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O 8 de março e a escolha de seguir construindo o Movimento Negro brasileiro

é preciso lembrar que, muito antes de qualquer onda antirracista, coube à luta histórica das dezenas de grupos do Movimento Negro e de Mulheres Negras as conquistas que garantiram todos os avanços importantes
Registro de mulheres negras durante manifestação.

Registro de mulheres negras durante manifestação.

— Tânia Rêgo/Agência Brasil

8 de março de 2025

Em tempos de questionamentos sobre a legitimidade e a urgência da pauta racial e de gênero, é fundamental reafirmar o lugar que escolhemos para construir o mundo: as fileiras do Movimento Negro brasileiro. Março também é um mês importante para mim e para os companheiros da Uneafro Brasil, é o mês em que comemoramos oficialmente a nossa fundação, há 16 anos.  De lá pra cá, jamais fui capaz de titubear sobre a necessidade de construção desse movimento. 

A pauta racial, que durante o período recente tinha finalmente tomado grandes proporções, começou, já antes da eleição estadunidense, a entrar em descenso. O Movimento perdera capilaridade em setores que pareciam ter compreendido que a luta pela vida do povo negro era incontornável.

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Embora argumente-se que o processo que levou ao poder Donald Trump e sua agenda política seja responsável pelo esvaziamento da pauta racial, a explicação para isso não é simples e carece de uma leitura aprofundada da conjuntura nacional.

Mas, no caso brasileiro, há pistas importantes que não podemos ignorar: a incapacidade e o descompromisso dos setores progressistas de entenderem verdadeiramente a formação do Brasil e sua conjuntura, o histórico oportunismo da mídia e corporações que trabalharam muito em favor do rebaixamento do debate racial à ideia de representatividade, e a imposição de uma agenda abstrata de defesa da democracia.

São todos esses elementos que me fazem chegar ao 8 de março reafirmando a construção do Movimento Negro como estratégia necessária para a melhora real das condições de vida da população negra, sobretudo das mulheres negras. Afinal, é preciso lembrar que, muito antes de qualquer onda antirracista, coube à luta histórica das dezenas de grupos do Movimento Negro e de Mulheres Negras as conquistas que garantiram todos os avanços importantes: as cotas raciais, a política de saúde da população negra, regulamentação do trabalho doméstico, e tantas outras. 

A Uneafro Brasil, movimento que ajudei a fundar há 16 anos, atua na construção de núcleos comunitários de educação pré-vestibular para meninas e meninos negros e de periferia, incide em políticas públicas visando melhoras nas condições de vida do nosso povo, e denuncia casos de racismo e violência policial.

Junto com outras organizações, batalhamos muito pela política de cotas raciais nas universidades públicas, que completou 10 anos em 2022. Além disso, em 2019, fundamos o Instituto de Referência Negra Peregum, onde tenho a honra de atuar como Diretora Executiva. Desde 2019, o Instituto atua no fortalecimento do campo dos movimentos negros, na denúncia do racismo ambiental e na construção de alternativas para contornar as emergências climáticas, na construção de advocacy estratégico e no fortalecimento de lideranças negras. 

Essas duas organizações de que faço parte pertencem a um ecossistema de organizações do Movimento Negro e de Mulheres Negras que reafirmam diariamente seu compromisso com a transformação radical da sociedade em que vivemos. Essa onda, que tenta nos reduzir a identitarismo, não é nova para nenhum de nós. O que ficará disso, certamente, é a possibilidade de entender quem de fato serão nossos aliados na construção do futuro. 

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  • Vanessa Nascimento

    Vanessa Nascimento é diretora-executiva do Instituto de Referência Negra Peregum e fundadora da Uneafro Brasil.

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