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‘COP 30 sob gestão de Helder Barbalho será fechada para o povo’, diz Vivi Reis, vereadora eleita em Belém

Vivi Reis é uma das duas mulheres negras eleitas para a Câmara Municipal de Belém para os próximos quatro anos
Vivi Reis, vereadora do PSOL eleita em Belém.

Foto: Divulgação

9 de outubro de 2024

A educadora popular Vivi Reis (PSOL) foi uma das 35 pessoas eleitas para a Câmara Municipal de Belém (PA) no último domingo (6), com 6.956 votos. Vivi e Neia Marques (PT) serão as únicas mulheres negras de esquerda na próxima legislatura.

Os números mostram uma redução em relação à 2020, quando foram eleitas três parlamentares negras de esquerda: Vivi, Lívia Duarte (PSOL) e Bia Caminha (PT). Posteriormente, Lívia se tornou a primeira deputada estadual preta do Pará. Já Caminha disputou à reeleição, mas não obteve êxito.

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Nas últimas eleições, além de Vivi e Neia, só uma outra mulher de esquerda foi eleita para a Câmara Municipal de Belém: a ex-senadora Marinor Brito (PSOL). 

Apesar da redução do campo feminino negro de esquerda, a Câmara de Vereadores da cidade terá um número recorde de mulheres: dez das 35 cadeiras, mas a maioria se identifica com o campo politico da direita. Segundo Vivi, “muitas delas estão ligadas a pautas que reproduzem opressões e exclusões”.

Além disso, o debate ambiental deve ser o protagonista dos próximos anos em Belém, já que a cidade se prepara para receber a COP 30, em novembro de 2025. O governador Helder Barbalho (MDB), inclusive, tem enfrentado críticas por encabeçar projetos que vão na contramão das propostas do evento da ONU.

“A COP 30 em Belém, sob a atual gestão de Helder Barbalho, será um evento fechado para o povo, com foco em grandes projetos que apenas beneficiam o agronegócio e os setores empresariais que destroem a Amazônia”, afirma a vereadora eleita, em entrevista à Alma Preta.

Confira a entrevista completa:

Alma Preta:⁠ ⁠O que a sua vitória representa no contexto dessas eleições municipais em Belém?

Vivi Reis: Isso é uma expressão da resistência e transformação. Nossa vitória reflete a força coletiva, que clama por políticas públicas comprometidas com a classe trabalhadora e com as nossas vidas. 

Nossa vitória é a materialização nas urnas do sentimento de parte da população de Belém que clama por uma mudança estrutural. Ela representa a luta das mulheres negras, da comunidade LGBTQIA+, da periferia e de todos os trabalhadores que não se sentem representados pelos velhos esquemas de poder. 

Chegar à Câmara sendo o corpo político que sou, uma mulher negra, periférica, a primeira da família a estudar em uma universidade pública, bissexual, defensora dos direitos humanos, antifascista e de esquerda, é uma resposta sobre a necessidade de ter mais pessoas como nós ocupando espaços historicamente negados a nós.

Alma Preta: Quais serão as principais pautas a serem levantadas pelo seu mandato na Câmara na próxima legislatura?

Vivi Reis: Nosso mandato estará na linha de frente da defesa do meio ambiente, da Amazônia e de seus povos, da defesa intransigente dos direitos das mulheres, da comunidade LGBTQIA+, da população negra e da periferia. Isso tudo perpassa pelo fortalecimento das políticas públicas que atendam a maioria da população, com o fortalecimento do SUS e no combate à desigualdade de acesso aos serviços de saúde, o fortalecimento da educação pública gratuita e de qualidade, do combate às desigualdades e opressões e com iniciativas legislativas e concretas voltadas para a garantia de direitos para o povo de Belém. 

Além disso, pretendemos propor iniciativas que ampliem a participação popular nas decisões políticas, garantindo que a população periférica e marginalizada tenha voz nas decisões da cidade.

Alma Preta: Quais serão os seus principais desafios diante da composição eleita da Câmara?

Vivi Reis: Um dos maiores desafios será lidar com uma composição legislativa que ainda é majoritariamente conservadora e alinhada com interesses econômicos que não refletem as necessidades da população trabalhadora. A quantidade expressiva de setores da direita e da extrema direita ocupando esse lugar nos traz a necessidade maior de seguirmos firmes nas nossas posições. 

