Em outubro deste ano, a cidade do Rio de Janeiro elegeu seus representantes para a Câmara dos Vereadores. Entre as 51 vagas, cinco serão preenchidas por candidaturas negras eleitas em legendas de esquerda. No entanto, a disputa eleitoral interrompeu importantes mandatos para a comunidade negra fluminense. A vereadora e ativista de longa data pelos direitos humanos Monica Cunha (PSOL) é uma das parlamentares negras que não estarão presentes na próxima legislatura.
Em entrevista à Alma Preta, a detentora do mandato autodenominado como “Bonde Antirracista” explica que sua articulação continuará além do Palácio Pedro Ernesto, sede do Legislativo do município.
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“Estar vereadora foi importante não somente para entender que é possível ver nossas lutas realizadas em projetos de lei e políticas públicas, mas principalmente para deixar evidente que familiares de vítima do Estado, mulheres negras, defensores de direitos humanos e classe trabalhadora podemos ser as protagonistas dessas mudanças.
Agora é seguir em luta e incidência, mesmo durante esse tempo que não estarei dentro dessa casa legislativa”, explicou a parlamentar.
De início, a educadora social ressaltou que, independente do resultado das urnas, seu trabalho de combate ao racismo e ao genocídio da população negra não será interrompido. A busca por condições dignas de vida, ao qual a vereadora chama de “Bem Viver”, também continuará pautando sua atuação.
Inserida na política institucional por incentivo de Marielle Franco, a ativista deixará sementes para os próximos quatro anos, como a Comissão de Combate ao Racismo (CCOR). Até o momento, a entidade já ouviu mais de 300 especialistas da temática e construiu 80 recomendações para “uma cidade efetivamente antirracista”.
Entre as políticas conquistadas em seu mandato, a cidade do Rio herdará o Programa de Atenção Psicossocial às Vítimas da Violência Armada, a Frente de Afrofuturismo, a aprovação do Dia do Jongo e a Semana Municipal em Memória das Vítimas da Violência Armada.
Além da representatividade de gênero e raça, o trabalho de Monica Cunha simboliza um pilar na luta de mães e vítimas atingidas pela violência policial no Rio. A fundadora do Movimento Moleque, organização que apoia mães de crianças vítimas do Estado, compartilha a preocupação com sua segurança a partir de agora. Mesmo incluída no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, ela garante que “abrirá caminhos”.
A ativista também citou a preocupação com uma possível descontinuidade das políticas iniciadas em seu mandato. “Em uma realidade com a bancada do PSOL Rio reduzida, um Centrão que se amplia para compor a base governista, será ainda mais difícil construir oposição à necropolítica de Eduardo Paes [PSD]. Mas seguirei em trabalho”, indica a vereadora.
O futuro trabalho referido por Monica Cunha também contará com a coletividade de seus colegas de legenda, ao qual classificou como “corajosos, competentes e comprometidos”. A vereadora entende que, com a ampliação do centro e da extrema-direita nos legislativos, será desafiador articular estratégias em prol das comunidades negra e periférica.
“O risco de perdas e retrocessos é absurdo. A começar pela provável aprovação do armamento da Guarda Municipal. A bancada do PSOL na Câmara e a esquerda, precisarão estar ainda mais alinhadas e próximas à população para fazer barreiras aos retrocessos de Paes e da extrema-direita. A nosso favor, nós da luta popular temos que conseguir ultrapassar ainda mais a barreira do silêncio e cada vez mais conhecermos a forma de funcionamento do que pretende nos matar. Não vão nos parar”, conta Monica Cunha.
A ativista ainda lembra que sua participação no legislativo não terminou, e que há propostas para serem aprovados até o final deste ano, como o projeto de lei que pretende obrigar estabelecimentos a disponibilizarem água potável e sanitários para entregadores de aplicativo.
“Até o final da legislatura, também trabalhamos: pela aprovação do projeto que visa estabelecer a Grande Madureira como diáspora da Pequena África; pela criação da campanha e da semana de enfrentamento à violência política de gênero e raça; e pela aprovação da semana e da política municipal de afroturismo”, completa.