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Afro Memória: 40 anos da candidatura de Milton Barbosa, a primeira do MNU

Fundador do Movimento Negro Unificado e do Partido dos Trabalhadores, Milton Barbosa concorria ao cargo de deputado federal pela primeira vez em 1982

Imagem mostra cartaz da campanha de Milton Barbosa à Câmara dos Deputados em 1982.

Foto: Imagem: Divulgação/Acervo Soweto Organização Negra/Arquivo Edgar Leuenroth/Unicamp

30 de setembro de 2022

Milton Barbosa concorreu pela primeira vez a deputado federal pelo estado de São Paulo em 1982. Aquela foi a primeira eleição depois de anos de Ditadura Militar e marcou o início do período de redemocratização no Brasil. Milton concorreu ao cargo pelo, então recém criado, Partido dos Trabalhadores (PT), do qual é um dos fundadores. 

A vida de Milton foi notoriamente marcada pela atuação política. Foi militante durante o período em que cursou a faculdade, fez parte do Sindicato dos Metroviários e militou junto ao movimento negro. Em 1978, ele presidiu o ato público de fundação do Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (MUCDR), atual Movimento Negro Unificado (MNU), onde ocupou as posições de Coordenador Estadual, em São Paulo, membro da Coordenação Nacional, coordenador de Relações Internacionais e coordenador nacional de Formação Política e Organização.

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Naquele momento, o principal objetivo da candidatura era marcar posição. Apesar de ter uma trajetória política singular junto aos movimentos sindical e negro, Milton Barbosa nunca conseguiu ser eleito. Em uma entrevista para o Memorial da Resistência de São Paulo, ele afirma que “Nós sempre cobramos que uma das prioridades deveria ser os marginalizados, a população negra, que é vítima do racismo e majoritariamente pobre. E não se investiu nisso. Esse foi o grande fracasso da esquerda”.

Na época, assim como hoje, eleger representantes negros era fundamental para a reinvindicação de direitos e políticas públicas para a população negra. No entanto, já se tinha em mente que ocupar as instituições políticas recém criadas não seria suficiente para a conquista da igualdade. 

“O fato de elegermos governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores pelo voto direto é importante. Mas é preciso que tenhamos claro que essas eleições não irão alterar e resolver a situação do povo brasileiro e em particular, da comunidade negra. Essas eleições devem ser vistas como um instrumento e um momento importante na organização e politização de todos nós que hoje lutamos pelo fim desse regime ditatorial que tanto nos tem oprimido”, diz nota do Grupo de Apoio à Eleição de Milton Barbosa para Deputado Federal pelo Partido dos Trabalhadores (Acervo Milton Barbosa).

Milton Barbosa 1Cartaz da campanha de Milton Barbosa à Câmara de Deputados pelo PT-SP. | Imagem: Divulgação/Acervo Soweto Organização Negra/Arquivo Edgar Leuenroth/Unicamp

O envolvimento de Milton na política e luta por direitos começou no período em que ele cursou economia na Universidade de São Paulo. Nessa época, ele fez parte do Centro Acadêmico da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis e se tornou militante da Liga Operária em oposição ao regime ditatorial. Milton deixou a universidade em 1976 para se dedicar ao Movimento Negro. 

Dentro do Partido dos Trabalhadores, Milton fez parte do Diretório Regional e criou a Primeira Comissão de Negros do PT em São Paulo junto a outros ativistas como Clovis de Castro e Fátima Ferreira. Dois anos depois da sua candidatura à deputado, foi presidente de honra na Convenção Nacional do Negro onde foram elaboradas as principais propostas de criminalização do racismo. Hoje, Milton ocupa o cargo de Coordenador Nacional de Honra do MNU. 

Em julho de 2019, Milton Barbosa doou os registros que guardou durante toda a vida para o Projeto Afro Memória, que trabalha na preservação da história dos movimentos antirracistas. Agora, os documentos (que incluem atas de reuniões, cartazes, documentos institucionais do MNU e outros) compõem o Acervo Milton Barbosa, que será disponibilizado para consulta pública em breve.

Leia também: Propostas para a população negra: quem assume esse compromisso?

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