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Vereadora de Campinas é vítima de ofensas racistas

As imagens da TV Câmara foram solicitadas para identificar os agressores; Paolla Miguel (PT) afirma que os vereadores da casa lhe prestaram solidariedade e afirmam que ela foi chamada de ‘preta lixo’

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução/Câmara de Campinas

A vereadora Paolla Miguel (PT), durante sessão na Câmara de Campinas (SP)

10 de novembro de 2021

“As pessoas confundem liberdade de expressão com ofender o outro. Isso não podemos mais aceitar ou achar que é piada”. É o que diz a vereadora de Campinas (SP), Paolla Miguel (PT), que foi vítima de xingamentos de cunho racista durante uma sessão na Câmara na última segunda-feira (8).

A ofensa direcionada à vereadora aconteceu durante seu discurso a respeito do desenvolvimento e participação da comunidade negra. Segundo ela, em toda a sessão houveram muitos xingamentos de cunho político, mas no momento em que ela subiu à tribuna pela terceira vez, as ofensas assumiram um outro tom.

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“Logo quando eu comecei, eu ouvi do público ‘é mimimi’’ mas, aos poucos, os comentários ficaram mais violentos. A partir do momento em que eu coloco no discurso os pontos relacionados à intolerância religiosa ou um caso de racismo que aconteceu no trânsito, o vereador e presidente da casa Zé Carlos (PSB) me interrompe e fala que várias coisas estavam sendo ditas ali, ofensas de cunho racista”, relembra a vereadora.

Paolla Miguel comenta ainda que ouvia a palavra “lixo” sendo dita diversas vezes, mas que não conseguia discernir o início das frases. “Logo depois eu voltei para a minha fala, ainda desconcertada, mas por incentivo dos outros vereadores, eu prossegui. Ouvi que isso [ofensas] era liberdade de expressão. Mas ser chamada de lixo não é liberdade de expressão, até porque racismo e injúria racial são crimes inafiançáveis e que não prescrevem”, pondera.

Denúncia

Segundo Paolla Miguel, o presidente do Legislativo, vereador Zé Carlos (PSB), solicitou que as imagens gravadas da sessão pela TV Câmara sejam analisadas, com objetivo de tentar identificar quem fez a ofensa. Ela explica que a maioria dos outros vereadores prestaram solidariedade à ela naquele momento. De acordo com informações, outros vereadores presentes no momento relataram ter ouvido a vereadora sendo chamada de “preta lixo”.

“Isso demonstra o tom que as coisas estavam sendo levadas ali. Das duas primeiras vezes que subi na tribuna não haviam comentários dizendo que era ‘mimimi’ ou vitimismo. Depois de abordar temas raciais, a ofensa começou”, salienta a vereadora.

Paolla Miguel realizou um Boletim de Ocorrência (B.O.) nesta terça-feira (9) e conta que além das imagens fornecidas pela TV Câmara, outros vídeos de pessoas que estavam no local estão sendo solicitadas para contribuir com a investigação. De acordo com ela, os vereadores se prontificaram também a ir depor sobre o ocorrido, pois estavam mais próximos à plateia.

“Eu espero que a gente consiga identificar os autores e puni-los, a fim de mostrar que o racismo não será tolerado. Não dá para a gente achar que isso não é uma prática. O racismo é um método. Não são manifestantes, são agressores”, pontua.

A importância de falar do assunto

“Já sofri racismo em outros momentos da minha vida, mas sempre de maneira mais sutil, no dia a dia, com micro-agressões, como a pessoa trocar de calçada quando me vê, comentários sobre o meu cabelo. Dessa forma, enquanto figura pública, foi a primeira vez. Fiquei desconcertada e sem saber como continuar o discurso”, desabafa a vereadora.

Paolla Miguel salienta que é fundamental que quem sofre racismo denuncie todo e qualquer ato, solicite medidas protetivas e abra boletins de ocorrência, a fim de inibir os agressores. Ela ressalta que o mês de novembro, marcado pela consciência negra, traz mais visibilidade aos fatos, mas que a postura de denunciar deve ser adotada o ano inteiro.

“Me deixa muito triste isso ter acontecido neste mês. Mas, infelizmente, aconteceu e agora me resta levantar a cabeça”, finaliza a vereadora.

Leia também: ‘Movimento negro articula atos na Europa para denunciar Bolsonaro e o racismo no Brasil’

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