A Anistia Internacional apresentou na quinta-feira (29) o relatório “Quando a água toma tudo” ao deputado estadual Matheus Gomes (PSOL-RS), na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O documento analisa a atuação dos governos municipal, estadual e federal diante das enchentes que afetaram o estado entre abril e junho de 2024.
A organização alerta para a ausência de foco na população atingida e critica a gestão centralizada dos recursos no Fundo do Plano Rio Grande (FUNRIGS).
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De acordo com a diretora executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck, o processo de reconstrução não tem contemplado o apoio permanente às comunidades afetadas. Segundo ela, os governos reproduzem lógicas antigas e ineficazes diante da gravidade dos impactos climáticos. “Nos parece muito claro que a reconstrução feita pelos governos tem sido mais do mesmo”, afirmou segundo nota para imprensa.
O deputado Matheus Gomes, que recebeu o relatório, também criticou o FUNRIGS. Para o parlamentar, embora o fundo tenha um conselho com aparência democrática, as decisões ignoram o conhecimento científico e a participação dos movimentos sociais. “A maior dificuldade hoje é conseguir incidir sobre os recursos”, declarou.
Monitoramento e articulação para ações futuras
Jurema Werneck informou que a Anistia Internacional planeja visitas regulares ao estado gaúcho nos próximos meses para acompanhar a aplicação das recomendações do relatório. A iniciativa também antecipa a realização da COP 30, prevista para acontecer em novembro em Belém (PA), na qual os eventos climáticos extremos vividos pela população do sul do país devem ocupar papel central.
Durante o encontro, a Anistia Internacional e o mandato de Matheus Gomes também discutiram a articulação de ações conjuntas em outras frentes. Entre os temas abordados estiveram o combate à violência policial, o apoio aos povos de terreiro, políticas para enfrentar a desigualdade socioeconômica da população negra no estado e o enfrentamento ao trabalho análogo à escravidão.
O relatório entregue propõe a adoção de medidas que assegurem transparência, participação social e justiça na alocação dos recursos para reconstrução.
A Anistia Internacional defende que o processo precisa ser estruturado em escuta ativa às comunidades afetadas, com foco na reparação de desigualdades históricas, especialmente aquelas que atingem de forma desproporcional a população negra e periférica.