasta Rebeca Andrade é a maior medalhista brasileira da história das Olimpíadas. São seis medalhas empilhadas, sendo duas de ouro, duas de prata e duas de bronze. Em Paris, aos 25 anos, a ginasta alcançou o status de principal atleta olímpica do Brasil. Durante a competição na França, a ginasta foi ouro no solo, prata no geral individual e no salto, e bronze no geral por equipes.
Aliado à história de competência, a atleta também conquistou a torcida brasileira com seu carisma. O país parou em vários momentos para acompanhar a competição por medalhas contra o fenômeno estadunidense Simone Biles e foram inúmeras as mensagens de apoio e carinho dos brasileiros à ginasta ao longo das Olimpíadas.
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Em meio ao sucesso olímpico regado à crescente popularidade da ginasta, a Alma Preta participou de uma coletiva com a atleta na Casa Brasil — sede do time olímpico brasileiro, em Paris. A ginasta comentou sobre as conquistas, falou sobre carreira, treinamento e o sucesso das mulheres negras nessa edição dos Jogos Olímpicos.
Ao longo da coletiva, a atleta ressaltou o papel da equipe no seu entorno, lembrou que superou cirurgias no passado e reforçou a importância do apoio de sua psicóloga e de familiares nesse processo. Andrade apontou que tinha o ouro como objetivo nessa Olimpíada, mas reafirmou que não pretende seguir competindo no solo devido ao desgaste físico.
‘Os pretos sempre mostraram a sua capacidade’
Nas Olimpíadas de Paris, o desempenho de atletas mulheres e negras brasileiras foi destaque. As três medalhas de ouro do Brasil vieram delas. Além de Rebeca Andrade, também chegaram ao topo do pódio Beatriz Souza, no judô, e a dupla Ana Patrícia e Duda, no vôlei de praia. Das 20 medalhas conquistadas, 12 são femininas. Das quatro medalhistas de ouro, três são negras.
“Acho que os pretos sempre mostraram a sua capacidade, mas essa Olimpíada está sendo uma Olimpíada em que isso está tendo muito mais visibilidade. A gente conseguiu mostrar, sim, que a gente pode alcançar, que a gente pode chegar. Ser uma mulher preta no Brasil é algo que me orgulha muito”, disse a ginasta Rebeca Andrade à Alma Preta durante a coletiva.
A atleta revelou ainda que se emociona ao ver publicações sobre ela nas redes sociais e disse que é gratificante se tornar uma figura conhecida também fora do Brasil. Andrade foi reverenciada por figuras de fama internacional, tais como a atriz Viola Davis e a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama. A ginasta multicampeã afirmou que sentiu seu orgulho transbordou também para a torcida.
“Sinto que as pessoas também sentem esse orgulho, independente do meu resultado, sabe? Vi muitos comentários falando isso. ‘A gente está torcendo muito por você, mesmo que não tenha medalha, a gente está com você’. Isso, para mim, foi algo que mudou a minha forma de ver, até mesmo de competir. Eu me senti orgulhosa, simplesmente por vestir meu collant e estar aí representando o meu país.”
Ginasta diz que aprendeu com a mãe a ‘não abaixar a cabeça’ diante do racismo
Figura frequente nas entrevistas da atleta, Rosa Santos, a mãe de Rebeca Andrade, foi lembrada pela ginasta na resposta à Alma Preta. Santos criou sozinha a filha em Guarulhos (SP) e foi apontada por ela como um pilar para lidar com situações de preconceito.
“Nunca vi a minha cor como algo que fosse me impedir de realizar as minhas coisas. Isso foi algo que me foi ensinado dentro de casa. Minha mãe é uma mulher branca que criou oito filhos pretos, então ela sempre se posicionou da melhor maneira possível e ensinou a gente a nunca abaixar a nossa cabeça quando alguém fala alguma coisa ou faz alguma coisa com a gente por causa da nossa cor. Então sempre fui muito forte.”
Rebeca acredita que a formação familiar lhe garantiu um ambiente seguro e confiança na vida pessoal e na carreira. A atleta diz que nunca passou por situações de racismo no esporte, mas lembra que sofreu por situações que ocorreram com seus irmãos.
“Acho que dói até mais do que se tivesse sido comigo, porque é muito mais difícil quando você vê alguém que você ama passando por uma situação complicada como racismo”, contou a campeã olímpica, ressaltando que a família é sua referência como ser humano e profissional.
A atleta encerrou a resposta com uma mensagem sobre a presença de pessoas negras em lugares de destaque.
“A gente não pode aceitar [o racismo], as pessoas também vão ter que ver que a gente vai estar no topo, sim. É preto no topo e pronto”.