O apoio financeiro é sem dúvida a maior dificuldade enfrentada pelas mulheres que escolhem o futebol
Texto / Milena Geovana I Imagem / Divulgação
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“Tem várias dificuldades além da falta de valorização do salário. Como às vezes os treinos, eles não tão nem aí se são perto ou longe, os horários de treino também às vezes é na hora do almoço, então muitas meninas não conseguem nem almoçar, ou por não tem dinheiro ou porque tem que sair cedo de casa para pegar o ônibus, o trem ou a condução. Aí acaba que não almoça e chega lá e passa mal.”
O depoimento é de Giulliana da Fonseca,jogadora de futebol que vive na pele todas as dificuldades que o futebol feminino enfrenta. Ela pratica o esporte desde os 12 anos de idade.
Não é nenhuma novidade falar sobre a diferença salarial entre os gêneros. Quando se trata do meio esportivo, parece que o abismo entre os salários das atletas feminina, em relação ao masculino, aumenta ainda mais.
Segundo dados da revista francesa France Football, Ada Hegerberg, recentemente eleita a melhor jogadora de futebol feminino do mundo, recebe 325 vezes a menos que Lionel Messi, que carrega o mesmo título.
Na seleção brasileira, podemos ver quem são nossos maiores atletas: Marta e Neymar. A brasileira que joga no Orlando Pride, time dos Estados Unidos recebe 340.000 euros (1,47 milhão de reais) por ano. Já Neymar, no Paris Saint Germain, na França, recebe cerca de 91,5 milhões de euros (396 milhões de reais). A diferença é gritante.
Os atletas da seleção são os mais lembrados, e por vezes, tratando-se de reconhecimento do futebol que mostram em campo, Marta tem seis Bolas de Ouro, nível jamais alcançado por qualquer homem. Muitas pessoas justificam em falas como “futebol feminino não enche estádio”, “não dá audiência” .
A prática de esportes para as mulheres é nova no país: fazem apenas 36 anos que as mulheres podem praticar no Brasil, já que de 1941 até 1983 as mulheres eram, por lei, “Incompatíveis por natureza” à prática de esportes.
“Se for falar da maioria do futebol feminino as meninas passam todas as dificuldades. Todas que você possa imaginar, de não ter chuteira, de não ter o que comer, de não ter dinheiro para ir treinar. Às vezes, a mãe, e o pai, acaba dando o dinheiro para a filha poder chegar no treino”, relembra Giuliana.
Ela, que já jogou no Corinthians, Palmeiras, Lazio (Itália ), e no Córdoba (Espanha) confirma a desigualdade nos salários. “Não tem um salário mínimo para uma jogadora de futebol, não tem o mínimo que elas têm ganhar. Não existe isso para o futebol feminino. Então como eu te falei tem meninas hoje que ainda recebem R$ 500”.
Para tentar entender o quão desigual é o quadro, recorremos aos números mais recentes, e publicados pelo jornal Folha de São Paulo, em 2017.
Os atletas da seleção masculina de futebol recebem cerca de R$ 500 reais por dia da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF, enquanto as mulheres recebem a metade desse valor, R$ 250 reais. O valor dessa diária tão baixa foi o motivo para a artilheira, e uma das maiores estrelas da seleção brasileira, Cristiane Souza decidir não usar mais a camisa da seleção em 2017.
Giuliana conta que no futebol feminino, quem ganha bem chega a ganhar no máximo R$5.000 reais por mês, aqui no Brasil. E normalmente, quando eles pagam as atletas elas muitas vezes não chegam a ganhar dois salários mínimos.
Hoje a fisioterapeuta mudou para o Nordeste e pretende jogar no Fortaleza, mas precisa conciliar trabalho e carreira de atleta porque “Não dá para viver bem com o que o futebol feminino paga. Nós mulheres não jogamos por dinheiro, jogamos por amor”.
O quadro que a atleta retrata é a triste e desigual realidade também existente no meio esportivo quando falamos de equidade salarial entre os gêneros. E assim como Giuliana, esperamos que essa realidade comece a melhorar. Por enquanto, podemos fazer a nossa parte, e apoiar mais o futebol feminino no Brasil. Começando por assistir os jogos da Copa que vão até o dia o dia 7, e transformar o evento na festa que ele merece ser.