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Para especialistas, vitória de Lula não representa o fim do bolsonarismo

Cientistas avaliaram que o perfil do bolsonarista mudou de 2018 até agora e que os partidos progressistas devem investir em um quadro de pessoas negras efetivo para se tornar mais competitivo para o pleito de 2022

Imagem: Marcos Corrêa/PR

Foto: Imagem: Marcos Corrêa/PR

4 de maio de 2022

A cerca de cinco meses das eleições, diversas pesquisas apontam o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) como favorito para a vaga presidencial. Segundo órgãos como DataFolha, PoderData, Ipec e Ibope, o petista ganharia a corrida eleitoral desbancando o seu principal opositor, o atual chefe de Executivo, Jair Bolsonaro, ainda no primeiro turno.

No entanto, de acordo com especialistas entrevistados pela Alma Preta Jornalismo, apesar de uma conjuntura mais favorável ao povo negro, o bolsonarismo ainda é forte e seu eleitor mudou de perfil.

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Recentemente, um estudo mostrou que, até em redutos bolsonaristas, Lula começa a despontar como principal candidato. Contratado pela Rede Gazeta, o Ipec ouviu 608 eleitores do Espírito Santo entre os dias 28 de abril e 1º de maio e mostrou que, no estado, o ex-presidente tem 45% das intenções de voto contra 32% de Bolsonaro. Porém, com a desistência do ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro à vaga ao Executivo, Bolsonaro se aproximou de Lula em cerca de 5 pontos.

De acordo com a Cientista Política e consultora de Inteligência Eleitoral de Raça e Gênero da Elas no Poder, Nailah Neves, o bolsonarismo ainda é forte e representa várias ideologias que estão presentes há muito tempo no Brasil. A especialista afirma que o Brasil é um país racista, machista, LGBTfóbico, mas que nessas eleições há uma mudança no eleitorado de Bolsonaro.

“Nem todo eleitor de Bolsonaro, em 2018, era bolsonarista. Temos uma parte do eleitorado que caiu em fake news, que simplesmente era antipetismo e viu em Bolsonaro a única alternativa, mas agora conheceram Bolsonaro, sentiram o impacto das ações e principalmente das não ações do governo”, relata Nailah. A cientista salienta que a perda desse eleitorado pode provocar, nos que são bolsonaristas, a tendência de espalhar “mais fake news para causar medo e insegurança”. 

Carlos Jacomes, também cientista político, reitera que as eleições ainda não estão definidas e, por Bolsonaro ser o atual presidente em exercício, “isso faz com que ele tenha a máquina pública ao seu favor”. O especialista considera que um  exemplo de como a máquina pode estar sendo utilizada para fins eleitoreiros é “a liberação do saque extraordinário do FGTS e o aumento do piso do auxílio emergencial para 400 reais, somente até o final de 2022”. 

“Esses movimentos deixam evidentes a tentativa de tentar reparar os danos de seu governo em ano eleitoral para minimizar a rejeição de seu governo apresentada nas pesquisas”, declara Jacomes.

Sobre a ação do campo progressista no Parlamento para, quem sabe, garantir uma possível eleição de Lula e uma derrota do presidente Bolsonaro eles são unânimes em dizer que a estratégia tem sido de contenção do retrocesso social, tendo em vista que a agenda do Congresso está alinhada com a agenda do governo. 

“O principal instrumento utilizado pela esquerda atualmente tem sido a judicialização de questões avalizadas pelo Congresso. Apesar do pouco espaço de atuação, as ferramentas regimentais estão sendo utilizadas para atrasar votações importantes nas Casas”, afirma Carlos Jacomes. 

Nailah Neves argumenta que é por isso que o bolsonarismo ataca o Judiciário, pois “dos três poderes, apenas o judiciário não é controlado por sua ideologia”. Para ela, o judiciário está fazendo o contrapeso que é exigido numa democracia. 

“O foco na diversidade de gênero, raça e etnia é feito por mulheres, negros e indígenas de partidos de esquerda, mas não necessariamente é uma prioridade das legendas. A mobilização e provocação é mais de indivíduos e movimentos sociais com apoio de partidos de esquerda”, diz a especialista.

Segundo o Observatório Equidade no Legislativo, quando se analisa a composição étnico-racial dos deputados federais eleitos para a legislatura vigente, 125 desses se autodeclaram negros (104 pardos e 21 pretos), o que corresponde a 24,3% do total. Os brancos chegam a 75%. No Senado, apenas quatro senadores que se autodeclararam negros, todos homens – senador Romário, senador Weverton Rocha, senador Mecias de Jesus e senador Paulo Paim.

A composição étnico-racial nos outros Poderes da República é ainda mais preocupante. No Judiciário, mais especificamente no Supremo Tribunal Federal (STF), há apenas duas mulheres e nenhuma negra ou negro entre os 11 ministros da Corte. No Superior Tribunal de Justiça, composto por 33 ministros, há apenas seis ministras, das quais nenhuma é negra, e apenas um é negro, o ministro Benedito Gonçalves.

Na visão dos cientistas, a conjuntura das eleições mais favorável para o povo negro brasileiro, tanto para o Executivo quanto para o Parlamento, é um cenário com a presença negra efetiva nos diretórios dos partidos tomando decisões. Mesmo reconhecendo que este é um momento mais favorável, eles avaliam que as legendas devem investir em quadros negros nos diretórios e no comamdo estratégico das campanhas e do próprio partido para sair dos “achismos e promessas”.

“Não adianta ter nomes de candidaturas negras se elas não são competitivas. Nestas eleições iremos testar o impacto do peso 2 nos recursos financeiros recebidos pelos partidos pelos votos em candidaturas negras e femininas. Por enquanto estamos vendo mais pré-candidaturas, com apoio e visibilidade dos partidos, de mulheres negras, trans e indígenas, mas pré-candidatura não é candidatura e também não garante que serão eleitas, precisamos observar como estas candidaturas serão trabalhadas pelos partidos durante a eleição mesmo”, conclui Nailah Neves.

Leia mais: Dos 90 diplomatas brasileiros em África, apenas um é negro

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