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Alunos negros da Unicamp convivem com ameaças de morte

16 de agosto de 2018

Pixações de cunho racista e neonazista são encontradas em institutos da Universidade Estadual de Campinas

Texto / Tainá Oliveira
Imagem / Reprodução

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Na quarta-feira (15), alguns institutos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) amanheceram pixados com frases de caráter neonazista e ameaças de um massacre. Entre eles, o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), no qual sou graduanda no curso de letras.

Localizadas principalmente na biblioteca, os escritos feitos com caneta permanente sobre telas de computadores, mesas e paredes do banheiro, representavam suásticas nazistas, pedidos por supremacia branca, e ameaça de um massacre similar ao Massacre de Columbine, ocorrido em abril de 1999, no Colorado, Estados Unidos. O ataque matou doze alunos e um professor e deixou feridas mais de 20 pessoas.

Todos os dias, os estudantes negros da universidade pública sentem de maneira bem intensa o peso do racismo no ambiente acadêmico, seja pela falta dificuldade da aprovação, pelo posicionamento isolado em salas de aulas com maioria branca, pela dificuldade em se manter dentro da universidade, e, em casos mais extremos como este, pelas ameaças explícitas de morte.

Quando desenham suásticas nazistas em nossas paredes e nos ameaçam com uma chacina, estão dizendo que querem todos nós mortos. Como se não bastasse a morte lenta a cada desaparecimento ou morte violenta de um dos nossos; a cada oportunidade negada de ingressar no ambiente branco e acadêmico das universidades.

Aqueles que cruzaram a linha vivem com a certeza diária de que a luta ainda não acabou, por conta das demonstrações racistas de que ali não é o lugar de uma pessoa negra. Essa atitude mostra o quanto a resistência incomoda e que a luta é, também, por sobrevivência.

Quando pedem por supremacia branca, estão gritando aos nossos olhos a ameaça de um fascismo que nunca morreu, contra o qual temos sido combatentes todos os dias só por ainda acordarmos todas as manhãs. Nessa manhã, enquanto negra dentro de uma universidade ameaçada, eu acordei com medo. Medo por não saber quando e qual de nós será o próximo.

Medo por saber que mais do que por um criminoso, hoje fomos ameaçados por um ideal, pela vulnerabilidade que é ser um corpo negro existindo em qualquer lugar, por saber que todas as manhãs eu acordo me preparando pra uma guerra, na qual constantemente aqueles que se parecem comigo são caçados.

A Direção da Unicamp segue apurando o fato e tomando as medidas cabíveis. Imagens de um suspeito foram publicadas. O tema será discutido na Assembleia do Instituto no dia 28 de agosto.

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