Mesmo com o aumento de mulheres eleitas, muitas delas estão ligadas a pautas que reproduzem opressões e exclusões. 

Será um desafio construir alianças estratégicas, mas confio na força do diálogo com os movimentos sociais e a sociedade civil para avançar nas pautas que defendemos. A organização popular será crucial para pressionar e garantir que os direitos conquistados não retrocedam.

Alma Preta:⁠ ⁠2025 é ano de COP 30 em Belém. Sob qual perspectiva esse debate será tratado pelo seu mandato? 

Vivi Reis: Primeiramente, é importante reafirmar que a COP 30 em Belém, sob a atual gestão de Helder Barbalho, será um evento fechado para o povo, com foco em grandes projetos que apenas beneficiam o agronegócio e os setores empresariais que destroem a Amazônia. O governo de Barbalho tem se aliado a setores que promovem o desmatamento e o avanço do agronegócio sobre áreas protegidas, contribuindo para o agravamento da crise climática. 

Precisamos transformar a COP-30 em um espaço de mobilização popular e resistência, pautando a justiça climática com seriedade e compromisso real com os direitos das comunidades amazônicas. Não podemos permitir que o agronegócio e os ‘empresários do fim do mundo’ usem o evento para vender uma falsa imagem de sustentabilidade enquanto continuam explorando e destruindo nossas florestas.

Nosso mandato estará ao lado das mobilizações e da Cúpula dos Povos, garantindo que as vozes da população amazônica sejam ouvidas. Vamos fiscalizar as obras e investimentos relacionados à COP-30, exigindo que não fiquem restritos ao centro da cidade ou sirvam apenas aos interesses empresariais. 

A população precisa ser protagonista desse processo, e nossa atuação será voltada para assegurar que suas demandas sejam atendidas. É urgente combatermos o negacionismo climático e exigirmos ações concretas que protejam a Amazônia e garantam um futuro sustentável para todos nós.

Alma Preta: Na legislatura anterior, foram eleitas três mulheres negras e seis mulheres. Esse ano houve um crescimento de mulheres, mas no espectro político da direita. O que isso representa?

Vivi Reis: O aumento de mulheres na política é, sem dúvida, um avanço, mas não podemos nos iludir quanto à agenda que essas mulheres representam. Para nós, não basta ser mulher e não ter um programa político afinado com as lutas pelo combate às opressões de gênero, raça e classe. 

O fato de muitas delas serem de direita mostra que a disputa de projetos políticos vai além do gênero. Essas mulheres, muitas vezes, defendem pautas conservadoras e excludentes que vão na contramão da luta feminista e antirracista que nós, mulheres de esquerda, travamos. 

Isso reforça a necessidade de continuar fortalecendo a consciência de classe e raça dentro dos movimentos, para que nossa presença nos espaços de poder esteja sempre atrelada à defesa de direitos e à luta por um mundo livre das opressões.

Alma Preta:⁠ ⁠Sua eleição foi destaque como uma das mais expressivas de Belém. Qual sua leitura sobre isso?

Vivi Reis: Nossa eleição reflete o cansaço da população com a velha política e o desejo por uma representação genuína que esteja ao lado do povo que luta. Ser uma mulher negra, bissexual e periférica dentro da política não é fácil e nossa vitória trás um respiro de esperança na construção de uma política diferente. 

Além disso, os espaços institucionais não nos podem limitar, seguiremos nas ruas em luta por um Belém com justiça social e mais direitos para a população que batalha. Acredito que essa votação é resultado do trabalho coletivo de muitos movimentos sociais que vêm lutando por justiça social, igualdade de direitos e uma cidade mais inclusiva. 

Essa expressividade reforça que as pessoas acreditam no nosso projeto político e na possibilidade de uma política que de fato transforme a vida das pessoas. Isso aumenta a responsabilidade do nosso mandato, que será pautado pela escuta, pelo compromisso com a luta popular.

  • Fernando Assunção

    Atua como repórter no Alma Preta Jornalismo e escreve sobre meio ambiente, cultura, violações a direitos humanos e comunidades tradicionais. Já atua em redações jornalísticas há mais de três anos e integrou a comunicação de festivais como Psica, Exú e Afromap.

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