PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

A Dialética do Samba e o Carnaval de 2022

O samba que nasce no interior paulista se organiza e pulsa na capital no início do século XX a partir das irmandades, dos quilombos urbanos, se inicia com os batuques, transita para os cordões e chega nas Escolas de Samba que conhecemos hoje

Imagem: Liga SP 

Foto: Imagem: Liga SP 

21 de abril de 2022

Esse que hoje é conhecido como um dosmaiores espetáculos da terra tem como suas raízes o associativismo negro, formado a partir de quilombos urbanos, que produziu, ao longo dos anos, de forma complexa, formas de integração, descontração e, sobretudo, resistência.

Mesmo com o passar dos anos e as inúmeras transformações e negociações que fizeram do desfile de carnaval o que ele é hoje, essa forma de organização social originalmente negra se reelabora e mantém sua conexão com suas raízes. Seja na liturgia do samba, seja na relação com as religiões de matriz africana. 

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Olhando para o desfile das Escolas de Samba de São Paulo do grupo especial isso fica ainda mais evidente quando observamos que a ampla maioria dos Enredos e Sambas trazem narrativas africanas ou afro-brasileiras. Clementina de Jesus, Carolina Maria de Jesus, Preto Velho,Zé Pilintra, Oxalá, Oxum, Yemanjá, Obaluaê, Sankofa, Mandela, Soweto são exemplos que serão exaltados na avenida.

O samba paulista tem suas raízes no samba rural, no samba de bumbo de umbigada, expressões que surgem no interior do estado como forma de integração e formação de identidade da comunidadenegra, antagônicas à estrutura escravista e mesmo à sociedade competitiva que se forja no pós-abolição e marca a população negra com valores inferiorizados.  

Leia mais: Carnaval 2022: escolas do Grupo Especial do RJ e SP desfilam no mesmo dia

O associativo a partir da cultura, do sincretismo religioso, das festa e dos batuques foi uma estratégia relevante de sobrevivência, de autocuidado, de preservação e até mesmo de resistência. Isso demonstra que as formas de contraposição ao colonialismo e ao escravismo foram múltiplas e complexas. Ao longo da sua produção, mas particularmente no livro Sociologia do Negro Brasileiro, Clóvis Moura desenvolve as categorias grupo específico e diferenciado, contribuindo para uma análise dialética dos fenômenos culturais da comunidade negra brasileira, base para esta análise.  

O samba que nasce no interior se organiza e pulsa na capital no início do século XX a partir das irmandades, dos quilombos urbanos, se inicia com os batuques, transita para os cordões e chega nas Escolas de Samba que conhecemos hoje, sofrendo transformações a partir de um processo dialético, de conflitos, repressão e mesmo negociações e acomodações. 

Não há romantismo, nem desavisados. A estrutura de poder operou, sim, para controlar e acomodar a explosão negra e popular de ocupação das ruas, disciplinou a partir de regras que devem ser seguidas à risca, patrocinou temas, construiu formas de garantir rentabilidade e lucratividade para poucos. Mas é só isso? A casa grande tomou conta de tudo e não sobrou nada? 

 É necessário um olhar dinâmico que aponte os limites, mas também observe as possibilidades, as contradições, as disputas que a própria luta de classe apresenta. As quadras das Escolas de Samba são espaços dinâmicos o ano todo, com trabalhos sociais, e em plena pandemia foram espaço de arrecadação e distribuição de alimentos. A economia do carnaval gera emprego para comunidade inteiras. 

Passados dois anos, após atravessar um dos piores momentos de nossa história com a pandemia e um governo central fascista, ainda teremos um grande desafio eleitoral. Nesse contexto, as Escolas de Samba dão o seu recado e mostram o que a comunidade negra pode oferecer de melhor em suas elaborações históricas, para uma sociedade mais justa.  

*Joselicio Junior, jornalista, editor da Dandara Editora, mestrando da EACH – USP, militante do Círculo Palmarino.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano