Por: Regina Lúcia dos Santos
Volta e meia damos de cara com mulheres negras tendo suas vidas assoladas por esta interação mais do que perversa do machismo e do racismo, mas não só.
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Em alguns casos nos deparamos com mulheres negras violentadas, humilhadas e torturadas por homens negros em suas relações afetivas e familiares. E nós não podemos nos furtar de encarar esta questão, não podemos deixar para lá porque se trata de homens negros.
Nós temos que buscar, enquanto movimento negro e de mulheres negras, uma forma de contribuirmos para desmanchar este não caminho nas nossas relações.
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A comunidade negra e periférica tem que buscar formas de acolher, de dar segurança, física e emocional, de resgatar a mulher em meio aos destroços que uma relação abusiva deixa. E essas formas têm que ser muito cuidadosas, sem julgamentos, sem imposição de regras, sem colocar exigências de nenhuma ordem.
Nos sonhos de uma comunidade pautada pela cosmovisão africana, nós teríamos um conselho de anciãs que pudessem orientar de forma amorosa esse resgate, mas enquanto não podemos efetivar esta utopia, temos que criar nos territórios formas criativas de proteger nossas mulheres como a patrulha do apito da zona norte do Recife ou as Gulabi Gang da Índia para manter nossas mulheres vivas e buscar políticas públicas de atendimento jurídico, psicológico e social.
Aqui um parênteses: no Brasil, não é porque a mulher é negra e militante que ela está livre desta violência. Recentemente, tivemos inúmeros casos de mulheres militantes da área do samba, da educação e da cultura que foram vítimas do machismo de homens brancos e negros.
A boa notícia é que temos visto grupos de homens negros, em vários lugares do país, discutindo as diversas toxicidades da masculinidade.
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*Regina Lúcia dos Santos é coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado, em São Paulo.